Aprovada no início de novembro, a decisão que possibilita o cumprimento de 20% a 30% da carga horária do ensino médio por meio de Ensino a Distância (EaD) é vista com bons olhos por especialistas da Educação. A medida, que consta nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), deve ser efetivada nas escolas a partir de 2020. Segundo educadores, a EaD pode ser ferramenta importante no ensino desde que haja acompanhamento adequado.

A decisão permite que 20% da carga horária seja cumprida por meio de EaD no caso do ensino médio regular e 30% no caso de cursos noturnos. Na prática, em um ensino médio de cinco horas por dia, os estudantes da modalidade regular poderão ter uma hora, ou seja, uma aula por dia, a distância. Na modalidade ensino médio noturno, com quatro horas por dia, 1h12min poderá ser a distância.

A diretriz institui que para a realização das aulas a distância deve haver suporte tecnológico e pedagógico apropriados. A modalidade de ensino é opcional. Assim, não é obrigatório haver aulas a distância caso a escola não considere necessário. Para que a modalidade seja aplicada, estudantes têm de ter necessariamente acompanhamento e coordenação de um professor da unidade onde estão matriculados. Conforme especialistas, só tem como aplicar a EaD para alunos do ensino médio dessa forma.

O vice-diretor do Instituto Universidade Virtual da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Aires, afirma que aplicar a EaD para alunos do ensino médio da mesma forma que é feito para universitários é “complicado”. “Se isso (EaD no ensino médio) vier com um prejuízo para a socialização dos jovens, que é algo de necessidade das fases que eles estão, é algo ruim. Se vier para usar linguagens da tecnologia que os jovens usam hoje, pode ser algo bom”, pondera. O professor afirma não ter ainda certeza de como será aplicada na prática a medida. 

Ele considera que as aulas de discussão são insubstituíveis como presenciais. Porém, para ele, realizar parte das aulas expositivas virtualmente não é negativo, podendo, inclusive, ajudar os alunos, que já vivem conectados. O coordenador da Secretaria de Apoio às Tecnologias Educacionais da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Francisco Fábio Castelo Branco, concorda com a ideia. “Isso para os jovens é interessante. Essa questão de usar partes (do horário de aula) online é importante porque você está entrando no espaço deles”, dialoga.

A coordenadora da gestão pedagógica da Secretaria da Educação do Estado do Ceará (Seduc), Iane Nobre, diz que não há ainda nenhum planejamento de como essa metodologia será aplicada nos colégios de ensino médio do Estado. Conforme ela, a base da diretriz ainda não foi homologada, havendo previsão para isso ocorrer até o fim do ano. Quando homologada, as escolas terão dois anos de preparação antes que a medida seja de fato aplicada - ou seja, isso só deve acontecer em 2020. O prazo vale não apenas para a aplicação da EaD no ensino médio, mas para todas as alterações que compõem o chamado Novo Ensino Médio. 

“Utilizar as tecnologias como um complemento é muito bem-vindo, pode ser uma coisa boa e melhorar muitas questões na educação dos alunos”, analisa Iane. “Que fique bem claro que a gente não acha que aluno de educação básica deva ter tamanha responsabilidade de ter educação a distância sem acompanhamento. O aluno está na escola para mais do que desenvolver conhecimentos. A relação do aluno com a escola é mais importante que qualquer conteúdo que ele possa aprender”, salienta.

A reportagem entrou em contato com o Ministério da Educação (MEC) para mais esclarecimentos sobre a aplicação da medida. A assessoria de imprensa enviou como resposta um release que continha as informações já colocadas neste texto. Informou, também, que a Base Nacional Comum Curricular e as diretrizes "apontam caminhos para que estados e municípios produzam os seus currículos" e que cada município deve determinar a organização com relação à orientação do ensino a distância.    (O Povo)

Post a Comment