Em 1999, quando atuava pelo Saint-Étienne, da França, Aloisio Chulapa rompeu o ligamento cruzado do joelho. A previsão para o retorno era de oito longos meses. No Brasil, Maria das Graças, mãe do atacante, devota do Padre Cícero, que sempre visitava Juazeiro do Norte em época de romarias, fez uma promessa para que o filho voltasse aos campos rapidamente. De Atalaia (AL), terra natal do ex-jogador, trouxe uma escultura de joelho de madeira, o popular ex-voto, que deixou depositada na casa do “padrinho”.  

“Em cinco meses, eu já estava atuando”, lembra Chulapa. Naquele ano, foi um dos destaques do Saint-Étienne e acabou sendo comprado pelo Paris Saint-Germain. Maria retornou à Juazeiro após o “sucesso”, trazendo uma camisa do filho, cinza, terceiro uniforme do clube francês, e uma pequena nota escrita anexada dizendo: “Obrigado meu padrinho Cícero pelas bênçãos e pelas graças recebidas”.  

Sumiço
Quase 20 anos depois, Aloísio retornou a Juazeiro do Norte e foi ao Horto procurar a camisa do Saint-Étienne, resultado da promessa de sua mãe. “Eu vim tirar foto, fazer vídeo, postar para o pessoal da França e de todo Brasil ver”, acredita. Chulapa não localizou a blusa até agora. Sua última esperança é que ela está na Casa-Museu, na Rua São José, no Centro. “Não consegui, mas não vai faltar oportunidade”, completa.  

No entanto, a principal motivação para a vinda a Juazeiro do Norte foi a antiga amizade com o músico Carlinhos Baby, líder da banda de forró juazeirense Baby Som. O atacante conheceu as músicas quando ainda atuava pelo Paris Saint-Germain, em 2001. Seu irmão mais velho foi responsável por enviar um CD para a França. “Ele falou que tinha um sanfoneiro que era o cara, que eu tinha que conhecer e tal”, conta.  

Um show em Anadia (AL) fez Aloísio e Carlinhos se encontrarem pessoalmente pela primeira vez. “Daí, essa amizade ficou verdadeira até hoje”, exalta o atacante. Com seu irmão mais novo, Chulapa percorreu de carro cerca de 557 km, de Atalaia até Juazeiro do Norte, para visitar o amigo de surpresa. “Eu tava devendo. Já tinha marcado três vezes”, admite o jogador.  

Numa mesa de bar, Aloísio reviu alguns amigos do futebol, da música, mas reuniu, principalmente, “amigos de amigos” que fizeram questão de conhecê-lo. De short, chinelo e um cordão de ouro com um pingente trazendo as letras “A” e “L”, que tanto faz referência ao seu nome, como homenageia a sigla do seu estado, o atacante se destaca com seu porte físico, 1,86 m de altura, que rendeu seu apelido de “Chulapa”, mas também com seu carisma e suas histórias. 

Ao seu lado, o inseparável copo de “danone”, apelido que popularizou para a cerveja, que teria sido criado por seu amigo, o ex-jogador Adriano, o Imperador. Aliás, a velocidade da reposição da bebida pelos garçons impressionou os juazeirenses acostumados com o serviço mais lento. “Quase vim pro Icasa uma vez”, confessa, surpreendendo os presentes. Segundo o atacante, a passagem aconteceria em 2013, mas uma briga entre investidores e diretoria impediu sua ida. “Até liguei pra Carlinhos, perguntando como era aqui”, completa.  

Popularidade
Entre as risadas e as pausas para atender aos fãs para fotos, “o Rei do Danone” só interrompe a atenção aos amigos por alguns minutos para olhar as mensagens do Instagram. Aliás, na rede social ele se notabilizou por ser muito ativo com seus bordões e hoje cativa 660 mil seguidores. Na terra do Padre Cícero, muitos “stories” foram gravados em sua visita no Horto e, claro, na mesa de bar.  

“Encontrei o Mano Walter esses dias. Ele fazia uma confraternização…”, inicia mais um “causo”. Neste dia, o atacante encontrou o cantor e conversaram por alguns minutos. Aloísio foi convidado para ficar na festa, mas tinha outro compromisso: acompanhar sua companheira, grávida de cinco meses, no ultrassom. Mesmo com pressa, ainda chegou atrasado e perdeu exame. “Quando cheguei na clínica, ela disse: ‘Tu estava com Mano Walter? Eu teria ficado por lá’”, conta, arrancando risadas. 

A farmacêutica Luisa Albuquerque carrega o bebê que será batizado de Rogério Ceni, em homenagem ao goleiro, seu amigo. “Ele já autorizou”, brinca. Por causa da amizade, Aloísio confessa que acompanhou os jogos do Fortaleza e torceu pelo Leão do Pici na Série B do Campeonato Brasiliero. Por outro lado, no futuro confronto entre tricolores paulista e cearense, pela elite nacional, adverte: “Sou São Paulo”.  

Primeira visita
No ano de 1996, Aloísio veio à região Cariri, mas ficou em Crato, cidade vizinha a Juazeiro do Norte. Na época, estava atuando pelo Flamengo, time que o revelou, que viajou para enfrentar a Portuguesa Cratense, em partida amistosa, no Estádio Mirandão. Com 21 anos, Chulapa era reserva do atacante Romário, mas acabou entrando nos minutos finais. “Nem lembro o placar. Se falar que lembro, estou mentindo”, confessa. O time carioca venceu por 3 a 0.  

“Ali eu vim só pra jogar, moleque. Era do campo para o hotel. Hoje, não, eu tô curtindo. Fui para o Horto e adorei lá. Tô amando. Tô muito feliz, emocionado”, classifica. Por alguns minutos, a conversa é interrompida porque Chulapa tenta lembrar sua música preferida de Baby Som. Carlinhos, a capela, puxa algumas canções, mas não acerta. “Deixa eu tomar ‘danone’ que vou lembrar”, pede o ex-jogador.  

Depois de alguns segundos com Aloísio cantarolando, Carlinhos recorda de “Amar em Pensamento”, gravada no Volume 15. Com o celular no ouvido, se emociona escutando. A canção embalou sua passagem pelo Al-Rayyan, do Catar, entre 2008 e 2009 e ajudava a matar a saudade de Alagoas. “Estou tão distante, longe de casa, dos meus amigos, da namorada”. A letra casava bem com este sentimento.     (Blog Diário Cariri)

Post a Comment