Abdon e Gorete Alves. O casal produziu grande parte da fotopintura do Cariri. FOTO: Nívia Uchôa
Mais de 50 anos com o pincel em mãos e toda uma família criada a partir da fotopintura. Este foi Abdon Alves, último fotopintor em atividade no Cariri, que morava em Juazeiro Norte, e faleceu no último domingo (20), aos 68 anos, depois de sofrer complicações após uma cirurgia cardíaca, realizada na última sexta-feira. O sepultamento aconteceu na manhã da segunda-feira (21). Abdon deixa cinco filhos, netos e sua esposa Gorete Alves, que também ajudava na criação das peças.

Abdon começou na fotopintura aos 17 anos, mas, antes disso, foi desenvolvendo o talento através do desenho. “Desde pequeno eu já desenhava. Gostava muito de desenhar. Fui caprichando e, quando tava ficando rapazinho, me dediquei a fazer caricaturas”, contou o fotopintor em entrevista ao Diário do Nordeste, em setembro de 2017.

No estúdio de revelar fotografias, em Juazeiro do Norte, a Foto São José, que trabalhou na adolescência, começou a usar o ampliador e colorir suas primeiras fotos.

Abdon em seu ateliê em setembro de 2017. FOTO: Antonio Rodrigues
No auge do seu trabalho, o fotopintor vendia cerca de 500 telas por mês e teve seu trabalho alcançando todo Nordeste através de romeiros e vendedores. Só que, com o passar dos anos e o desenvolvimento da tecnologia, a fotopintura perdeu espaço.

Abdon teve que se reinventar. Os pincéis deram lugar ao mouse de computador. Ele aprendeu com seus filhos a usar os programas de edição de imagem e dar continuidade ao serviço. Nos último anos, o fotopintor trabalhava com pequenas encomendas de amigos, pois, a demanda não era a mesma.

Abdon produziu fotopinturas de personalidades, como dos ex-presidentes Lula e Dilma. FOTO: Antonio Rodrigues
“Abdon foi praticamente nosso último fotopintor, o mesmo tinha nas mãos, no olhar e no coração uma flecha apontada para recriações de personagens. Começou suas pinturas em cavaletes com tintas de anilinas e, por fim, fazia seus trabalhos em computadores, pois, avançar e adequar as novas tecnologias já é de praxe nesses tempos cibernéticos”, descreve a fotógrafa Nívia Uchôa.

Legado
Sua fotopintura ficou marcada em galerias de arte no Peru e Itália e também nos seus filhos, que aprenderam outras técnicas de pintura a partir das noites de trabalho, entre a câmara escura e o pincel. “Seu trabalho era, antes de tudo, garimpar fotos 3×4 ou fotos desejadas de clientes e modifica-las, transformando o que o cliente queria, ou seja, dar uma nova vida para aquela pessoa, uma repaginada ou até mesmo mudar cor de pele, olhos, roupas, etc.  O trabalho dele era, antes de mais nada, tornar mágico e apreender a fotografia para além da realidade”, completa Nívia.     (Blog Diário Cariri)

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