FOTO: HONÓRIO BARBOSA |
Quase
130 anos se passaram e a arte de forjar o ferro e produzir ferramentas
agrícolas permanece viva entre seus descendentes. O patriarca da família
aprendeu a arte com ferreiros artesãos que já moravam e trabalhavam na terra
que teria como maior liderança religiosa e política na primeira metade do
século XX, o Padre Cícero Romão Batista.
Netos
e bisnetos dão continuidade diariamente ao ofício de ferreiro. A qualidade e o
acabamento das peças tornaram-se referência no Ceará. Se tem a marca Víctor, é
sinônimo de resistência.
A
família ficou conhecida pelo prenome do ferreiro pioneiro - Vítor. O nome do
patriarca transformou-se em sobrenome familiar e adquiriu a consoante 'c' -
Víctor. Mas por aqui só se fala 'Vitor', com tonicidade fechada na última
sílaba. Assim, são conhecidos popularmente na região como 'Chico Vitor', 'Zé
Vitor'.
Vinícius
Víctor começou aprendiz e se tornou um jovem ferreiro, dando continuidade à
tradição familiar. Aprendeu com o pai e tios. Francisco Víctor Lima, mestre
ferreiro, lembra que, no passado, era difícil trabalhar, mas depois da chegada da
energia elétrica tudo ficou mais fácil. Observa, entretanto, que nem todos da
família levam jeito para desenvolver o ofício.
Tradição
O
trabalho começa bem cedo, por volta das 5 horas. Quem caminha nas ruas de
terra, na localidade de Lajedo, ouve constantemente a batida dos ferros na
bigorna. É o sinal de que as oficinas estão ativas, apesar das dificuldades.
"Com esses anos todos de seca, as encomendas diminuíram", observa,
Francisco Víctor de Lima, 66 anos, o Chiquinho. "Estou esperando que chova
logo para a gente começar a vender roçadeira e outras ferramentas",
completa.
Um
dos ferreiros mais antigos, Francisco Víctor de Lima, 76 anos, conhecido como
Netinho, recebeu o reconhecimento do Governo do Estado e o título de Mestre da
Cultura, em 2010, por produzir, preservar e transmitir a cultura popular da
arte de transformar, de forma artesanal, o aço em ferramentas de uso agrícola,
na construção civil e em outras atividades produtivas.
As
oficinas fabricam foice, roçadeira, chibanca, machado, marretas, martelo,
picareta, armador, peças para máquinas, forrageira, debulhador de milho e
lâminas de corte de terra. "Já fiz muitas coisas e sempre adorei. Foi com
essa profissão de ferreiro que criei minha família e nunca faltou
trabalho", pontua mestre Francisco.
Em
média cada ferreiro fabrica 15 peças por dia. O preço varia segundo tamanho e o
tipo de ferramenta entre R$ 15,00 e R$ 30,00. Netinho sempre foi reconhecido
entre os parentes como 'o mestre dos mestres ferreiros' por sua capacidade de
produzir peças e equipamentos diversos. "Aprendi com meu pai",
confessa o especialista.
A
tradição se mantém com os bisnetos de Vítor Lima, mas com o passar do tempo
houve redução no número de oficinas e de artífices. Alguns, fora do núcleo
familiar, chegaram, aprenderam a arte e abriram seus próprios negócios.
Os
três filhos de José Víctor Sobrinho - Francisco Denys, Júnior e Paulo deram
continuidade à profissão do pai, que se enche de orgulho de ter vencido as
dificuldades e de ter criado a família. (Diário do Nordeste)
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