FOTO: FABIANE DE PAULA
São mais de 1.200 crianças e adolescentes sem mãe nem pai, sem avós nem casa, sem convivência nem rotina familiar, vivendo em unidades de acolhimento cearenses. De todas elas, apenas 153 estão disponíveis no Cadastro Nacional de Adoção (CNA), por meio do qual pretendentes e adotandos são vinculados. Na fila, aliás, 600 pessoas aguardam o fim de processos burocráticos para ter um filho e completar suas famílias - o que esbarra, em geral, no número ainda baixo de equipes multidisciplinares do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).

A avaliação é do promotor da 3ª Vara da Infância e Juventude, Dairton Oliveira, que aponta o déficit como principal obstáculo para o aumento do fluxo de adoções, já que o contato entre adotantes e acolhidos depende de psicólogos e assistentes sociais. "A adoção envolve muitas etapas, muitos processos, mas geralmente fica estagnada quando depende dos relatórios desses profissionais. É preciso uma sensibilização do TJCE para mais contratações", alerta.

Outro problema, como salienta o promotor, é o tempo que as crianças e adolescentes ainda precisam passar nos abrigos. "Segundo o Unicef, a cada ano de acolhimento, se perde quatro meses de desenvolvimento físico, motor e cognitivo. Quanto mais nova a criança é institucionalizada, maior é o atraso. Em média, os meninos e meninas passam cerca de três anos em acolhimento no Ceará, gerando déficit de um ano e meio de desenvolvimento em relação aos que estão no âmbito familiar. Além disso, com o tempo, a adoção se torna mais difícil."

Aumento
No Ceará, em 2018, foram adotados 11 bebês com um ano de idade, 11 com um, seis com pouco mais de 2 e 11 crianças com 3 anos, totalizando 39 adoções "dentro do perfil tido por mais procurado do CNA", conforme dados do Ministério Público do Ceará (MPCE). Já no perfil de adoção tardia, o promotor da Infância e Juventude descreve o crescimento como "empolgante": 17 crianças na faixa etária entre 4 e 7 anos integraram nova família.

Já entre as "pouco adotáveis", com idades de 8 a 11 anos, seis tiveram os processos de adoção concluídos, o dobro da média. O maior crescimento e também a maior preocupação, porém, se relacionam aos números de adolescentes, fase considerada crítica. Em 2015 e 2016, nenhuma pessoa entre 12 e 18 anos foi adotada. Em 2017, apenas uma adoção foi concluída. Já no ano passado, o número subiu para cinco.        (Diário do Nordeste)

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