O Açude Gameleira é forte apoio para manter a irrigação das comunidades ribeirinhas, em Itapipoca. FOTO: MATEUS FERREIRA |
Passado
este ínterim, as chuvas diminuem substancialmente e a evaporação dos açudes, somada
ao consumo do líquido, atuam no processo inverso: diminuição do volume.
Atualmente,
de acordo com o monitoramento da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos
(Cogerh), o Estado possui 10 açudes operando em sua capacidade máxima.
Outra
estatística positiva é que o volume total dos açudes voltou a subir após oito
anos. Hoje, os reservatórios cearenses estão com 11,7% da capacidade, o melhor
resultado para este período do ano desde 2015, quando a Cogerh apontava 15,4%.
Em 10 de março do ano passado, o nível era de apenas 7,7%.
Apesar
disso, o cenário ainda inspira preocupação, em decorrência da longa sequência
negativa do quadro hídrico. Nos últimos 10 anos, o nível médio dos 155 açudes
monitorados pela Cogerh apresentou sucessivas quedas. Para se ter dimensão. Em
10 de março de 2010, o volume dos açudes cearenses era de 62,2% de um total de
18,62 bilhões de m³. No ano seguinte, esse número saltou para 77,7%. Daí em
diante, a estiagem se agravou e o quadro foi de consecutivas reduções.
A
despeito da recente melhora, a presente capacidade dos açudes cearenses está
longe de ser a necessária para garantir abastecimento ao curso do segundo
semestre do ano. A reportagem do Diário do Nordeste demandou à Cogerh sobre
qual seria o nível ideal para o período, no entanto, o órgão não respondeu.
Castanhão
O
Castanhão, maior açude do Ceará, agoniza. Principal abastecedor da Região
Metropolitana de Fortaleza (RMF) e do Vale do Jaguaribe, o reservatório amarga
seu pior índice para o início de março (3,56%). Em 10 março de 2011, por
exemplo, o nível era de 71,13%. A partir de então, acumulou uma série de
reduções até chegar ao crítico volume atual.
Dos
10 açudes sangrando, cinco pertencem às Bacias do Coreaú e do Acaraú, na região
Norte. Na lista, constam o Acaraú Mirim, em Massapê; Diamantino II, na cidade
de Marco; o Itaúna, de Granja; o açude Tucunduba, em Senador Sá; e o Gameleira,
na cidade de Itapipoca. A lista se completa com os açudes São José I, em Boa
Viagem; Batente, em Ocara; o Germinal, da cidade de Palmácia; e os
reservatórios Maranguapinho, de Maranguape; e Tijuquinha, instalado em
Baturité.
Eles
estão sendo beneficiados pelos substanciais volumes de chuva que banham a
região Norte neste início de ano. O meteorologista da Funceme, Raul Fritz,
explica que este fator se deve à localização da Região Norte em relação às
influências do sistema responsável pelas chuvas, a chamada Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT), que se manifesta no período da quadra chuvosa. "Esse
próprio sistema alcança facilmente a parte Norte do Estado, que é a mais próxima
do Equador, facilmente atingido pelas nuvens de chuvas", explica.
Quem
tem se beneficiado deste fenômeno natural são os moradores. Em Massapê, a
sangria do açude Acaraú Mirim trouxe de volta a pesca e os dias de diversão.
Com a maior oferta de água, a população voltou a usufruir do açude como
balneário. Aos fins de semana, têm sido comum diversos grupos buscarem por
locais com água para se refrescar. O açude acaba por se transformar em ponto de
lazer. "Eu moro em Sobral, mas sempre que posso venho aqui tomar um banho,
ou apenas descansar com a família. Tem bons bares e restaurantes nas
proximidades do açude", revela a dona de casa Cíntia Alves Brito, de 47
anos. O reservatório possui 36.71 m³ de capacidade.
Em
Itapipoca, também na Região Norte, quem proporciona alegria quanto ao
abastecimento hídrico e lazer é o Gameleira. Na visão dos moradores, a cheia do
açude sempre traz alívio por conta de um passado de seca severa. "Na
verdade, as águas do Gameleira representam redenção para todos nós. No passado,
tínhamos o Poço Verde, único reservatório responsável pelo abastecimento da
cidade que secou por completo em 2013, causando grande mortandade de peixes.
Isso ocasionou o colapso de água na cidade. Foram as águas do Gameleira, o novo
açude, que chegaram para mudar essa realidade", relembra o radialista
Flávio Teixeira.
Dificuldades
Com
cerca de 52.64 milhões de metros cúbicos, hoje, a realidade que o reservatório
proporciona é outra. "Mesmo nesses anos de seca, nessa dificuldade toda, o
Gameleira se mantém firme na irrigação das comunidades ribeirinhas, na
autonomia da agricultura familiar, enfim, na manutenção da oferta de
água", comemora Teixeira. Além dos 10 açudes sangrando, quatro estão com
volume acima de 90%. Destes, três também são do Norte do Estado, o Jenipapo,
localizado na Meruoca (95,73%); o São Vicente, de Santana do Acaraú (95,33%); e
o açude Gangorra, no município de Granja (97,76%). Entretanto, conforme
observou Bartolomeu Almeida, gerente da Bacia do Coreaú e Acaraú (Cogerh), o
quadro, em âmbito estadual, ainda é de alerta.
"Nós
temos tido uma situação hídrica melhorada na parte do litoral, mas esperamos,
ainda, um maior aporte em nossos reservatórios nos próximos meses para
conseguirmos suportar a demanda do segundo semestre do ano".
Média
De
acordo com os dados da Funceme, desde o início da estação chuvosa, as
precipitações seguem acima da média para o período. Janeiro, mês de
pré-estação, registrou 10% de volume de chuvas a mais que a média. Fevereiro
marcou 48% de aumento e, os primeiros dias do mês de março, já apontam uma
média de 52 mm, quando a média esperada para todo o mês é de 203 mm. A
expectativa é de que ocorra mais aporte nos reservatórios. (Diário do Nordeste)
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