O jornalista e radialista Huberto Cabral é considerado uma
enciclopédia viva por sua vasta memória e conhecimento regional.
Em 1964, furou 100 repórteres nacionais e entrevistou o
Marechal Castelo Branco. FOTO: Alana Soares
Desconfortavelmente sentado na mureta do alpendre de sua casa, no centro do Crato, o jornalista Huberto Cabral vai, aos poucos, entregando histórias de profissão com data, local e contexto dignas de um livro historiográfico. No auge dos 82 anos, não faltam causos a serem compartilhados.

Um dos mais inusitados, no entanto, foi dito quase como sem querer: o dia em que Francisco Huberto Esmeraldo Cabral, aos 28 anos, furou 100 repórteres da imprensa nacional e conseguiu o primeiro depoimento do então Presidente da República, o Marechal Castelo Branco, em terras cratenses.

A história começa meses antes da passagem do Presidente pela região do Cariri. Caçador nato de notícias, o faro do jovem jornalista Huberto foi certeiro ao ver uma movimentação atípica de pessoas no antigo Palace Hotel. Curioso, passou a seguir um visitante em trajes formais que se encontrava com autoridades municipais.

O visitante, por sua vez, nada mais era do que um importante General do Regime Militar e a reunião tratava dos preparativos para a visita do Presidente a festa de bicentenário de fundação da Villa Real (Crato).

"Logo percebi que se trataria de algo grande, importante", lembra. "Somei os fatos e arrisquei". Ousou, então, deixar ser visto pelo General, a quem pediu, na cara dura, credencial para entrevistar o Presidente. "Como você sabe?", teria sido a pergunta do militar, incrédulo.

Era 1964, poucos meses após a instalação do regime ditatorial militar, e o Marechal cearense Castelo Branco faria a visita de honra ao Crato, terra que conhecia bem de outras épocas. "Em outra ocasião, ele veio e se hospedou nesta mesma casa onde estamos, que era de minha família", Cabral conta. Sua sorte, portanto, seria esta lembrança.

Escondido na Chapada do Araripe, próximo ao antigo Aeroporto de Fátima, a 10 km da sede do Crato, Cabral olhava pro céu esperando o avião do Presidente chegar. No Aeroporto, aproximados 100 jornalistas de todo o Nordeste disputavam a primeira foto e a primeira fala do novo presidente.

Cabral teria corrido ao primeiro sinal e se infiltrado nos equipamentos. Escondido dentro da escada de aterrissagem, o jornalista magrelo arrisca exposição e adentra no avião. "Eu sabia que seria preso ou morto. Um dos dois. Mas não seria furado", conta em lembrança.

"Quando a aeromoça abriu a porta, se assustou e perguntou quem eu era. Sem pensar duas vezes, eu disse ´com licença, eu tenho uma entrevista com o Presidente´ e segui para a cabine presidencial". À esta altura, os olhos de Cabral brilham ao recordar tamanho atrevimento.

Reconhecido pelo Marechal, Huberto conseguiu gravar as primeiras palavras do novo Presidente em Crato. Falava da felicidade em estar ali e da segurança de seus planos para o país. Naquele 21 de junho, Castelo Branco abriria a Expocrato e daria, já mais confortável, entrevista a Huberto no estúdio da Rádio Educadora.

Ao saber do acontecido, o General de antes teria recriminado Cabral, ao passo que este responderia com "eu disse que não seria furado".      (Site Miséria)

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