FOTO: Fabiane de Paula |
"Nós
estamos sentindo um incremento significativo das chuvas nos últimos 30 dias, o
que é muito estimulante para as atividades no semiárido. E a disponibilidade
hídrica está melhorando, principalmente quando você considera os produtores que
têm pequenas barragens", diz Flávio Saboya, presidente da Federação da
Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec).
De
acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme),
até o fim de fevereiro, as chuvas no Estado ficaram acima da média histórica.
Mas, apesar do resultado, as maiores médias de chuva foram registradas no
litoral de Fortaleza e litoral Norte, enquanto a região do Cariri, uma das
principais produtoras do Estado, ficou abaixo da média.
Irrigação
Segundo
Saboya, um dos gargalos para a agricultura irrigada é o nível do Açude
Castanhão, que hoje está em torno de 5%. De acordo com a Política Nacional de
Recursos Hídricos, que estabelece a outorga de direito de uso de recursos
hídricos em situações de escassez, a prioridade é o consumo humano, o consumo
animal, para só então destinar a outras atividades.
"A
questão da outorga é um impasse que nós estamos analisando. Já tivemos diversas
empresas produtoras de melão que deixaram o Ceará e foram obrigadas a diminuir
em mais de mil o número de empregados por conta da suspensão da outorga",
diz Saboya. "Então, a nossa esperança é a transposição".
Para
Tom Prado, CEO da Itaueira Agropecuária, uma das maiores exportadoras de melão
do País, enquanto o Castanhão não atingir cerca de 10% da capacidade, a
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) não deverá liberar a outorga
para irrigação. "A gente torce que haja chuvas no Sul do Estado porque
tanto o Rio Jaguaribe como os canais do Trabalhador e Integração, que recebem
água do Castanhão, estão com pouco volume de água", diz.
Além
da dificuldade de acesso à água para irrigação, o cultivo de melão, mamão e
melancias, localizado principalmente no litoral leste do Estado, não se dá bem
com as chuvas. O setor é o quarto maior exportador do Estado (US$ 80,3 milhões
em 2018). "Com as chuvas, a perspectiva para o ano é boa, mas ainda não dá
para saber se vai haver crescimento em relação ao ano passado", diz o CEO
da Itaueira.
Prado
acredita que a cajucultura, terceiro principal item da pauta de exportação
cearense (US$ 94,1 milhões), terá uma boa recuperação neste ano. "É o
setor responsável pelo maior volume de frutas do Estado e, além de ficar no
litoral, não depende do processo de irrigação".
Hortifruti
Já
para o segmento de hortifruti, o excesso de chuvas em algumas regiões, como na
Serra da Ibiapaba, acabou comprometendo a safra. "Com as chuvas, algumas
frutas acabam apodrecendo, como foi o caso do maracujá, que ficou escasso e o
preço subiu muito", diz Odálio Girão, analista de mercado da Central de
Abastecimento do Ceará (Ceasa). "Entre as hortaliças, o tomate foi o
grande vilão, com o quilo chegando a R$6. As chuvas também prejudicaram a
produção de repolho, pimentão e alho". Por outro lado, a produção de feijão,
batata-doce e milho verde aumentou.
"Esse
será um ano em que vamos ter os reservatórios subindo. Esperamos um segundo
semestre muito bom para os produtos regionalizados, com uma colheita 10%
superior à do primeiro", diz Girão. (Diário do Nordeste)
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