Ciclos
de doenças estouram e encolhem, mas deixam sequelas na população. A dengue, com
quatro sorotipos identificados, é uma das ameaças que perduram no Ceará há mais
de 30 anos. Os vírus alternam a predominância e põem em xeque novas populações
suscetíveis. Atualmente, especialistas veem com preocupação o aumento do número
de casos da dengue tipo 2 (Denv-2), considerado mais agressivo, nas regiões
Centro e Sudeste, o que ameaça outros estados e pode levar a uma possível
epidemia no Ceará, já no fim desta quadra chuvosa ou no início do ano que vem.
A última epidemia causada por esse tipo foi em 2008.
De
acordo com Fábio Miyajima, especialista em Saúde Pública da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz) no Ceará, foram registrados dois casos do tipo 2 da doença no
Estado, em 2019. Um foi confirmado pelo boletim epidemiológico da Secretaria
Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS) que contabiliza notificações até 6 de
abril. O outro, segundo o boletim da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa)
divulgado no fim de março, ocorreu no município de Palhano, no Vale do
Jaguaribe, a cerca de 160 km da Capital.
Detecção
"Acredita-se
que eles tenham origem exterior, mas não tem nada confirmado ainda porque, por
enquanto, estão sob inquérito. Se forem autóctones, o risco é bem maior. Temos
que ficar alerta", aponta o pesquisador. Os sinais já se espalham pelo
Brasil: 85,2% das 608 amostras colhidas e analisadas em onze estados deram
positivo para o Denv-2, segundo o último boletim epidemiológico do Ministério
da Saúde, de março.
"Temos
epidemias em São Paulo, Campo Grande, Minas Gerais, Brasília e Tocantins. Em
Fortaleza, não deixamos de detectar o tipo 2, mas ele não é predominante. Quem
predominou depois de 2008 foram o 1 e 4", explica Nélio Morais,
coordenador da Vigilância em Saúde da SMS.
Segundo
ele, o caso identificado na Capital foi de uma mulher que trabalhava no bairro
José Walter, mas morava em Maracanaú. Como ela transitava entre os dois
municípios, ficou difícil determinar a origem da doença. Mesmo assim, foram
eliminados criadouros e utilizadas bombas costais nas regiões que ela
frequentava, a fim de matar outros focos.
Risco
Apesar
das duas únicas confirmações oficiais, Fábio Miyajima ressalta motivos para uma
possível subnotificação do sorotipo no Ceará. Um é a sobrecarga de exames
centralizada no Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen). O outro é a
"janela diagnóstica" para detectar a sorotipagem, já que o vírus só
circula no sangue por quatro ou cinco dias, então demanda maior rapidez. Se a
base médica for apenas os sintomas, o diagnóstico fica dificultado. (Diário do Nordeste)
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