FOTO: Antonio Rodrigues |
Importância
Sétima
maior gruta do Ceará, com 150 quilômetros de extensão, a Gruta do Farias fica a
poucos metros da entrada do parque aquático, em uma agradável trilha entre a
mata verde. Dentro dela, há uma fonte natural que jorra cerca de 348 mil litros
de água por hora. No entanto, a entrada em sua estrutura só é permitida para
pesquisadores.
De
forma inédita, a equipe do Sistema Verdes Mares conheceu o interior deste
importante ponto turístico do Cariri. Até a construção do parque, que durou
quatro anos, o local ficava aberto, sem nenhum tipo de proteção, e recebia
muitos visitantes. "Não tinha reflorestamento. O pessoal vinha para cá com
bebida, comida, cortava as plantas. Hoje, para se entrar na trilha, tem que vir
com alguém. Nós temos que fazer esse cuidado", conta o guia turístico José
Marcos de Barros, que nasceu e se criou no Sítio Santo Antônio, onde foi
erguida a atração turística.
Os
fundadores do Arajara Park adquiriram terras próximas à encosta da Chapada do
Araripe no fim da década de 1990. À medida que descobriram as belezas do
entorno, surgiu o desejo de tornar ali um ponto turístico. Em 21 de abril de
2002, o parque foi inaugurado. Com 75,6 hectares, em Área de Proteção Ambiental
(APA), o local se transformou em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural
(RPPN). "Se não fosse isso, a gruta não estaria tão preservada",
acredita José Marcos.
Singularidade
Entrar
na gruta é uma experiência "corajosa" por parte dos visitantes, já
que o nível da água é alto e o teto baixo. Na maior parte do tempo, os
pesquisadores têm que andar agachados para não encostar no teto. As pedras
também dificultam a passagem. E a própria escuridão representa um grande
desafio.
Porém,
a água cristalina e os seus mistérios seduzem os mais curiosos. Ali, surgiram
diferentes narrativas que assustaram barbalhenses por muitos anos. As lendas da
Mãe D'água e da Mocinha do Mato, populares em outras regiões do País, são
reproduzidas na gruta. Outros moradores contam que uma luz já foi vista em meio
à escuridão. "Minha avó contava muitas histórias. Ela dizia que via uns
menininhos conversando, mas quando chegava perto, sumiam. Tem gente que já
escutou assovio, grito. São fenômenos que deixamos do jeito que estão. Nosso
papel é preservar, mas a pessoa que for mole, corre", brinca o guia
turístico.
Contudo,
é preciso conviver com seus mais notáveis moradores: os morcegos. No local, são
encontradas, pelo menos, quatro espécies do mamífero voador: o
morcego-de-cauda-curta, o Pteronotus gymnonotus, o morcego-focinhudo e o
morcego-orelha-de-funil. Este último tem ocorrência, principalmente, nos
estados do Amapá e ao sul do Rio Grande do Sul. Eles costumam habitar grutas ou
cavernas úmidas. De todos encontrados dentro da Gruta do Farias, ele também é o
mais ameaçado de extinção. E o animal segue desaparecendo de nossa fauna.
Segundo
a pesquisadora Raquel Soares, há uma estimativa que nos próximos 10 anos a
população desta espécie seja decrescida em 30%. "Por isso, é importante
preservar essas áreas", explica.
Ameaça
A
degradação dos ambientes em que os morcegos vivem, o desmatamento e a
exploração de grutas e cavernas são alguns fatores que "prejudicam o
desenvolvimento da espécie", acrescenta Soares.
Com
variados hábitos alimentares, a maioria desses animais são frugívoros (que se
alimenta de frutas, verduras e legumes) e insetívoros (de insetos). No mundo,
há em torno de 1.300 espécies, mas apenas três são hematófagos, ou seja, se
alimentam de sangue. "Criou-se todo um mito em relação aos morcegos. Estão
sempre associados à criaturas malignas. De certa forma, são injustiçados. Boa
parte se alimenta de insetos, então faz serviço ambiental excelente. Fazem um
controle biológico. Controla pragas e outros dispersam sementes. Ao se
alimentar de frutos, eles semeiam florestas", garante Raquel.
Além
dos morcegos, as cobras e os sapos costumam ser comuns. Há ainda forte
incidência de raposas, guaxinins, tamanduás e espécies de pássaros como o
Soldadinho do Araripe, pássaro nativo da Região ameaçado de extinção, e o
Pica-Pau verdadeiro. (Diário do
Nordeste)
Postar um comentário