Na tentativa de valorizar essa história, o ICC criou o projeto Museu do Engenho e entrou em contato com fazendeiros que ainda mantêm peças raras. FOTO: Antonio Rodrigues |
Hoje,
apenas seis estruturas estão ativas nestes dois municípios. Marcante no
desenvolvimento local, a história dessa produção, no entanto, será recontada no
Museu do Engenho do Cariri, projeto elaborado pelo Instituto Cultural do Cariri
(ICC), que já teve verba aprovada através de emenda parlamentar em Brasília
(DF).
No
Cariri, os engenhos passaram por três fases. A primeira com as moendas movidas
pela força hídrica, já que água nas nascentes eram abundantes. Neste sistema,
havia três tipos, o "copeiro", "meeiro" e
"rasteiro", indicando se a água entrava na roda por cima, pelo meio
ou por baixo. Com o desvio do recurso hídrico e escassez, houve investimento na
tração de bois. Uma peça no eixo principal e duas catracas se movimentavam
junto aos animais. Na época, toda a engenharia era feita de madeira, em parte
de jatobá ou pequi.
Depois
veio o engenho de ferro, trazido pela família Ferreira de Melo, possivelmente,
de Pernambuco. No entanto, quando os bois eram colocados na juntas para mover,
se deslocavam com dificuldade e apanhavam muito. O som no engenho de madeira
cadenciava o caminhar dos animais, mas no de ferro ouvia-se os
"gemidos". Anos depois, a tração animal foi substituída pelo vapor,
diesel e eletricidade.
As
peças desses engenhos vêm se perdendo com o tempo. A poucos quilômetros da sede
de Crato, por exemplo, o Engenho Lagoa Encantada, um dos maiores da região,
virou ruínas.
Lá,
ocorreu a primeira experiência de mecanização da lavoura de açúcar no Cariri,
utilizando um trator de disco, sulcador e cultivador, que pode ser visto ao
lado do prédio. Já na Avenida Leão Sampaio (CE-060), entre Barbalha e Juazeiro
do Norte, outras estruturas estão expostas nas sucatas. Eles são vendidos para
ornamentação de fazendas.
Na
tentativa de resgatar parte dessa história, o ICC criou o projeto do Museu do
Engenho e entrou em contato com fazendeiros que ainda mantêm peças raras.
"O que nos motivou foi a morte dos engenhos artesanais, a desativação da
economia açucareira. Mostrar algumas peças, a tecnologia, a memória, as
tradições populares e culturais em torno disso", explica Heitor Feitosa,
presidente do Instituto.
Alguns
exemplares deverão ser doados para o Museu. Um deles é uma caldeira de meados
do século XIX, da fábrica Marshall, Sons, & CO., Limited, que foi trazida
da Inglaterra para o Crato. A peça representa uma fase posterior à da tração de
bois, movida a vapor. Os proprietários se prontificaram em emprestá-la.
Outra
peça rara é o engenho de entrosa, que foi uma revolução tecnológica na produção
de rapadura e aguardente. O primeiro foi trazido ao Brasil no início do século
XVII. Uma família do município de Aiuaba também prometeu cedê-lo ao Instituto.
A
expectativa é que o Museu seja instalado no Crato, em um terreno que pertence
ao Departamento Estadual de Rodovias (DER), vizinho ao ICC. Um projeto de lei
para sua cessão já foi criado e deve ser votado na Assembleia Legislativa. Além
disso, uma emenda parlamentar de R$ 300 mil, apresentada pelo ex-deputado
federal Antônio Balhmann, foi destinada à sua construção. O recurso seria
repassado para a Secretaria de Cultura do Estado (Secult).
No
entanto, o projeto esbarra na falta de informações específicas. "Houve uma
reunião entre a gente, o deputado Balhmann e o secretário (Fabiano) Piúba.
Ficou acordado que a emenda será destinada à Secult, que a executaria",
explica Heitor.
Porém,
o projeto não foi cadastrado no Sistema de Convênios (Siconv). "O
argumento foi que não havia informação suficiente sobre o projeto. Daí, fui até
Fortaleza, estive na Secretaria de Cultura e fui atendido por dois
funcionários. Eles nos disseram que faltavam informações", lamenta. (Diário do Nordeste)
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