FOTO: Antonio Rodrigues |
O
setor esperava uma recuperação no início deste ano, o que não se concretizou, e
os resultados ficaram abaixo da expectativa. A Grendene, maior fabricante de
calçados do Brasil, com unidades fabris em Fortaleza, Crato e Sobral (a maior
planta da empresa no País), classificou como "péssimo" o início do
ano, anunciando a queda de 29,5% da produção em relatório de resultados do
primeiro trimestre.
"A
queda ocorreu tanto no mercado interno (26,6%), quanto no mercado externo
(37,0%)", disse a empresa em comunicado de 25 de abril.
"Desde
outubro do ano passado, houve uma leve recuperação, mas o mercado ainda está
muito fraco", diz Heitor Klein, presidente-executivo da Associação
Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). "Hoje, o câmbio ainda
está ajudando um pouco nas exportações, mas o primeiro trimestre não foi tão
forte ante o do ano passado".
De
janeiro a março, a produção de calçados no Ceará caiu 2,6%. No Nordeste, a
retração foi de 3,4% e no País também 2,6%, segundo a pesquisa industrial
mensal de produção física do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
"O
Ceará se destaca como o principal polo do País no segmento de chinelos e
sandálias praianas. Neste momento, em especial, a demanda por esses produtos
está bastante deprimida no Brasil", avalia Klein. "Além disso, esse
fenômeno que estamos observando vem da falta de competitividade, já que o preço
do calçado brasileiro está muito alto".
No
mercado externo, de acordo com dados do Ministério da Economia, de janeiro a
abril, o valor do par avançou 7,6% no Estado, de US$ 5,33, para US$ 5,74,
enquanto a média nacional caiu 8,7%, de US$ 8,53 para US$ 7,78. Ao mesmo tempo,
no primeiro quadrimestre, o mercado cearense ainda avançou 5,9% em vendas,
abaixo d a média do País, que saltou 9,4%.
Exportações
Desde
2010, ano em que o Estado atingiu o pico histórico de exportações, foram
registradas seis quedas anuais nas vendas ao exterior e apenas duas altas.
Apesar dessa retração, a indústria calçadista cearense, que vende para 113
países, permaneceu responsável por um quarto do valor exportado pelo País,
atrás apenas do Rio Grande do Sul, que exporta quase metade do valor vendido no
mercado internacional, em dólar.
Para
o economista e consultor Alcântara Macedo, a manutenção da participação
cearense em torno de 25% das exportações de calçados, de 2010 a 2018, mostra a
força da indústria local, mesmo com a queda da produção observada no período.
"Desde o fim da década de 1990, quando a China e outros países do sudeste
asiático começaram a produzir esse produto, a competitividade aumentou muito no
mercado internacional. E nos últimos anos, o mercado interno, em todas as
áreas, está recessivo, de modo que todas as áreas da indústria leve estão em um
momento difícil", diz Macedo, que trabalhou na captação das primeiras unidades
da Grendene para o Ceará, na década de 1990.
Empregos
Setor
que mais emprega no Estado, a queda da produção da indústria calçadista acende
um sinal de alerta no mercado de trabalho, principalmente nos polos produtores
do interior. "A Grendene, que é a maior empregadora do Ceará depois do
Governo do Estado, tem uma contribuição muito grande em polos como o de Sobral.
E a crise que está se alongando muito. Estão todos esperando uma relação de
confiança maior", diz Macedo.
Mesmo
sem perder participação na produção nacional, os impactos já são sentidos na
geração de empregos. No primeiro trimestre, o setor, que emprega cerca de 55
mil pessoas no Ceará, perdeu 1,7% das vagas ante igual período de 2018. No
Brasil, onde o setor gera 285 mil vagas, a queda foi de 3,7%, segundo o
Cadastro de Empregados e Desempregados (Caged).
Expectativa
Em
seu comunicado, a Grendene afirma que o principal problema enfrentado pela
empresa no primeiro trimestre foi a falta de vendas "de uma forma
praticamente generalizada entre marcas, modelos e geografias". Além disso,
a companhia ressalta que, em vez de uma queda tão acentuada no mercado interno,
era esperado um início de recuperação, o que não deve mais ocorrer neste ano.
"Diante
da realidade observada no primeiro trimestre de 2019, não podemos mais falar em
recuperação de consumo de calçados no mercado brasileiro para este ano,
permanecendo completamente indefinido como a economia, o consumo e o consumidor
devem se comportar. A tão esperada recuperação ainda não começou e pode nem acontecer
este ano", disse a Grendene no relatório.
Apesar
do cenário desfavorável, Heitor Klein diz que a expectativa para o médio e
longo prazo é boa. "Hoje não está apresentando essa sinalização de forma
muito clara, mas é o que pode se esperar, uma vez que as reformas estruturais
venham a ser implementadas", ele diz. "Os investimentos em
infraestrutura, que são esperados, geram empregos, que geram renda e que geram
consumo".
Klein
acredita que tão logo haja um incremento nas vendas do varejo, o setor de
calçados responderá rapidamente com uma maior oferta de empregos. "O setor
tem uma força exportadora muito forte, temos mais de 160 países compradores que
não deixaram de ser nossos clientes, apenas as quantidades é que estão
deprimidas", diz Klein.
(Diário do Nordeste)
Postar um comentário