FOTO: KID JUNIOR |
O
Estado ficou à frente da Bahia, com 691 casos denunciados no mesmo período, a
segunda maior demanda da região. Quem menos registrou ocorrências, por sua vez,
foi Alagoas, com apenas 136 casos. Foi também do Ceará que partiu o maior
número de denúncias no Nordeste durante todo o ano de 2017, com 1.765
ocorrências registradas.
As
725 denúncias realizadas até junho de 2018 resultaram, conforme dados coletados
através do canal de denúncias do Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos, em 3.065 casos de violência contra a pessoa idosa. Desses
casos, a negligência lidera os registros no Ceará, com 1.538 ocorrências, o
equivalente a 50% do total. Em seguida, aparece a violência psicológica, com
800 casos, seguido do abuso financeiro, com 446 denúncias, e da violência
física, com 281 registros. Os casos de negligência também foram a maioria
demandada ao Disque 100 durante todo o ano de 2017, com 3.926 denúncias, quase
49% do total registrado.
Sinais
Como
uma realidade ainda a ser combatida no País, saber identificar os casos de
violência contra a pessoa idosa se mostra essencial. A quebra dos vínculos
sociais é apontada pelo Conselho Estadual dos Direitos do Idoso no Ceará (Cedi)
como a primeira manifestação na maioria das ocorrências. "Se eventualmente
você percebe um idoso que tem uma mudança brusca de comportamento, perde os
vínculos com amigos, com a sociedade, os grupos que faz parte, pode ser a
primeira manifestação que algo está acontecendo", esclarece Raphael
Castelo Branco, presidente do Cedi, também presidente da Comissão dos Direitos
da Pessoa Idosa da Ordem dos Advogados do Brasil Secção Ceará (OAB-CE).
Segundo
acrescenta, sinais relacionados à autonomia, como o medo do idoso de sair de
casa ou o receio de exprimir uma vontade, assim como marcas de agressão no
corpo, também são evidências que apontam situações de violência. Casos
específicos de negligência, ressalta, são caracterizados na exposição do idoso
a uma grande situação de vulnerabilidade. "Por exemplo, a falta de cuidado
com a higiene, a não observação de vacinas, a ausência de qualquer tipo de
cuidado com a alimentação", afirma.
Obstáculos
Um
dos obstáculos enfrentados pela rede de proteção é a subnotificação das
denúncias, ainda segundo explica o presidente do Cedi, uma vez que os casos
são, geralmente, cometidos por pessoas de proximidade direta com o idoso.
"A
vítima nega a existência da violência porque não quer denunciar o próprio
filho, o próprio neto. O segundo desafio é a questão do trabalho em rede. Muito
embora a gente tenha avançado com os conselhos, o Ministério Público, e a
própria Delegacia de Proteção ao Idoso e Pessoa com Deficiência (DPIPD), a
gente acha que esse trabalho ainda precisa ser melhorado. Muitas vezes, na
mesma denúncia, você tem dois, três órgãos atuando ao mesmo tempo, e cada um
com suas particularidades", comenta.
Outro
ponto destacado é a falta de informação, seja da parte do idoso como da
sociedade no geral, que ainda desconhece direitos e formas de violência.
"Principalmente, quando a gente fala de outro tipo de violência, que é a
financeira/patrimonial - que no interior do Estado tem crescido muito -
principalmente com a questão de empréstimos consignados", diz Raphael.
A
reportagem demandou a Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania,
Mulheres e Direitos Humanos (SPS) sobre ações, equipamentos e investimentos
para atender pessoas idosas em situação de violência mas, até o fechamento
deste edição, não teve retorno.
(Diário do Nordeste)
Postar um comentário