A
extrema pobreza se tornou uma dura realidade para 31,7 mil cearenses em 2019
ante o ano passado. De acordo com dados do Cadastro Único para Programas
Sociais do Ministério da Cidadania referentes ao mês de junho deste ano,
1.027.487 pessoas no Estado sobrevivem com renda familiar per capita de até R$
89 por mês. Em junho de 2018, o Ceará contabilizava 995.777 habitantes nessa
situação.
Com
o número, o Estado ocupa a quarta posição entre as unidades da Federação com os
maiores índices de extrema pobreza. As três primeiras colocações ficaram com
Bahia, que contabilizou 1,82 milhão de pessoas sobrevivendo com renda familiar
per capita de até R$ 89 por mês; São Paulo, com 1,41 milhão e o estado de
Pernambuco, com 1,15 milhão.
Classificados
entre os que vivem em situação de pobreza, 150.368 pessoas no Ceará ganham entre
R$ 89,01 e R$ 178 por mês. Outros 380.649 estão no grupo de renda per capita
familiar entre R$ 178,01 e meio salário mínimo (R$ 499), enquanto 274.790
recebem acima de meio salário. Os números consideram o total de 1.833.294
inscrições no Cadastro Único em junho deste ano.
O
avanço no número de cearenses vivendo em situação de extrema pobreza é um
cenário que vem sendo observado pelo Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP) da
Universidade Federal do Ceará (UFC) desde o ano de 2015 e representa não só o
crescimento dessa faixa em si, mas o avanço no quantitativo de cearenses
cadastrados em programas sociais, segundo avalia o professor Vitor Hugo Miro,
que coordena o grupo.
Ele
frisa que as pessoas com menos recursos normalmente são mais impactadas por crises
econômicas. Lembra também que políticas como a valorização do salário mínimo
podem até provocar certa mudança nas estatísticas para as famílias que estão
próximas à saída da linha da pobreza ou da extrema pobreza, mas o impacto é
limitado.
"Não
existe muito consenso sobre os efeitos de combate à pobreza com a política do
salário mínimo. Ele pode até tirar famílias da extrema pobreza, mas são as que
já estão próximas à linha. É uma política muito limitada. É preciso pensar no
caminho para reverter esse aumento", destaca.
Na
semana passada, foi aprovado o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias que
fixa o salário mínimo de 2020 em R$ 1.040. O valor não representa ganho real
(aumento acima da inflação) em relação ao mínimo deste ano, R$ 998.
Programas
sociais
Miro
menciona o Bolsa Família como um importante programa social com efeito de curto
e de longo prazo. "O valor da transferência não é muito significativo, mas
oferece um alívio. O Bolsa Família não é apenas um programa de transferência de
renda, porque tem algumas condicionalidades, como o acompanhamento escolar e de
saúde. São essas condicionalidades que vão permitir que a família saia da
pobreza no futuro", diz.
Na
avaliação do coordenador do Laboratório de Estudos da Pobreza da UFC, cabe ao
Governo investir em políticas de longo prazo que criem para as empresas um
ambiente mais propício ao investimento. "A gente vê algumas políticas e
acha que não estão relacionadas, mas, ao longo do tempo, têm efeito na geração
de emprego. A taxa de juros, por exemplo, pode gerar um incentivo à tomada de
crédito para investir", explica.
A
população mais carente não só é a mais penalizada em períodos de crise
econômica como também é a que mais demora a sentir os efeitos de uma
recuperação. Isso porque, conforme analisa o diretor geral do Instituto de
Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), João Mário Santos de França,
são pessoas menos qualificadas. "As mais qualificadas são as primeiras a
se recolocarem no mercado quando há uma melhora da economia".
Ele
também destaca o Bolsa Família como importante ferramenta social para mitigar
os efeitos da crise sobre a população mais pobre. "Existem dois tipos de
política: os programas de transferência de renda e o investimento em
qualificação para, em uma recuperação, essas pessoas voltarem ao mercado de
trabalho", diz. Na esfera estadual, o Governo conta com o Cartão Mais
Infância, que beneficia atualmente 48 mil famílias no Ceará.
(Diário
do Nordeste)
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