Pesquisadores
em defesa da ciência da Universidade Regional do Cariri (URCA) estiveram
reunidos na tarde desta terça-feira, 3, para debater os principais agravantes
causados pelos cortes drásticos relacionados à área no Brasil pelo Governo
Federal, e que atinge de forma considerável a pesquisa no Cariri. Conforme
dados repassados pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da URCA (PRPGP),
os cortes terão um impacto de mais de R$ 4,2 milhões na economia regional.
O
debate com os pesquisadores aconteceu no auditório da sede do Geopark Araripe,
em Crato, contando com a presença do Reitor da instituição, Francisco do O’ de
Lima Júnior, professores pesquisadores, bolsistas, alunos da graduação,
mestrado e doutorado e representantes de diversos setores da URCA.
O
Pró-Reitor a PRPGP, Professor Irwin Alencar, destacou através de dados
levantados na universidade, e diante das últimas informações divulgadas sobre
os cortes significados nas bolsas do CNPq e mais recentemente da Capes, que o
cenário que se apresenta é destroçante, com comunicados de suspensão de
qualquer tipo de bolsa. Apenas aqueles que já haviam garantido devem continuar,
mas os que pretendiam ou estavam na iminência de iniciar os seus projetos,
simplesmente serão interrompidos.
Para
o pró-reitor, essa realidade traz um grande desalento para a academia por
causar um impacto social que afeta o aluno, além do desenvolvimento e a
economia regional. “Essas bolsas representam importante incremento na economia
do Cariri”, disse. O aporte anual das pesquisas realizadas somente na URCA
chega a R$ 4 milhões e 270 mil. Somente na iniciação científica serão afetados
322 alunos, o que representa anualmente um recurso de mais de R$ 1,5 milhão.
Além de bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado.
Segundo
o Pró-reitor, esse impacto vai afetar o futuro da ciência, tecnologia e o
desenvolvimento econômico do Brasil, indo na contramão de outros países que
passaram por crises e que não tomaram esse tipo de medida. Pesquisas
importantes no Brasil serão atingidas, como a do tratamento das arboviroses,
uma das mais desenvolvidas nesse segmento, pela Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Conforme o pesquisador, essa nova realidade atual já representa
um retrocesso equivalente a uma década. “O número de doutores da universidade é
muito superior do que há 10 anos”, avalia.
Professor
Irwin mostrou através de gráfico o crescimento do número de bolsas,
principalmente em 2014 no País. Foram mais 175 mil bolsistas no Brasil. Pouco
para a dimensão do país que nós temos e acima de muitos países.
Com
redução de 50% para o próximo ano, a Capes hoje é o principal meio de fomento
para as bolsas de mestrado e doutorado. “A pós-graduação reflete na
qualificação do povo brasileiro, na independência científica e tecnológica”,
disse.
Outra
grande preocupação está relacionada à evasão de pesquisadores do Brasil. O País
ficará sem condições de manter o pessoal e programas no Norte e Nordeste. “É
importante colocar essa situação, para que seja revisto esse processo de corte.
O que se prevê é um verdadeiro colapso e estrangulamento da pós-graduação
brasileira, principalmente na região Nordeste”, avalia.
Impacto no Crajubar
Com
os cortes, o índice de evasão pode aumentar na Universidade. Diante da
preocupação da realidade dos cortes, o Reitor Francisco do O' Lima
Junior afirma que é necessário pensar em ações para atuar, com resistência
política e que tenha um sentido institucional, mas acima de tudo
político. “O que a gente assiste hoje no Brasil é o desmonte do que ainda
foi pensado na época do planejamento estruturante para o desenvolvimento
brasileiro”, disse. Ele citou instituições de fomento e a estatal Petrobras
como exemplo dessa realidade.
O
modelo de avaliação dos sistemas de pesquisa e tecnologia do Brasil é um dos
melhores do mundo. No Cariri, conforme o Reitor, há setores importantes que
podem se deter a apropriação do conhecimento científico, a exemplo dos
fármacos, calçados, entre outros segmentos da economia. O Reitor encerrou sua
fala ao destacar a relevância de se estar alerta nesse momento em relação ao
contexto nacional. Lima Junior sugeriu a criação de um grupo de trabalho
para pensar as resistências, não apenas da URCA mas do Cariri.
O
Professor do curso de Letras, Edson Martins, chamou a atenção para o momento de
salvaguarda de existência da instituição e da soberania. Ele avalia que
essa nova realidade representa um abalo não apenas na economia, mas diante de
uma trajetória crescente. “Esses cortes criam desertos geoeducacionais.
Desmonta o fundamento da presença de uma parcela da sociedade organizada”, diz
ele.
O
Professor Waltécio Oliveira, propôs um documento endossando a participação dos
cursos superiores e institutos da região, para possibilitar uma força de
reivindicação, para travar esse processo. “Prefiro um grito de um homem ou de
uma mulher do que o silêncio de uma multidão inteira”, afirmou.
Outras
propostas foram levantadas ao longo do debate, com a preocupação de fortalecer
esse movimento, principalmente no sentido de evitar a saída do aluno da
universidade. Para os professores é o momento de se fazer tudo para atravessar
a crise ou, caso contrário, reverter esse processo será praticamente
impossível.
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