“É uma oportunidade aqui que eu não tive lá fora”. As palavras, ditas pelo detento Leonardo Vasconcelos, de 25 anos, se repetem nas bocas de vários outros alocados na Unidade Prisional Sobreira Amorim, no município de Itaitinga, Região Metropolitana de Fortaleza. O local, que oferece aulas dos Ensinos Fundamental e Médio, possui sete salas, que abrigam duas turmas por dia, de 25 alunos cada. O discurso deles se repete, com a maioria apostando na educação para, quando em liberdade, poder realizar sonhos.

No Ceará, neste ano de 2019, já são 3.450 presos que estudam em 20 sistemas prisionais, sendo 2.390 alunos na Região Metropolitana e 1.060 no interior do estado. A dedicação desses presidiários é recompensada. Segundo Rodrigo Moraes, coordenador educacional da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), a cada 12 horas de aula, um dia de remissão da pena é dada aos detentos.

Em relação ao ano de 2018, o índice de alunos mais do que dobrou: foi de 1.693 para os atuais quase 3,5 mil. Rodrigo Moraes explica a necessidade do ensino para os detentos. “A nossa intenção hoje é não deixar nenhum presidiário ocioso. Eles podem trabalhar ou estudar, e ficam felizes vindo para a sala de aula, eles pensam ‘lá (na cela) eu tô preso, aqui eu sou estudante.’ Eles tinham o crime, agora têm a inclusão social.”, afirma.

Oportunidade
Leonardo Vasconcelos é detento há 8 anos, desde os 18, e já tem 5 filhos, além da esposa, Verônica, que, segundo ele, o aguarda fora da prisão. Dentro das aulas, se destaca pela fala fácil e pela habilidade em matemática.
O que o cearense gosta realmente, porém, é de desenhar. As paredes das salas do Sistema prisional onde ele está alocado são decoradas com cartazes artísticos de autoria de Leonardo.

Apesar do talento, o detento não considera usar os desenhos em uma carreira profissional no futuro. O maior objetivo dele, segundo relata, é seguir a profissão que já tinha antes de ser preso. “Eu era cozinheiro antes, e pretendo continuar quando sair daqui. A arte é só por diversão, gosto de fazer, mas não quero trabalhar com isso”, completa ele, falando ainda sobre a paixão pela culinária nordestina, sua especialidade.

Outra realidade
A professora Eliane Souza, 46, ensina Leonardo e tantos outros detentos desde julho deste ano, quando começou a lecionar em presídios. Ela conta que lhe agrada dar aula em sistemas prisionais, onde os alunos, segundo ela, se esforçam bastante. “Gosto mais de estar aqui do que lá fora. Aqui eles vêm estudar, eles se dedicam. Os alunos lá de fora vão porque os pais puxam a orelha, muitos não querem”.

Outro aluno da professora Eliane é Felipe Alves, de 23 anos. No presídio há 1 ano e 4 meses, ele busca completar o Ensino Fundamental 1, apesar de já tê-lo feito quando em liberdade. Segundo ele, a experiência antiga não foi proveitosa. “Tô buscando a educação que eu não tive lá fora. Estar aqui me ajuda a melhorar a escrita e a fala, o que vai ser muito importante para quando eu voltar para o mercado”, completa.

Assim como Leonardo, companheiro de sala, Felipe era cozinheiro antes de ser preso. Ele pretende retomar a profissão quando estiver em liberdade. Ao contrário do colega, porém, Felipe vê com bons olhos a possibilidade de usar a matéria favorita, português, em alguma outra ocupação profissional.                (G1 CE)

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