FOTO: Camila Lima
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Às
10h29 dessa terça-feira (22), enquanto as máquinas trabalhavam na retirada do
que ainda restava dos escombros do Edifício Andrea, desabado no último dia 15,
voluntários silenciaram. Foram três minutos sem palavra nem sussurro, só gesto:
completava-se uma semana da maior tragédia que o Ceará viveu na sua história
recente. Enquanto o luto ainda se mostra presente, Defesa Civil avalia a
liberação de sete casas interditadas na região e Polícia Civil ouve 18 pessoas
– até a noite de ontem – no inquérito policial que apura responsabilidades
sobre o sinistro que levou nove vidas.
As
mãos dadas, cabeças baixas e corações se elevavam não só aos nomes marcados na
tragédia – mas à esperança trazida por eles. “É um ótimo dia para lembrarmos
dos nossos irmãos que se foram. Se Deus permite que exista o mundo da dor, é
porque quer que surja um novo: o da caridade fraterna. Aqui, brotou vida em
meio aos escombros. A vida dos que foram resgatados, a vida eterna dos que
partiram, a vida nova de todos os que estiveram aqui. Vimos renovada a
esperança de que é possível construir a civilização do amor”, relatou,
emocionado, um dos voluntários.
Passados
oito dias da tragédia, as lembranças das vítimas mortas reaparecem, ainda, por
meio dos pertences, retirados pouco a pouco dos entulhos. As devoluções ocorrem
na sede do 4º Distrito Policial, no bairro Pio XII. Até o início da tarde dessa
terça-feira (22), 14 Boletins de Ocorrência (BOs) foram registrados com o
intuito de requerer objetos encontrados durante as operações, como celulares,
joias, cofre e outros objetos pessoais dos ex-moradores.
Investigação
As
sete casas interditadas no entorno do edifício passaram novamente por vistoria
da Defesa Civil de Fortaleza, ontem. A expectativa, segundo o coordenador do
órgão, Luciano Agnelo, é que os imóveis sejam liberados hoje (23), ao fim da
remoção dos entulhos.
Ainda
no mesmo dia, conforme o secretário da Regional II, Ferruccio Feitosa, a
Perícia Forense do Ceará (Pefoce) pretende “concluir os trabalhos de análise do
edifício para o inquérito do 4ºDP”. Até o próximo sábado (26), o imóvel será
isolado com muros pré-moldados. O trânsito na Rua Tibúrcio Cavalcante já foi
liberado para veículos.
Em
paralelo, a investigação para designar responsabilidades sobre a tragédia segue
em fase de inquérito policial. Um dos 18 ouvidos foi o engenheiro José Andreson
Gonzaga dos Santos, que depôs também, nessa segunda-feira (21), à comissão
especial montada pelo Conselho Regional de Engenharia do Ceará (Crea/CE) para
apuração do caso. Segundo o advogado dele, Brenno de Almeida, o profissional
definiu o prédio como uma “bomba-relógio maquiada”. Ele assinava a obra de
reforma do Andrea, que começaria no dia em que o edifício desabou.
Conforme
o advogado, Andreson e a equipe saíram do prédio, pela manhã, para “comprar
material e reforçar o pedido de escoramento da estrutura já feito a outra
empresa”. Retornaram após 15 minutos, a pedido da síndica. “Ela mandou
mensagem: ‘Andreson, vem aqui, que aconteceu algum problema’. Eles retornaram e
chamaram ela pra mostrar a real situação. Ali, ele percebeu, mas não teve tempo
de gritar ‘pessoal, a estrutura está em colapso’. O prédio gritou, a estrutura
gritou. Ela chegou ao fim. Não teria como ter cautela profissional”, aponta.
Para
Andreson, em depoimento ao Crea, “a estrutura já estava em colapso antes,
devido às intervenções negligentes dos maquiadores” – profissionais que
passaram pelo Andrea em serviços anteriores. “A defesa acredita que há culpas
de órgãos públicos e dos moradores, que só agora estão querendo culpar um
engenheiro profissional que pegou uma bomba-relógio maquiada. Tudo isso será
apurado”, conclui o advogado.
Os
próximos passos, soma, incluem a listagem de quais testemunhas serão chamadas
pela defesa para depor no processo judicial. (Diário do
Nordeste)
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