Sorriso capaz de atravessar um oceano. Este é o sentimento da cearense Maria Valdira de Sousa, de 74 anos, que resolveu ignorar as barreiras da distância e, a partir de uma corrente do bem, proporcionar alegria a meninas e meninos da África por meio da doação de roupas feitas à própria mão. A aposentada aprendeu a costurar com o objetivo de confeccionar roupas para enviar a crianças angolanas. 

“A ideia surgiu bem antes deste Natal, quando soube que a Comunidade Shalom iria enviar missionários ao país africano. Eu, que sempre me comovi vendo a situação das crianças, na televisão, resolvi fabricar as peças de roupa e mandar”, lembra dona Valdira, ressaltando o sorriso ao ver as fotos dos presenteados.

“Eu fico até emocionada porque muitas daquelas crianças nunca receberam uma roupa nova, então, elas ficam surpresas. A gente não tem nem dimensão do quanto isso é importante para elas”.

Vida de Doação 
A iniciativa, no entanto, só foi possível a partir da ação de Benivalda Carvalho, missionária há 21 anos pela Comunidade Shalom. Benivalda já morou no Brasil, nas missões do Macapá (AP), Senhor do Bonfim (BA), Baixo Guandu (ES), Quixadá (CE), e em Portugal, na cidade de Braga. Agora, ela está em Lubango, na Angola. 

“Acho que é impossível alguém chegar à Angola e não se sentir impactado com a realidade. Assusta ver e tocar em realidades que até então só havia visto nos noticiários da TV”, descreve.

Foi através dela que a família de dona Valdira conseguiu enviar as doações. “Neste período do Natal estamos fazendo a distribuição das roupas para estas crianças. Para elas, é desconcertante receber algo além do alimento, como uma roupa nova. Muitas delas nunca tiveram uma roupa nova, então nem sabem agradecer algo que nunca viveram”, relata a missionária. 

Ela também é a responsável por manter contato com a família cearense e repassar, por fotos, todo o auxílio gerado pela ação missionária.

Aprendizado 
Dona Valdira conta que já realizava trabalhos artesanais com retalhos, mas não sabia produzir as peças de roupas. Durante todo o mês de setembro, então, ela precisou aprender a técnica para depois confeccionar o material. “Eu não sabia nem fazer. Agora, na internet, você procura e acha tudo, não é mesmo?”, fala, rindo.

“Outra coisa, eu não tinha muitos recursos. Foram as amigas da Geysa [filha] que fizeram uma doação e consegui comprar os materiais que estavam faltando. Eu me senti feliz em fazer e depois ver a felicidade no rosto de outras pessoas”. 

Corrente do bem 
A iniciativa de dona Valdira rompeu os muros das casas vizinhas e dos familiares, e se estendeu à mais pessoas. Seja com pedaços de tecido, rolos de linha ou até ajuda financeira, as pessoas começaram a se incorporar ao projeto de confecção das roupas. 

“Todo mundo ficou muito comovido, querendo ajudar. Minha tia fez os shorts, outros davam a linha, houve uma mobilização geral", conta a filha de dona Valdira, Geysa Sousa Américo. Apesar disso, ela acredita que é preciso mais: "Isso tudo é só uma gota no oceano dentro da necessidade deles”. 

Ao todo, foram doados 70 vestidos para crianças de um a 10 anos, 55 shorts, além de saias para as mães, peças íntimas para as meninas menores; 16 saias infantis e 16 turbantes, somando um total de 211 peças. 

A Comunidade Shalom está presente no continente africano desde 2007. Em janeiro deste ano, os missionários chegaram a Lubango, a sexta missão em solo africano. Com a experiência gratificante, a família de dona Valdira espera continuar auxiliando a missão de solidariedade. "A gente vai ficar em contato porque tem sempre alguém precisando", conta.                    (G1 CE)

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