Foi necessário somar 3.115 votos individualmente para o servidor público Dummar Ribeiro (PPS) tornar-se vereador de Fortaleza nas eleições de 2016. Ele foi o último a entrar na lista de 43 parlamentares do Município. Para isso, gastou R$ 4,4 mil - principalmente com bandeiras, adesivos, bótons, "santinhos" e inserções em programa eleitoral na TV. O principal agente de sua eleição, no entanto, não lhe custou quase nada: o WhatsApp. 

"Quem me salvou dessa vez foi o Whatsapp. Tenho uma média de 1.200 números de telefone de pessoas que me conhecem. Botei meu filho para se comunicar com esse pessoal, enquanto eu os visitava", relembra Dummar. 

Apesar do teto de R$ 460 mil, as campanhas para vereador, em Fortaleza, passam longe desse limite. Em 2016, o vereador eleito mais votado, Célio Studart (ex-SD, hoje PV), gastou R$ 24 mil. Em 2012, o vereador mais votado, Capitão Wagner, gastou R$ 27,6 mil; já o menos votado eleito, Márcio Cruz, desembolsou R$ 9,8 mil. 

A figura do candidato político que podia andar de casa em casa em quase toda cidade pedindo o voto do eleitorado é inimaginável na realidade de crescimento das grandes cidades. Atingir o maior número de eleitores e ganhar a simpatia deles é o que move as estratégias de campanha e o volume de dinheiro envolvido nelas.

Para as eleições de 2020, paira a expectativa sobre a continuação da influência da internet nas táticas eleitorais e o impacto de se bancar os pleitos com dinheiro público, já que, desde 2015, é proibido o financiamento privado de campanha. 

"Tudo o que você vai fazer em campanha tem um custo. Se vai fazer uma caminhada, o candidato vai beber água, vai ter uma pessoa do lado dele... Isso depende da estratégia", afirma a advogada Isabel Mota, membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Adradep). 

Em 2000, quando Dummar Ribeiro foi eleito vereador pela primeira vez, o contexto de gastos de campanha era outro. Mas o corpo a corpo com o eleitor tinha peso tão grande quanto nos dias atuais. Além dos tradicionais "santinhos", com a foto do candidato de um lado e seu número eleitoral do outro, os carros de som faziam sucesso. 

"Eu tinha uma música que massificava a minha campanha na eleição de 2000 que eu mesmo fiz a composição", relembra Dummar. "Ela começava com: 'você se lembra de mim'", canta o vereador, na entrevista por telefone. "Era um forrozinho que pegou muito na época. Tem gente que ainda hoje lembra essa música", afirma. 

As limitações para o carro de som, referentes ao volume e aos horários, locais e situações em que podem ser usado, preocupa o vereador. "Nessa (eleição) agora, não sei como vai ser, mas o 'zap' vai ajudar muita gente", diz. 

Outros tempos 
A advogada Isabel Mota pontua que as tentativas de reduzir as despesas nas campanhas se fortaleceram em 2006, quando se começou a reparar nos custos não contabilizados das campanhas. 

"Foram proibidos o showmício, as camisas, o outdoor; aqueles itens que se tinha tradicionalmente em campanhas e que tinham um custo financeiro mais elevado. Cada vez mais se tentou diminuir esses tipos de itens principalmente em matéria de propaganda, porque é mais fácil mudar a legislação com relação à propaganda", destaca Mota.

"O primeiro movimento foi o de controlar os fatores que desequilibravam as condições materiais de disputa. O segundo momento foi aquele no qual se reduziu o tempo de propaganda eleitoral e introduziu-se um novo elemento que foram as pílulas de inserções comerciais no rádio e na televisão", frisa o publicitário Ricardo Alcântara, que soma 18 campanhas eleitorais no Norte e Nordeste em seu currículo.

Internet 
Nas campanhas mais recentes, as táticas (e os gastos) para ser lembrado pelo eleitor se mantêm forte na TV e no rádio, na mobilização da militância nas ruas com bandeiras, nas carreatas e na produção de jingles e slogans. Música, vídeos e "santinhos", no entanto, migram cada vez mais para uma mesma plataforma: a internet. 

"A terceira grande mudança é o advento das redes sociais, que forçou uma nova atualização nas regras. Nesse caso, a mudança nas formatações estratégicas foi muito mais radical. A internet fez na política a grande mudança que ela fez em outras áreas", diz Alcântara.                        (G1 CE)

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