FOTO: Camila Lima
Sabendo dos riscos à saúde que uma infecção por coronavírus pode causar, a aposentada Ana Maria Medina de Carvalho Oliveira, 71, mudou rapidamente a rotina para se proteger. "Eu não saio de casa. Não vou nem no elevador desde o dia 17 de março. Só saí para tomar a vacina da gripe", conta. Além da idade avançada, Ana é pré-diabética e controla a pressão com remédios. Ela faz parte de um grupo formado por cerca de 3,6 milhões de cearenses que estão inseridos em grupos de risco com maior propensão a apresentar quadros graves em razão do novo coravírus, seja pela idade ou por comorbidades, conforme pesquisa realizada pelo Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp). 

Para se cuidar, a dona de casa tem suplementado a ingestão de vitaminas, controlado os remédios que já tomava e começou a praticar ginástica em casa. Apesar da angústia vivida no momento, Ana achou melhor conformar-se e adaptar-se à nova situação.

Utilizando dados da Pesquisa Nacional de Saúde feita em 2013, pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp) apontam que 53,7% dos maiores de 18 anos no Ceará podem ser parte de um grupo de risco para o coronavírus. Foram levados em conta idade avançada, doenças como diabetes e hipertensão, além de cânceres, problemas respiratórios, obesidade ou tabagismo. A porcentagem corresponde a mais de 3,6 milhões de pessoas.

Fatores de risco 
Para organizar os dados foram criados dois cenários. No primeiro, foram incluídos como fatores de risco ter idade igual ou maior que 65 anos, ter diagnóstico de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, pessoas que já tiveram um acidente vascular cerebral (AVC), câncer nos últimos cinco anos ou que convivem com uma doença renal crônica. Já no segundo cenário, foram considerados todos os critérios de risco do primeiro e somados a eles a asma, a obesidade e o tabagismo. 

Considerando o primeiro grupo, são 2.294.480 pessoas em risco de ter complicações caso sejam infectadas pelo coronavírus no Ceará. Isso corresponde a 33% da população maior de 18 anos do Estado, segundo a pesquisa. Com a segunda amostra, o número sobe para 3.645.372 de cearenses - mais da metade dos adultos (53,7%). O estudo atenta para o fato de que os números utilizados são de 2013 e portanto podem ter sofrido variações. No Brasil, pelo menos 80 milhões de cidadãos estariam inseridos no segundo cenário pesquisado. 

Dos 1.641 mortos por coronavírus no Ceará, de acordo com dados do boletim epidemiológico da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), 73% eram pessoas de 60 anos ou mais, a maioria sendo do sexo masculino. Cerca de 48,3% dos pacientes que morreram apresentavam doença cardiovascular crônica, 31,8% diabetes, além de outras comorbidades, como asma, doenças renais, hematológicas e neurológicas e até obesidade.

Conclusão 
O estudo conclui que os dados coletados por questionários podem ser úteis para que sejam identificados mais facilmente os cenários de alto risco, já que capacidade de testagem para o coronavírus ainda é limitada em diversos locais do Brasil. Proteger os grupos de risco, principalmente idosos e pessoas com comorbidades, com o isolamento social é mais indicado pela pesquisa. 

Segundo a aposentada Ana Maria, outras amigas e parentes da mesma idade também têm ficado em casa, com consciência do risco caso não cumpram o isolamento. O grupo de oração que mantinha no condomínio parou as atividades desde março. "Agora o terço parou, mas a gente reza em casa". Da vida antes do isolamento, Ana diz que sente falta de ir ao supermercado, atividade quase diária que adorava fazer. Agora quem faz as compras é uma das filhas. A saudade da neta Alice, 4, também pesa e a avó se emociona ao falar que mantém contato com a criança apenas pelo celular há mais de um mês. 

Cuidados diferentes 
Para a infectologista Mônica Façanha, pesquisas como essa podem contribuir para entender o perfil do grupo de risco e ajudar a diminuir a transmissão entre eles. É preciso reforçar, segundo ela, que essas pessoas têm mais propensão a ter uma versão mais grave da doença, defendendo que eles tenham atenção especial. Por isso, em caso de infecção por coronavírus, não basta esperar que o paciente do grupo de risco sinta falta de ar para só então buscar ajuda médica. Ela recomenda que essas pessoas procurem uma unidade de saúde entre o terceiro e o quinto dia da doença. 

Ela explica que a redução no oxigênio do sangue de pacientes com Covid-19 tem acontecido antes mesmo da falta de ar aparente. Buscar o hospital para receber oxigênio complementar pode fazer grande diferença no quadro do paciente de risco. "Principalmente se estiver se sentindo muito 'mole', cansado até para se levantar para ir ao banheiro, só com vontade de ficar na cama, se a febre alta persistir por mais de três dias ou se passar a apresentar vômitos que o impeçam de se hidratar", elenca a infectologista Mônica Façanha.                           (Diário do Nordeste)

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