As demissões desencadeadas pela crise do coronavírus acabaram culminando em um relevante aumento nos pedidos de seguro-desemprego no Ceará. No último mês de maio, por exemplo, os requerimentos ao benefício chegaram a 32.934 no Estado, um crescimento de 64,1% ante o mesmo período do ano passado, que registrou 20.058 solicitações. Os dados constam em relatório divulgado ontem pelo Ministério da Economia. 

O aumento no número de solicitações registrado no Ceará também ficou acima da média nacional para o período, tendo em vista que, em maio, o Brasil atingiu pouco mais de 960 mil pedidos de seguro-desemprego, alta de 53% ante o mesmo mês de 2019. Entre os estados nordestinos com mais solicitações, o Ceará ficou atrás apenas da Bahia, com 48.076 requerimentos. Já nacionalmente, os três locais com maior número de requerimentos foram São Paulo (281.360), Minas Gerais (103.329) e Rio de Janeiro (82.584). 

Para Fábio Zech, superintendente regional do Trabalho e Emprego no Ceará, o fato de o Estado ter sido um dos primeiros a decretar a suspensão da atividade econômica não essencial pode ser um dos fatores que explicam o crescimento acima da média nacional nos pedidos de seguro-desemprego. "Também temos uma das retomadas mais postergadas do País, o que gera um impacto nas demissões e nas solicitações ao benefício. Não estou discutindo se isso é necessário ou não, mas é óbvio que traz consequências", comenta. 

Ainda de acordo com o titular da Superintendência Regional do Trabalho no Ceará (SRTE-CE), a quantidade de solicitações ao seguro-desemprego poderia ser ainda maior se a MP 936, que permite a redução de jornada e suspensão do contrato de trabalho, não tivesse garantido a manutenção de aproximadamente 300 mil postos formais no Estado. "Ainda assim, por conta do cenário de incertezas, várias empresas não aderiram à Medida, já que teria que garantir o emprego de seus colaboradores pelo mesmo período de suspensão do contrato. Assim, muitos optaram por promover o desligamento, ou até mesmo tiveram que fechar seus negócios", diz. 

Zech comenta, também, que prevê um mês de junho "igualmente problemático", já que, mesmo com a retomada gradual da atividade econômica, muitos setores atuam com capacidade reduzida e outros, como bares e restaurantes, só poderão abrir suas portas na segunda quinzena do mês, o que compromete o desempenho do setor. "É preciso ter mais definições e certezas para aquecer a economia e encorajar os empregadores a voltarem a contratar e expandir seus negócios", destaca o superintendente do Trabalho.

Já o analista de Mercado de Trabalho do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Erle Mesquita, diz que o mais preocupante não é o avanço nos pedidos de seguro-desemprego no Ceará, mas, sim, a drástica redução no volume de admissões no Estado, que foi de apenas 12.400 em abril, conforme os dados mais recentes do Ministério da Economia. "Temos, em média, 30 mil contratações por mês no Ceará, mas houve uma forte estagnação por conta da crise. O problema, portanto, não é o avanço nas solicitações ao benefício, mas o fato de estarmos vendo, nos últimos meses, bem mais desligamentos do que admissões", opina. 

Para Erle, a retomada do mercado de trabalho será um processo lento e exigirá políticas públicas, por parte dos governos, para que os trabalhadores tenham mais chances de voltar à ativa e para que as empresas tenham condições de contratar novamente. "Teremos um crescimento da informatização e muitas pessoas precisarão ser requalificadas. Assim, é necessário que exista incentivos de crédito ao pequeno empreendedor, postergação de contribuições, assessoria técnica aos pequenos e treinamento adequado para que os trabalhadores estejam prontos para este novo momento, onde muitas ocupações vão desaparecer e outras vão surgir", finaliza o analista do IDT.                   (O Povo)

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