A pandemia do novo coronavírus vem atingindo não só os pacientes que contraem a Covid-19, mas todos que precisam do sistema de saúde. Além do risco de alguém já doente contrair o novo vírus, há também a superlotação nos hospitais e o medo da contaminação dentro do próprio ambiente de tratamento. 

No Cariri, uma família afirma ter perdido uma ente queria pela suposta recusa de atendimento, com justificativa de que a paciente em questão estaria com a Covid. 

Sarah Teles Damaceno faleceu apenas dez minutos antes de completar 45 anos, após dar entrada no Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo (HSV), em Barbalha. A irmã da vítima, Érica Teles, que acompanhou todo o percurso que durou aproximadamente dez dias entre internação, diagnóstico e falecimento, explica que Sarah foi diagnosticada com leucemia, e havia testado negativo para Covid. Segundo ela, mesmo com o teste, a irmã demorou até conseguir dar entrada no Hospital. 

“No dia 30 de junho, ela começou com um cansaço. Levamos à urgência do São Francisco (o são Camilo), em Crato. Foi dada medicação e o alerta de suspeita de Covid”, conta a irmã. Nos dois dias seguintes, Sarah foi à Unidade de Pronto Atendimento, pois havia passado mal. Na UPA, segundo a irmã, foi medicada e notificada com a suspeita novamente de coronavírus. 

No dia 4, Sarah foi internada no Hospital São Francisco, onde permaneceu até o dia 8. “Ela me mandou mensagem dizendo que tava mal, que tava morrendo”, afirmou a irmã. Até então, Sarah esperava um parecer de um médico hematologista, já que havia testado negativo para Covid-19. “Não queriam tirar ela do setor suspeito de Covid mesmo com teste negativo”, afirma a irmã, que recorreu a uma consulta particular para o diagnóstico da irmã, que foi de leucemia, câncer dos tecidos formadores de sangue. Sarah já havia tratado anteriormente um câncer de mama. 

No próprio dia 8, após o parecer hematológico, Sarah foi levada à Barbalha, onde e ficou em observação e teve alta médica para aguardar uma vaga no setor de oncologia do Hospital São Vicente. “Como o médico falou que ela não podia pegar nenhuma infecção se não ela ia morrer, paguei uma internação particular no Hospital São Miguel em Crato até aparecer a vaga na oncologia”, afirma a irmã. 

“No dia 9 (dia seguinte) o hospital entra em contato comigo dizendo que a vaga tinha sido liberada”, conta a irmã da vítima. Uma ambulância do Samu foi solicitada para fazer a transferência, que ocorreu por volta das 23h do mesmo dia, segundo a denunciante. 

Ao chegar no Hospital São Vicente, a irmã de Sarah afirma que “o enfermeiro disse que não ia receber ela porque era suspeita de Covid, só que ela já estava na central [de oncologia] e tinha sido descartado Covid e confirmado leucemia”, explica. 

A familiar conta que a recusa da entrada e a permanência foçada de Sarah na ambulância do Samu começou a causar a piora da paciente. “A médica do Samu falando que o oxigênio da ambulância estava acabando, e o enfermeiro sem aceitar. Quando o oxigênio estava finalizando, o enfermeiro autorizou a entrada e colocou ela num ‘quartinho à toa’. Minha irmã começou a descompensar e parou [veio à óbito]. Ela não recebeu nenhuma assistência médica nem de enfermagem”, afirma a familiar. 

Em nota, o Hospital São Vicente de Paulo, afirma que a vaga que havia era na enfermaria “para diagnóstico (ainda) e tratamento de ‘possível’ leucemia” necessitando de coleta para exame da doença e que, às 20h do mesmo dia, logo antes do falecimento, a paciente havia apresentado piora no próprio Hospital São Miguel, onde estava antes de ser encaminhada à Barbalha. Antes da transferência, segundo a nota, Sarah teria baixado a saturação de oxigênio para 88% (número preocupante), sendo encaminhada para a UTI e instalada máscara de ar, havendo melhora. 

Ainda segundo o São Vicente, a paciente estava em estado grave e inconsciente, e foi encaminhada sem estar cadastrada pelo Hospital São Miguel, já que havia trocado de hospital no dia anterior, e sem vaga liberada de UTI, apenas em enfermaria. 

Segundo o hospital denunciado pelos familiares, como uma tomografia feita na paciente apontava danos nos pulmões, e já havia internação prévia nesta ala em outro hospital, foi sugerido internamento na Ala Covid, “não aceita pelos familiares”, segundo o São Vicente. “A paciente foi para um leito de isolamento em apartamento com ar condicionado e banheiro individual. Evoluiu com piora clínica, sendo prontamente avaliada pelo plantonista, sendo entubada e reanimada por 30 minutos, sem sucesso”, afirma o HSV. 

O Hospital ainda afirma que os familiares não aceitaram a declaração de óbito “agredindo verbalmente a equipe que prestou assistência médica à paciente”. A nota ainda diz que não houve negligência no atendimento e sim “falha na transferência da paciente do Hospital São Miguel para o São Vicente”, pois a vaga que havia sido liberada era em enfermaria, e Sarah já necessitava de UTI, que não havia disponível no HSV no momento. O hospital denunciado ainda afirma que a médica do Samu “descumpriu o protocolo de transferência, visto que não fez contato com o médico plantonista do Hospital São Vicente para entregar a paciente e apresentar todo seu quadro e necessidade”. 

A filha da vítima, no entanto, afirma o mesmo que Érica. “Levaram ela para Barbalha e chegando lá o médico de plantão não quis atender dizendo que poderia ser Covid e que precisava preencher uma ficha. Nisso minha mãe lá na porta do hospital com oxigênio do Samu”, afirma. “O médico e o enfermeiro lá dentro negligenciando minha mãe”, completa a filha. 

“Quando eu cheguei lá… só vi eles passando com ela pra tentar reanimar. Eu mal cheguei a ver minha mãe. Ela chegou super estável com 97 [de saturação]”, diz a filha em relato. “Ela faleceu 23h50, dez minutos antes de ela fazer aniversário de 45 anos”, completa. Segundo a filha, Sarah já tinha se curado de um câncer de mama e ia todo mês ao Hospital buscar remédio pra impedir a volta da doença. 

Veja a nota do Hospital na íntegra:




(Fonte: Portal Badalo)

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