FOTO: Fábio Lima
Uma semana depois do início do processo de reabertura dos restaurantes em Fortaleza para almoço, o consumo voltou aquém do esperado. Mesmo com autorização do Plano de Retomada Econômica para o funcionamento da atividade até 50% da capacidade, a média de ocupação nos estabelecimentos tem ficado entre 20% e 30%, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel). A previsão é que este percentual cresça na medida em que os números da pandemia caiam e a confiança do consumidor em sair de casa aumente. Porém, a preocupação é que muitas empresas não sobreviverão até lá. 

Mais de 30 mil demissões já foram contabilizadas no Estado (25% dos empregos), segundo a entidade. E o fechamento de empresas do setor deve chegar a 30% no Ceará. 

"O impacto da pandemia no nosso setor foi muito forte, fomos uns dos primeiros a fechar e seremos um dos últimos a reabrir de forma plena. É importante ter sido feito de forma gradual, pela questão da segurança sanitária, para ver como o consumidor se comporta, mas o prejuízo é inegável. Principalmente, porque somos um setor que emprega muita gente, tem um custo de operação alto e 96% das nossas empresas são micro ou pequenas", afirma o presidente da Abrasel no Ceará, Rodolphe Trindade. 

Ele reforça que o setor já vinha enfrentando graves dificuldades nos últimos anos. Desde as sucessivas crises política e econômica, que afetam a conjuntura nacional desde 2013, como também fatores locais, como a polêmica em torno da cobrança dos alvarás, em 2018, ou a greve dos policiais, no início do ano passado, que têm contribuindo para o estremecimento dos negócios. 

"Uma grande preocupação é como garantir este reinício, que será gradual, depois de três meses praticamente sem faturamento e com a volta de todos os encargos?", avalia Rodolphe. 

Dados da Junta Comercial do Ceará mostram que, nos primeiros seis meses deste ano, 846 estabelecimentos relacionados à alimentação fora do lar (bares e outros estabelecimentos especializados em servir bebida, com entretenimento; bares sem entretenimento; restaurantes e similares; e lanchonetes ou similares) encerraram as atividades no Estado. Ainda assim, não são maiores do que o observado no ano passado: 929. Queda de 9,81% no período. Em iguais datas, segundo dados da Jucec, o número de formalizações subiu de 2,6 mil para 2,8 mil.

Para o economista Vitor Leitão, as incertezas que rondam o período, sobretudo, em relação à perda de renda e à insegurança do consumidor em relação ao vírus, são fatores que tendem a alterar essa curva nos próximos meses. Ou seja, ainda haverá uma piora, antes de uma recuperação mais sólida ser observada. 

"Algumas empresas ainda estão avaliando a situação, muitas tiveram a opção de suspensão de contrato, e a folha de pagamento tem um peso grande. Mas acabando este período, os funcionários voltando, aluguel com valor cheio, os custos voltam à tona, a dificuldade aumenta e é provável que aumente o número de fechamentos". 

A digitalização de processos e o delivery têm ajudado a amortecer as perdas no período. Porém, em muitos casos, estes recursos não têm sido suficientes para garantir a sobrevivência até o fim da pandemia. Vários estabelecimentos conhecidos do circuito gastronômico e de lazer de Fortaleza, como o Mambembe, Boozers, 100 Petiscos, Floresta Brasil e L'Café, já anunciaram o encerramento definitivo das atividades. 

Um cenário que vem se repetindo Brasil adentro. De acordo com a Abrasel nacional, um a cada quatro negócios já sucumbiram à crise e mais de 1,2 milhão de empregos já foram perdidos.                    (O Povo)

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