FOTO: George Wilson
Nem diante dos cenários mais difíceis de escassez de água, estiagem severa, quem vive no meio rural imaginou que algum dia um vírus pudesse cancelar a tradicional Feira Agropecuária do Crato, que acontece há 69 anos. O evento foi criado há 76 anos e não é a primeira vez que deixa de acontecer, mas por conta de uma pandemia, foi a pioneira. Com esse período que estamos vivendo e sem perspectivas de quando tudo isso acaba, os gestores da feira decidiram que não teremos a Exposição Agropecuária do Crato, a Expocrato em 2020. 

Ao longo dos anos de criação, a cidade de Crato e todo o Cariri, vivem a famosa feira. Ela é realizada com apoio do Governo do Ceará, através da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) e com participação também das associações rurais. Criadores e produtores de todo o Brasil, expõe bovinos, ovinos, caprinos, equinos e tecnologias agropecuárias no Parque de Exposições Pedro Felício Cavalcanti. 

O evento reúne milhares de visitantes de cidades do Cariri, de estados vizinhos e de outras regiões do país, aquecendo consideravelmente comércio e turismo locais. A decisão de não realizar a 69ª edição, foi tomada levando como base os decretos de isolamento social do Governo do Estado e as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Agronegócio 
De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, o agronegócio tem sido reconhecido como um vetor crucial do crescimento econômico brasileiro. Em 2019, a soma de bens e serviços gerados no agronegócio chegou a R$ 1,55 trilhão ou 21,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Dentre os segmentos, a maior parcela é do ramo agrícola, que corresponde a 68% desse valor, ou seja, R$ 1,06 trilhão, a pecuária corresponde a 32%, o equivalente a R$ 494,8 bilhões. 

Para mim, zootecnista e consultor rural, a feira cresceu significativamente e, consequentemente, cresceu também a participação dos criadores caririenses nos pavilhões da Expocrato. Para se ter ideia, em 2019 aproximadamente 90% dos expositores de bovinos eram integrantes da Associação dos Criadores do Cariri (ACC). 

Sem dúvidas, o evento é importante demais para a região, o Estado e até mesmo em âmbito nacional, pois há apresentação genética dos melhores animais, mostra de tecnologias para aumentar a eficiência da propriedade rural, incentivos e conhecimento sendo repassados durante todo o evento. Além do que, este ano o mercado está aquecido, a arroba de boi vem ganhando preço, a procura de matrizes e reprodutores bovinos de corte e leite, ovinos e caprinos está sendo efetiva. 

Para um dos gestores da feira, Luiz Gonzaga de Melo, “Os produtores rurais alegam a não realização como um prejuízo incalculável para o município e região, uma vez que todos os setores ligados ao agronegócio serão afetados. Este ano, segundo eles, teria tudo para ser um grande evento, com precipitação pluviométrica satisfatória e formação de suporte forrageiro suficiente, possivelmente sendo umas das melhores edições dos últimos anos”, explica. 

Mesmo assim produtores se articulam nas redes sociais negociando seus animais e indo em busca de melhorar seu rebanho. Profissionais da área estão sendo mais requisitados em propriedades rurais, estou atendendo de forma remota e presencial quando necessário, trabalhando num ritmo diferente, claro, de forma presencial devemos tomar todos os cuidados possíveis. 

Quem trabalha no meio rural sabe que reunir esses produtores é complicado mesmo antes da pandemia e a Expocrato, era uma forma de reuni-los, como a gente chama, um meio de “abrir as porteiras da fazenda” e mostrar o que tem de melhor. Assim, mesmo de forma pouco tímida e com apoio de profissionais da área rural, vemos produtos sendo comercializados nas redes sociais e grupos fechados de WhatsApp. 

Produtores e criadores se especializaram em criar, editar e analisar vídeos e fotos levando seus produtos além das fronteiras, a empatia toma conta das conversas e quando o comprador se desloca a propriedade rural já sabe o que vai levar e o seu preço, a visita é apenas para conferir a mercadoria e se aproximar melhor da nova fonte de comércio. Além da articulação ser conjunta e a compra fica mais em conta com gastos de deslocamento. 

É vida que segue, novas estratégias, novos conceitos e novas tecnologias. A pandemia vai passar e ano que vem, torçamos por uma Feira Agropecuária ainda maior e melhor!

(Por Niraldo Muniz / Site Badalo)

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