O novo coronavírus impôs cuidados que, se por um lado ajudam a conter a disseminação da Covid-19, por outro criaram desafios adicionais ao enfrentamento de outras doenças. Uma das consequências da pandemia foi o atraso no diagnóstico e a interrupção do tratamento de casos de câncer. Situações que, segundo especialistas, podem contribuir para o agravamento da enfermidade que, muitas vezes, não pode esperar. 

No Estado, o hospital de referência oncológica Haroldo Juaçaba contabiliza que, dos 4 mil pacientes que fazem quimioterapia na unidade, cerca de mil interromperam o tratamento devido à chegada do vírus. “Essa interrupção foi validada com o corpo clínico, que sinalizou quais pacientes poderiam interromper temporariamente seus tratamentos, sem prejuízos ou riscos futuros. Em geral, pacientes em fase de consolidação de tratamento ou simplesmente em seguimento após a conclusão das terapias”, explica Reginaldo Costa, superintendente clínico do hospital. 

A unidade atende pessoas vindas do Interior para tratamento e estima que 60% deixou de comparecer entre os meses de abril e junho. “A gente escuta com muita frequência sobre a dificuldade que tem sido a busca do transporte para acessar a instituição”, relata Reginaldo. De acordo com o superintendente, no pico da pandemia, os atendimentos chegaram a ter 50% de redução. Nesse momento, biópsias realizadas tiveram queda de 40% e as cirurgias também reduziram pela metade. 

Nacionalmente, um levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), junto a serviços especializados em todo o País, projeta que 7 em cada dez cirurgias para tratamento de câncer não foram realizadas devido à pandemia. A projeção compara os três meses entre 11 de março e 11 de junho de 2020 ao mesmo período de 2019 e contabiliza procedimentos tanto na rede pública de saúde quanto em planos privados. 

“Agora, semelhante ao que acontece no resto do País, os hospitais no Estado estão se organizando para estabelecer um fluxo livre de Covid”, afirma Paulo Eloi Leitão, presidente da SBCO no Ceará. “No fim de abril, estava mais complicado para estabelecer isso pela grande demanda específica para o novo coronavírus e até pela falta de suprimentos. Mas nesse momento as coisas tendem a voltar ao normal”, analisa. 

Os fluxos “Covid free” fazem parte das recomendações da SBCO e consistem em destinar alas ou todo o hospital para os quais pessoas com a Covid-19 não seriam encaminhadas. Junto a medidas sanitárias, a estratégia diminuiria o risco de infecção pelo vírus em quase a totalidade e reduziria o impacto sobre as demandas oncológicas represadas. No HJ, a previsão é de que a unidade volte a atender 100% da demanda usual até o início de agosto. 

Desde março, a portaria nº 295 suspendeu todas as cirurgias e os atendimentos ambulatoriais eletivos no Ceará, mas manteve todos os procedimentos para pacientes oncológicos. Assim, os hospitais de referência oncológica disponibilizaram serviços de teleconsulta e outras formar para diminuir o risco aos pacientes e, ao mesmo tempo, mantiveram os atendimentos a quem necessitava com urgência.                               (O Povo)

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