FOTO: ANTONIO RODRIGUES
Há quase quatro meses sem aulas devido à pandemia da Covid-19, universitários da região do Cariri sentem o prejuízo em ter o ensino interrompido. Na Universidade Federal do Cariri (UFCA), que aprovou nesta terça (7) o chamado "período letivo especial", a partir de aulas remotas facultativas - mas ainda sem data prevista, os alunos cobram o retorno dos cursos. Na Universidade Regional do Cariri (Urca), os anseios são os mesmos, mas ainda não há perspectiva de uma possível volta. 

O estudante do curso de Medicina da UFCA, Bruno Barreto, defende que há mecanismos de retorno, embora acredite que seja precipitado que as aulas aconteçam presencialmente neste momento. "O que indigna é o descaso. A universidade demorou muito para se posicionar", enfatiza. 

Assembleia realizada no último dia 7 sinalizou o regresso das aulas mas sem data confirmada. Amanhã (10), o conselho se reúne para discutir a volta, que pode ser em 21 de setembro. Para Barreto, a paralisação das aulas na Medicina tem, ainda, impactos importantes na própria sociedade, já que possui um ambulatório que atende pacientes como hipertensos e diabéticos. "Temos que nos adaptar a este 'novo normal' com cautela, mas têm sido lançadas propostas inviáveis. Por exemplo, trazer o retorno remoto desde que todos os alunos, de todos os cursos, tenham acesso. Por mais que acredite que seja o ideal, a falta de inclusão digital é um problema", diz. O estudante defende que haja um retorno das aulas práticas remotas das disciplinas teóricas para, em um cenário mais favorável, vivenciar as aulas práticas. 

Uma proposta elaborada pela Pró-Reitoria de Graduação (Prograd/UFCA) e a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae/UFCA) defende que a oferta de disciplinas seria opcional pelos professores. A adesão à modalidade a distância também seria livre para os estudantes, sem necessidade de trancamento do semestre, caso os discentes prefiram esperar o retorno presencial. 

Para aumentar a adesão, propõe a ampliação do Auxílio Inclusão Digital, criado há dois anos, que seria potencializado com recursos dos restaurantes universitários, atualmente paralisados, com perspectiva de atender até 2.500 estudantes da graduação em vulnerabilidade socieconômica, que representa metade do corpo discente. Eles receberiam um valor de até R$ 1.300 para compra de novos equipamentos, consertos ou upgrade nos seus aparelhos. Além disso, seriam beneficiados com um voucher de R$ 60 a R$ 70 por mês para custear gastos com internet. 

Riscos 
O professor e secretário-geral do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (Adufc), Tiago Coutinho, defende a proposta, já que hoje não há condições de ter um retorno de aulas presenciais. "Em Juazeiro do Norte a curva está em uma ascendência absurda", observa. Por outro lado, com o ensino remoto, o docente acredita que cada curso poderá se adaptar. "Na nossa avaliação, não deve ser ofertada a mesma quantidade de disciplinas que antes. Não é saudável. Eu posso hoje estar bem, mas amanhã posso estar doente", justifica Coutinho. 

Sobre a "demora" em decidir pelo retorno das aulas, mesmo que remotas, Coutinho revela que havia uma esperança da pandemia ser controlada. "Muito se acreditava que agora estaríamos numa situação, no Brasil, mais segura", pontua. "Mas se existe essa sensação de demora, não é responsabilidade apenas da Universidade, mais da conjuntura. Havia expectativa de um retorno agora, em agosto, mas não é isso que está acontecendo. Não tem perspectiva de quando a curva vai diminuir", completa. 

O assunto gera divergência entre os alunos. A estudante do curso de Jornalismo, Lara Alencar, acredita que, mesmo com ensino remoto, as aulas só deveriam retornar em 2021 e que a Universidade tem atendido a uma pressão para que isso aconteça o mais breve possível. 

"Acho que devemos olhar a pandemia, em como ela afeta os estudantes e começar a traçar um ensino remoto ou módulos e minicursos mais para frente. Dar capacitação aos professores, condições de computadores a quem não tem acesso a Internet". 

O diretor do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais no Estado do Ceará (Sintufce), Wagner Pires, acredita que o mais importante é a segurança da categoria. "Analisando a curva da Covid-19 no Ceará, a gente entende que não é o momento de atividades presenciais".                    (Diário do Nordeste)

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