Cientista do Instituto Butantan, em São Paulo, cogitou realizar estudos clínicos sobre vacina em Fortaleza. FOTO: AFP
Apesar de ter sido excluído dos primeiros testes de uma potencial vacina chinesa contra o novo coronavírus, o Ceará ainda pode participar dos próximos estudos clínicos sobre a imunização. É o que revelou, nesta quinta-feira (2), Ricardo Palacios, diretor do estudo da vacina chinesa CoronaVac e gerente médico de ensaios clínicos do Instituto Butantan, sediado em São Paulo, durante uma entrevista coletiva online acompanhada pela reportagem do Sistema Verdes Mares. 

Para justificar esse interesse, ele citou a reputação cearense na área científica e a tradição médica local no combate a doenças infectocontagiosas. "Fortaleza tem uma tradição enorme de fazer bons estudos clínicos e excelentes centros. Vamos dar um jeito de levar estudos para Fortaleza e outras cidades", disse. 

Palacios também explicou por que a capital cearense não entrou no roteiro dos testes da vacina que devem começar, na próxima semana, em cinco estados do País (São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais) e em Brasília, no Distrito Federal. Nenhum estado do Norte e do Nordeste está na lista. 

"Com certeza foi um dos centros que conseguiríamos (fazer os testes), mas aparentemente, (o total de casos) já estabilizou e está tendendo a cair. Por isso talvez não foi uma das (cidades) que selecionamos", justificou.

Vacina de Oxford 
Durante coletiva online, foram discutidas as duas vacinas em testes atualmente no Brasil: além da candidata chinesa do laboratório Sinovac, há ainda o imunizante testado pelo grupo farmacêutico britânico AstraZeneca com a Universidade de Oxford, cuja vacina será testada em apenas um estado do Nordeste, a Bahia. 

A esperança é que o País tenha, até janeiro de 2021, a distribuição da vacina britânica, caso o resultado da fase 3 mostre eficácia em 50 a 70% das pessoas testada. 

O gerente do Instituto Butantan destaca o impacto da chegada de um antígeno. "Não vamos acabar com o coronavírus com uma vacina. O vírus veio para ficar e vai nos acompanhar pelo resto da vida. A vacina pode tornar a doença controlável", comentou.

Já Esper Kallas, pesquisador do centro coordenador do estudo da CoronaVac, destacou a importância de a ciência dispor de vários projetos de vacinas em desenvolvimento. 

"Ter várias vacinas pode ser útil num outro ponto de vista. É possível que a melhor estratégia  de induzir uma resposta imune seja combinações, pode ser uma solução ainda melhor. Ter vários candidatos é sempre positivo". 

Os especialistas expressaram ainda preocupação com as campanhas anti-vacinas, demonstrando a necessidade dos governos de diversos países agirem em defesa às campanhas de vacinação e incentivo.

Transferência de tecnologia 
No último dia 11 de junho, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou um acordo com o laboratório chinês Sinovac Biotech para produzir sua vacina contra o coronavírus no estado de São Paulo, onde testes com 9.000 voluntários serão feitos. O Instituto Butantan chegou a um acordo de transferência de tecnologia com a Sinovac Biotech. 

"Os estudos mostram que a vacina pode ser distribuída até junho de 2021", se os testes forem conclusivos, disse Doria. "Esse acordo nos permitiria produzir em grande escala e imunizar milhões de brasileiros". 

A Sinovac Biotech, um dos quatro laboratórios chineses autorizados a realizar ensaios clínicos de vacinas, disse, em maio, que estava preparado para produzir 100 milhões de doses da vacina com nome comercial Coronavac. 

Em São Paulo, 9.000 voluntários receberão doses dessa vacina a partir de meados de julho, na terceira e última fase dos testes. 

Oxford 
No mês passado, a Universidade Federal de São Paulo anunciou que uma vacina que está sendo desenvolvida pela Universidade de Oxford começou a ser testada em 2.000 voluntários brasileiros. 

Doria usou a divulgação do acordo com Sinovac Biotech, que descreveu como "histórico", para criticar o presidente Jair Bolsonaro. "Tivemos que superar as divergências do Brasil com a China, com outros países e com organizações como a OMS", disse ele, referindo-se às críticas à China por vários ministros de Bolsonaro. 

Em março, um dos filhos do presidente acusou a "ditadura" chinesa de esconder o que sabia sobre o coronavírus, incitando Pequim a pedir desculpas.  Bolsonaro também ameaçou retirar o Brasil da Organização Mundial da Saúde - como fizeram os Estados Unidos em maio - acusando-a de "viés ideológico". 

Em relação à controvérsia, Doria disse: "A politização da doença nunca salvou uma vida, pelo contrário". 

Desde o início da pandemia, Bolsonaro vive um conflito com os governadores por causa das medidas de quarentena que adotaram para impedir a propagação do vírus. E continua a pressionar pela retomada das atividades econômicas, embora as infecções continuem a aumentar.                  (Diário do Nordeste)

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