FOTO: José Leomar
Mesmo com as aulas presenciais suspensas desde o último mês de março devido à pandemia, quase quatro mil estudantes foram infectados pelo novo coronavírus no Estado do Ceará. De acordo com a plataforma IntegraSUS, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), até o fim da tarde de ontem, 3.998 discentes testaram positivo para Covid-19 em um prazo de seis meses. Oito mortes de estudantes em decorrência da doença foram registradas pela Pasta. 

O Estado já soma 198.252 diagnósticos positivos para Covid-19 e 8.172 mortes, abrangendo todos os públicos. Quando comparados os dados é percebido que 2% dos casos confirmados é composto por estudantes. 

As estatísticas mostram também que o maior número de alunos infectados está na região do Cariri, precisamente em Juazeiro do Norte, com 537 casos. Em seguida estão os municípios de Sobral, com 267; Fortaleza, 266; Crato, 151; e Tianguá, 110. Até ontem, 10.378 exames já haviam sido feitos em estudantes. 3.663 estão como casos recuperados. 

Apenas nove das 184 cidades cearenses não apontaram nenhum caso de estudante diagnosticado com Covid-19, foram elas: Abaiara, Aiuaba, Altaneira, Antonina do Norte, Ibaretama, Jati, Penaforte, Saboeiro e Tarrafas. 

A maior parte das mortes dos estudantes aconteceu em Fortaleza. Só na Capital foram cinco óbitos. Os demais ocorreram em Acaraú (1), Itapajé (1) e Paracuru (1). Seis do sexo masculino e duas do sexo feminino. A taxa de letalidade entre este público especificamente é de 0,2%, enquanto a taxa estadual está em 4,1%. 

As vítimas compunham diversas faixas etárias, sendo apenas uma ainda jovem, de 15 a 19 anos. A mais velha, conforme a Sesa, tinha 80 anos ou mais. Quatro estudantes infectados eram da raça parda, dois brancos e os demais estão entre os óbitos de raça/cor não informados. Não há informações oficiais se elas tinham ou não comorbidades que pudessem agravar o quadro de saúde quando infectadas. 

Isolamento 
Desde o último mês de março, quando o primeiro decreto de isolamento social foi emitido pelo Governo do Ceará, as aulas presenciam das escolas públicas e particulares foram suspensas. Conforme fala do governador Camilo Santana, caso os indicadores da doença permaneçam em queda, há previsão para autorização do retorno gradual das aulas presenciais a partir do próximo mês de setembro. 

“Aulas de escolas e universidades presenciais não ocorrerão ainda no mês de agosto. A previsão para a retomada das aulas, tanto privadas quanto públicas, está prevista apenas para o mês de setembro. Durante todo o mês de agosto faremos reuniões para definir protocolos”, disse o governador em transmissão nas redes sociais. 

O epidemiologista Luciano Pamplona destaca que a população idosa estudante é pequena, no entanto, diversas doenças fazem com que pessoas de qualquer idade componham grupo de risco da Covid-19. O médico opina que estas pessoas não devem retornar às aulas presenciais. 

Segundo Luciano, o que se tem visto no momento, principalmente, na Europa, é compatível com a situação exibida no Ceará por meio dos números. Mesmo com as escolas fechadas os estudantes foram infectados de alguma forma, no entanto, o retorno presencial precisa estar condicionado às diversas premissas. 

“Essa informação foi reforçada depois do anúncio que o governador fez, de que as aulas remotas devem continuar até dezembro. Então mesmo com as aulas híbridas nem aluno, nem funcionário, nem professores incluídos no grupo de risco devem voltar presencialmente. Por precaução mesmo. Reforço que este retorno deve ser escalonado e as escolas têm que garantir o uso de máscara, o álcool em gel e o distanciamento entre as cadeiras. Cada escola deve diminuir ao máximo o risco de contaminação”, ressaltou o epidemiologista. 

Retomada 
O presidente do Sindicato dos Professores e Servidores da Educação da Rede Pública do Estado do Ceará (Apeoc), Reginaldo Pinheiro, considera que o número poderia ser maior caso não houvesse a paralisação das aulas presenciais. De acordo com Reginaldo, a escola é um ambiente de integração e há muita precariedade na estrutura dos equipamentos públicos, “uma vez que 300 alunos têm que dividir o mesmo bebedor, por exemplo”. 

“Lamentamos as mortes, com certeza, mas, sem dúvidas, esse número seria mil vezes maior com as aulas físicas. Costumamos dizer que aula a gente repõe, mas a vida não. E outra que esse número de acometidos não foi em ambiente escolar, certamente. Muito disso vem do convívio social em si. Daí a nossa posição de que este não é o momento para o retorno presencial, tendo em vista que a pandemia ainda não está controlada. O fato dos equipamentos escolares em geral não terem um ambiente ventilado, tudo isso interfere na contaminação. Nós recebemos relatos de professores que perderam alunos ou que estavam doentes, principalmente jovens. As crianças, mesmo que assintomáticas, têm a capacidade de contaminar o grupo de risco”, se posicionou Pinheiro, em nome da Apeoc.

A opinião pela retomada ou não das aulas presenciais motiva permanentes discussões. No último dia 7 de agosto, representantes de associações de escolas particulares do Ceará se reuniram em protesto reivindicando o retorno das aulas presenciais na Capital. O ato aconteceu na Praça da Bandeira, Centro de Fortaleza, e contou com a participação de quase 150 pessoas. Com cadeiras escolares enfileiradas na praça, os participantes assistiram a uma aula sobre o direito de escolha das famílias para decidirem se querem que as aulas sejam presenciais ou remotas. 

Segundo o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe), eles defendem o retorno imediato das aulas presenciais de forma responsável e segura. “É importante ressaltar que a retomada será escalonada e que as escolas adotaram medidas para garantir a segurança dos alunos, professores e demais profissionais das instituições de ensino desde 20 de julho, data inicialmente dada pelo Governo para a reabertura das escolas”, garante o sindicato. 

A reportagem também entrou em contato com Sesa e Secretaria da Educação do Ceará (Seduc-CE), mas até a publicação não recebeu retorno.                               (Fonte: Diário do Nordeste)

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