Moradores de Jati saíram de suas casas após rompimento da tubulação da barragem. FOTO: Lorena Tavares
A noite desta sexta-feira (21) foi de medo para José Adauto, morador de Jati. Ele presenciou o rompimento da tubulação da barragem que recebe as águas da Transposição Rio São Francisco. "Foi um susto grande, ontem foi um filme de terror mesmo. Coisa feia, horrível, nunca vi na minha vida uma coisa daquela", conta o comerciante. 

José Adauto, 50 anos, conta que começaram a perceber o vazamento por volta de 17h. Ele estava em casa, quando foi avisado por vizinhos do rompimento. "Começou o corre corre, todo mundo correndo, o povo alarmando 'a barragem estorou, estorou, estorou'", relata.

O comerciante conta que antes de ir para uma área mais alta da cidade, foi até o local do vazamento. "Era muita água, era coisa feia. Tinha uma casinha embaixo, a água levou a casa, levou o poste, levou tudo", descreve. 

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Regional, duas mil pessoas foram evacuadas dos arredores da barragem. A evacuação foi feita com pessoas que moram a até 2 km da barragem, conforme o ministério. A medida está prevista no Plano de Ação Emergencial (PAE) do empreendimento. 

Segundo o coronel Luís Eduardo Soares de Holanda, comandante geral do Corpo de Bombeiros, que está na cidade para acompanhar a situação, cerca de 160 famílias saíram de suas residências. A maior parte os moradores foi para a casa de amigos e parentes, e alguns foram levados para equipamentos públicos. 

"A gente vai avaliar ainda a necessidade de retirada daquela comunidade mais próxima à barragem mas sob um caráter absolutamente preventivo. Não tem uma situação crítica no que se refere à segurança do equipamento”, explica o coronel. 

A área ao redor da barragem, em um raio de 2 km, foi isolada e só é permitida a presença de técnicos e membros do ministério. Uma reportagem do DN esteve no local e presenciou a intensa movimentação de caminhões com materiais de construção e de carros de polícia. 

Devido ao risco da barragem estourar, José levou seus filhos, netos e alguns amigos para a outra casa da família em Jati. Ele afirma que não pretende voltar a morar em sua casa próxima à barragem, devido ao medo. "O susto foi grande. Ainda hoje to me tremendo. Nunca imaginei que ia acontecer", ressalta. 

O aposentado José Cândido de Oliveira, foi um das pessoas que Adauto levou para a casa. Diferentemente do amigo, Cândido conta que já imaginava que um acidente na barragem poderia ocorrer. "Eu falava que não sabia, porque quem sabe é Deus, mas que essa barragem aí é perigo. Se não correr, morre", afirma. 

Ele estava em casa, jantando, quando foi avisado do vazamento. O aposentado conta que só conseguiu seus documentos e sua sanfona, antes de sair de casa. "Eu tenho 75 anos, mas eu tenho muito medo", relata Cândido.

Rompimento 
O Eixo Norte da transposição foi inaugurado em junho pelo presidente Jair Bolsonaro em junho. O vazamento se deu um dia após o ministro Rogério Marinho abrir a comporta que libera água da barragem de Jati para o Cinturão das Águas do Ceará (CAC), ainda em fase de testes. 

Esta etapa, chamada "eixo emergencial", de 53 Km, promete garantir a segurança hídrica da Região Metropolitana de Fortaleza, sendo transportada pelo fluxo natural dos rios Salgado e Jaguaribe até o açude Castanhão. 

A tubulação se rompeu após a abertura de uma comporta da barragem, após a sangria do reservatório. De acordo com o secretário de Recursos Hídricos do Ceará, Francisco Teixeira, o jato d'água causou um pequeno processo erosivo, mas que não aparenta comprometer a estrutura. 

"Na ombreira direita, tem uma tubulação que se incia em concreto e depois um bloco, onde está a emenda da tubulação em concreto com a tubulação em aço. Então, parece que nessa emenda houve um rompimento, um vazamento da tubulação. Então, esse jato d'água é devido à pressão", explicou o secretário. 

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, ainda não foi possível avaliar se a barragem sofreu danos com o forte fluxo de água que ocorreu durante o vazamento, reparado ainda na noite de sexta. No entanto, o evacuamento foi feito de forma preventiva para evitar riscos às famílias que moram próximo ao local. 

O governador Camilo Santana visita a área da obra para acompanhar a situação. Agentes dos Bombeiros e da Defesa Civil foram enviados à área para reforçar as ações.                        (Diário do Nordeste)

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