FOTO: Tânia Rêgo
O Ceará registrou uma queda de 48,4% de transplantes de órgãos nos primeiros seis meses deste ano, em comparação com igual período do ano passado. De janeiro a junho de 2020, foram realizados 380 procedimentos, enquanto em 2019 foram 737. Os dados são organizados pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) e divulgados nesta quarta-feira (12). 

O destaque negativo ficou com os transplantes renais devido à redução de 50,76% no período analisado. Foram 65 cirurgias do tipo neste ano e 132 transplantes no primeiro semestre de 2019. Também tiveram queda os transplantes de córnea (51%), de coração (50%), de medula óssea (46%) e de fígado (34,3%). Não foram feitos transplantes de pâncreas e de pulmão neste primeiro semestre.

No Relatório Brasileiro de Transplantes, produzido pela ABTO, a queda acentuada dos procedimentos renais preocupa em vários estados brasileiros, com destaque também para o Ceará. “Com exceção dos estados da região Norte, que praticamente suspenderam os transplantes, os estados mais afetados foram Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará. Analisando por região, apenas a Centro-Oeste apresentou pequeno aumento (2,2%) e houve queda importante na Norte (74,4%) e Nordeste (46,1%) e menor na Sul (3,1%) e Sudeste (17,2%)”.

Na contabilização feita pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), nos primeiros seis meses deste ano, foram feitos 396 transplantes no Estado e 762 no primeiro semestre do ano passado. A Sesa relacionou a queda às restrições de captação de órgãos durante a pandemia, por meio de nota. 

“Por se tratar de uma doença infecciosa, as recomendações do Ministério da Saúde, conforme nota técnica nº 25/2020, foram a suspensão da busca ativa e da captação para doação de tecidos em doador falecido por parada cardiorrespiratória e a realização de transplantes somente em situações de urgência, após investigação laboratorial confirmatória para SARS-CoV-2”, explica a Pasta. 

Eliana Barbosa, coordenadora da Central de Transplantes do Ceará, relata que o procedimento adotado desde o início da pandemia é dimensionar os riscos dos transplantes. "Em abril e maio, que pra gente foram os meses com maior impacto por causa da Covid, não realizamos transplantes de coração, de pulmão e nem o transplante renal, mas mesmo nesses dois meses, mais críticos, a gente realizou transplantes de figado e de córnea", pondera. O Estado foi o primeiro a testar os doadores para identificar o novo coronavírus como forma de garantir a segurança dos procedimentos. 

Impactos 
O Relatório de Transplantes analisa a propagação diferenciada do novo coronavírus nas cidades brasileiras e, dessa forma, períodos críticos distintos impactam na regulação do número de transplantes. “Embora o pico tenha ocorrido em algumas regiões, não houve, como em outros países, uma queda rápida nas taxas de transmissão e de morte em alguns estados, pressupondo a manutenção desse quadro por alguns meses, possivelmente, até o início da vacinação, talvez no final deste ano ou início do próximo”, acrescenta o texto. 

Os impactos são percebidos pelos pacientes que necessitam de procedimentos como hemodiálise aumentam em número e, nos casos de comprometimento de órgãos vitais, há maior número de óbitos, como analisa o médico Huygens Garcia, presidente da ABTO. “No Ceará, agora na segunda quinzena de julho e a primeira quinzena de agosto, começou haver retorno das doações e, consequentemente, dos transplantes, mas outro fator que preocupa ainda é que nossa taxa de negação familiar é alta”, pondera. O dado mais recente evidencia que 39% das famílias entrevistadas recusaram a doação de órgãos.                                   (Diário do Nordeste)

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