Pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (URCA) foram responsáveis pela descoberta de uma nova espécie fóssil de lagostim, encontrado na Antártida. O trabalho foi realizado em parceria com o Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade do Contestado e Universidade Federal do Espírito Santo. Lá, foram encontradas duas peças espécimes, que foram classificados no gênero Hoploparia em uma nova espécie, H. echinata. 

O material foi coletado na área denominada de Lachman Crags, em janeiro de 2016, na Ilha James Ross, em expedição de pesquisadores brasileiros.  Algumas partes do animal estavam deslocadas do corpo, como uma porção da cabeça destacada do corpo.

Os fósseis foram levados ao laboratório da URCA onde foi iniciado um trabalho minucioso para sua reconstrução. “Ao contrário dos outros estudos em que o fóssil é preparado, tivemos que usar a emissão de luz UV para destacar as partes do animal”, explicou o paleontólogo e diretor do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens da URCA, o professor Allysson Pinheiro, coordenou a pesquisa que durou quase três anos. 

Estima-se que o animal viveu no Período Cretáceo, durante o Campaniano, há cerca de 75 milhões de anos. Sem representantes atuais, no seu grupo, há outras 67 espécies já descritas, encontradas em bacias sedimentares de várias parte do mundo, mas principalmente na Europa e no continente americano. Já no continente Antártido, até o momento, apenas três foram descritas, sendo esta espécie a primeira na Ilha James Ross. 

Como características, o animal possuía os três primeiros pares de patas com grandes pinças, “chifres” cumpridos, tubérculos e espinhas nas patas. Os pesquisadores acreditam que esta espécie cavava tocas e era um predador de emboscadas. Com estas pinças, grandes e fortes, era capaz de capturar peixes. As rochas onde foram encontrados os fósseis sugerem que o animal vivia em ambientes marinhos rasos, com fundo arenoso. 

“Era um animal territorialista. Não deveria viver em grandes associações”, acredita Pinheiro. 



Por causa destas características, fóssil é classificado como Hoploparia echinata, do latim echinatus, que significa espinhoso, e se refere à característica espinhosa das pernas e terceiros maxilípedes. Essa feição espinhosa é uma das principais características de distinção para as demais espécies de Hoploparia. A atribuição ao gênero se dá especialmente pela ornamentação do cefalotórax (carapaça), que possui um padrão de sulcos, espinhos e carenas bem definidos.

“A descoberta de espécies do passado ajuda a remontar o ambiente específico em que vivia. Quando consegue remontar parte expressivas dos organismos daquele ambiente, pode extrapolar as condições ambientais de todo ecossistema, de parte da biosfera, remontar como era o Planeta naquela idade. A paleontologia é um quebra-cabeças e a gente entende a pluralidade de como era o ambiente marinho há cerca de 80 milhões de anos”, exaltou o paleontólogo da URCA, Álamo Feitosa. 

O diretor do Museu Nacional/UFRJ, o paleontólogo Alexander Kellner, exaltou a pesquisa, sobretudo, pelas dificuldades que se tem em realizar uma descoberta no continente Atlântico. 

“São 70 dias de pesquisa, cerca de 42 dias no campo e, destes, consegue trabalhar apenas 22. A variação de temperatura fica entre -15ºC a 10ºC. Mas a maior dificuldade são os ventos. Não param nunca. É um esforço corporal grande”, detalha. 

O trabalho pôde ser realizado através do projeto Paleontar, financiado pelo Governo Federal, que acontece na Antártica há quatro décadas. Através de edital emitido a cada quatro anos, são selecionados alguns trabalhos. “Uma concorrência extremamente grande. No último edital foram 100 projeto e apenas 20 selecionados”, conta Juliana Sayão, vice-coordenadora do projeto.                     (Diário do Nordeste)

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