Por Redação Gazeta do Cariri

Pesquisadores do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) participaram de estudo internacional que resultou na descoberta de uma nova classificação de planta conífera com origem na Formação Crato (Bacia do Araripe), no Cariri cearense, sítio com alta riqueza paleontológica. A espécie data do período Mesozoico, com mais de 100 milhões de anos de idade. 

A descoberta foi feita a partir da análise de resquícios de âmbar (tipo de resina) presentes nas estruturas vegetais dos espécimes. Até então, achava-se que o âmbar encontrado em fósseis dessa região provinha de plantas dos grupos Araucariaceae e Cheirolepidiaceae, mas a pesquisa apontou a presença também de âmbar originado de espécies associadas às Erdtmanithecales, ordem extinta de plantas ainda pouco conhecida. A informação foi divulgada pela UFC no dia 24 de agosto de 2020.

Publicado no BMC Evolutionary Biology, periódico com avaliação qualis A1 na área de geociências, o estudo pode permitir uma melhor compreensão dos hábitos e formas corporais das Erdtmanithecales, além de sua relação com outras famílias e espécies. Dentre as gimnospermas (plantas com semente, mas sem flores), esse grupo ainda é o mais desconhecido. 

O âmbar, produzido por diferentes plantas e fundamental para o estudo, com o passar do tempo, perde algumas das substâncias que o tornam volátil e endurece, servindo como importante "assinatura" para as vegetações. Assim, acaba por preservar estruturas fósseis em seu interior, o que permite descobertas como essa. 

Para o Prof. Daniel Nascimento, que participou do estudo, a pesquisa traz novos elementos para a discussão sobre o desenvolvimento das gimnospermas e do continente na época do período Mesozoico. "A reconstrução de ambientes antigos leva em conta não apenas as informações tectônicas contidas nas rochas mas também as de seus fósseis. Do contrário, não seríamos capazes de abranger o ambiente como um todo", diz. 

"Após décadas de estudos, temos hoje uma ideia geral de como foi o antigo continente Gondwana, em seus momentos finais no Mesozoico, em termos paleogeográficos e geomorfológicos, mas as informações são constantemente atualizadas por novas descobertas. Há ainda muitos mistérios a serem resolvidos, como a origem e o desenvolvimento das plantas com flores e sua irradiação, e a forma como isso pode ter ocorrido em uma configuração geográfica e climática dos continentes totalmente diferente de de hoje em dia", aponta o pesquisador. 

GEOLOGIA – A pesquisa é realizada em parceria com pesquisadores da Áustria, do Reino Unido, da Alemanha, da Itália e dos EUA. No Brasil, a cooperação é feita por meio do projeto Towards an Integrated Analysis of the Early Cretaceous Crato Fossil Lagerstaette (Ceará, Brazil), financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e coordenado pelo Prof. Daniel Nascimento, da UFC. 

A contribuição da UFC para o estudo foi acerca das características geológicas da rocha que preservou os fósseis, fator importante para o entendimento das condições do meio em que viviam. "Vários fósseis já foram descobertos na Formação Crato desde o século XIX, mas poucos trabalhos enfatizam sua distribuição no tempo e no espaço. Um dos objetivos do nosso projeto na UFC é auxiliar com esse tipo de informação", ressalta o Prof. Daniel. 

"É com base nas informações geológicas que sabemos que o local onde os fósseis se preservaram era um lago relativamente raso e com águas calmas, e que as condições climáticas eram predominantemente quentes e áridas, mas que eventuais chuvas torrenciais ocorriam, causavam enxurradas e traziam consigo materiais estranhos ao ambiente do lago, através de drenagens efêmeras", explica.

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