Na oportunidade da realização do II Seminário dos Povos Indígenas do Cariri Cearense, iniciado neste domingo (9), pela Universidade Regional do Cariri (URCA), foi oficialmente lançado o Dicionário da Língua Kariri, através de uma plataforma que traduz diversos termos do idioma da população nativa da nossa região para a língua portuguesa. Ricky Seabra é natural dos Estados Unidos, professor e pesquisador responsável pela obra, que trabalhou durante seis anos no dicionário e afirma que até o fim de agosto e início de setembro o sistema deve estar totalmente disponível com todas as palavras catalogadas do dialeto kiriri-kipeá. 

De acordo com Seabra, a Natural Language Institute, em Brasília, é seu atual local de atuação profissional e onde foi disponibilizado corpo técnico e materiais para que ele pudesse concretizar o fruto de sua pesquisa numa plataforma online, com tradução simultânea de termos da língua Kariri para o Português, e vice-versa. Boa parte de sua pesquisa foi realizada enquanto este morava no Cariri, quando estava à frente da gestão do Museu Histórico do Crato e foi coordenador do Patrimônio Histórico deste município, entre 2012 e 2017. 

“Eu digitalizei todo o catecismo da língua Kariri, com a intenção de um dia inserir esses dados em algum programa ou sistema que ajude na tradução de línguas. A ideia inicial era de decodificar a língua numa espécie de aplicativo que servisse para tradução simultânea, mas depois de um ano trabalhando no projeto dentro da Natural Language Institute cheguei na conclusão de fazer o dicionário de fato”, afirma o pesquisador. 

O primeiro dicionário da língua kariri-kipeá foi feito por Aryon Dall’igna Rodrigues, da Universidade de Brasília (UnB) e foi publicado na Revista Brasileira de Linguística Antropológica, Volume 4, Número 2 em dezembro de 2012 (O artigo definido e os numerais na língua Kiriri: Vocabulários Português-Kiriri e Kiriri-Português). Para criar o dicionário, Rodrigues extraiu palavras da Gramática de Mamiani (a 2ª edição de 1877) e não do catecismo.

O catecismo cristão foi utilizado, na formatação da língua brasílica, para a catequização dos índios que viviam na chamada “Nação Kiriri”, hoje região do Cariri, e também serviu como base na catalogação de Seabra. O material é um pequeno livro de 250 páginas, que apresenta o texto em duas colunas. Uma delas está em português e a outra em kariri. Trata-se de um diálogo entre um padre (mestre ou M) e um índio (discípulo ou D). 

O novo Dicionário da Lingua Kariri é totalmente online, usando o dicionário de Rodrigues como base, mas apresentando mudanças ortográficas, palavras novas, decodificadas e extraídas do catecismo, e as últimas palavras em kiriri registradas em 1961 pelo linguista e missionário Wilbur Pickering, totalizando aproximadamente 187 novas palavras. Entretanto, o que o dicionário tem de mais inusitado é que mostra como se faz a declinação dos verbos e substantivos, e mostra também os verbos conjugados em até 5 tempos verbais. 

“Espero que este dicionário seja útil para pesquisadores, alunos e professores da região do Cariri que tem mostrado interesse na língua, e, em especial, os índios kariri-xocó em Alagoas que estão tentando reavivá-la. Sempre achei que a coisa mais triste que pode acontecer com uma cultura é a perda de seu idioma. Por isso, desde 2014, embarquei numa busca de entender quantas palavras restaram da língua kariri, sempre com o sonho de reavivá-la”, conclui Seabra. 

Os interessados em conferir na íntegra podem acessar a página do dicionário Rodrigues-Seabra da Língua kariri (dialeto Kiriri-Kipeá), disponível online pela escola Natural Language Institute, e também conferir uma introdução mais elaborada do autor sobre como foi o seu processo de pesquisa e os materiais usados.

(Fonte: Site Badalo)

Post a Comment