Na zona rural de Iguatu, a colheita teve início. Já nas grandes áreas
produtivas, só na segunda quinzena do mês. FOTO: HONÓRIO BARBOSA
As chuvas prolongadas registradas neste ano no Ceará fizeram com que a colheita do caju, uma das principais culturas agrícolas do Estado, tivesse atraso de até 60 dias. Historicamente, a safra se inicia em meados de julho. O pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa em Agroindústria Tropical da Empresa Brasileira de Produção Agropecuária (Embrapa), em Fortaleza, Afrânio Montenegro, explica que a produção do cajueiro só começa depois que as chuvas cessam. 

"O caju gosta de água no pé do caule, e não na poda", detalha Montenegro, ao ressaltar que a produção deste ano pode ser mais curta e, por consequência, menor. "A produção vai começar a partir da segunda quinzena de setembro até o retorno das chuvas. Se for em dezembro, teremos um ciclo curto de produção e risco de queda na colheita neste ano", avalia. 

Produção 
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, a safra de caju de mesa no Ceará foi de 12,2 mil toneladas em uma área colhida de 5,1 mil hectares. Para este ano, a estimativa inicial era de 12,8 mil toneladas. 

No entanto, diante deste quadro de chuvas prolongadas na região litorânea, onde se concentra a produção cearense, este número pode ser revisado. "Pode variar , mas só saberemos ao fim da colheita", explicou Regina Dias, secretária do Grupo de Coordenação de Estatísticas Agropecuárias do Ceará (Gcea-CE) do IBGE. A cada mês, o IBGE atualiza as estimativas de produção. 

O presidente da Associação dos Cajucultores do Ceará (Ascaju), Francisco José de Souza, acrescenta que, além do prolongamento das chuvas, a chegada de ventos fortes contribui para "uma maior dificuldade" na safra. No entanto, apesar destes fatores, ele se mostra otimista. As previsões da Ascaju vão além da estimativa do IBGE. "Havia uma expectativa melhor, mas mesmo assim acreditamos que teremos uma safra superior a da obtida em 2019", disse. 

O produtor de base familiar, Luís Oliveira, tem dois hectares de caju plantados em Pacajús. Segundo ele, neste mesmo período do ano passado, a safra já estava sendo colhida. Apesar da necessidade de adiar a coleta, ele não prevê prejuízo. "O que pode acontecer é não expandir tanto como a gente esperava". Luís colheu 500 quilos em seu pomar no ano de 2019. 

Pesquisa 
Com o objetivo de alcançar uma convivência harmônica entre o cajueiro e o período chuvoso, a Embrapa desenvolve há cerca de dez anos estudos em duas frentes: prolongar o período de vida útil do pseudofruto (caju de mesa) e a manter a produção mesmo no período de chuva. "Esse é o nosso desafio", pontuou Montenegro. "Manejo, poda constante e adubação fazem parte desse trabalho", acrescenta o pesquisador. 

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce) também desenvolve, desde 2007, projeto que visa à expansão e recuperação da cajucultura no Ceará. A atuação consiste na distribuição de mudas da variedade precoce-anão. Só no primeiro ano, foram entregues 1,1 milhão. O supervisor de fruticultura da Ematerce, José de Souza Paz, explica que a intenção é gerar a substituição do cajueiro antigo, "mais improdutivo", por variedade geneticamente modificada de alta produtividade. Isso, segundo ele, potencializa a safra. 

"Temos uma demanda reprimida de pelo menos 400 mil mudas a cada ano. Isto mostra interesse dos produtores, revela que o programa pegou e que estamos no caminho certo para fortalecer a cajucultura no Ceará". 

Até o ano passado, Ceará tinha área de 275 mil hectares de caju. Desse total, a maior parte era de cajueiro comum, o chamado "gigante", e 96 mil hectares (35%) da variedade anão-precoce. Apesar da menor área plantada, a produção é maior. O cajueiro gigante tem produtividade média de 327kg por hectare, enquanto que a variedade precoce é de 528kg/ha. "Podemos chegar até mil quilos por hectare se forem adotadas novas tecnologias de manejo no caju anão", anuncia Montenegro. 

O diretor técnico da Ematerce, Itamar Lemos, pontua que o órgão atua também "tem orientado sobre o uso de tecnologias que favorecem o aumento da produtividade".

(Fonte: Diário do Nordeste)

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