Apesar da alta, ciclistas reclamam da pouca oferta de espaços exclusivos para a prática da atividade. FOTO: Antonio Rodrigues
Com as academias - sejam elas em espaços privados ou públicos, como nas praças - fechadas e o desejo de se manter em forma, a cidade de Juazeiro do Norte, viu disparar o número de ciclistas durante a pandemia do novo coronavírus e, consequentemente, registrou aumento nas vendas de bicicletas e peças, além do crescente número de aluguéis dos próprios veículos. 

“É o melhor momento de venda. Tanto que está faltando bicicleta. O crescimento foi muito grande. As vendas da gente mais que triplicou”, enfatiza o empresário Antônio Rios, de Juazeiro do Norte, que há 30 anos trabalha no ramo. 

Há bikes que variam de R$ 1,5 mil a R$ 2,5 mil, de modelos mais simples. “Mas saem até de R$ 15 mil aqui na região. É gente nova, pessoal que fazia academia, judô, jiu-jítsu e agora também pedala", completa o comerciante. 

O diretor do Departamento Municipal de Trânsito de Juazeiro do Norte (Demutran), Pedro Cipriano, reconhece que houve um aumento de bicicletas, mas pondera que essa estimativa é feita pelo que é visto nas ruas. “Aumentou e muito”, avalia. Por causa desta demanda, o órgão está com quatro projetos de grandes ciclofaixas nos bairros Lagoa Seca, Frei Damião, São José e Cidade Universitária, adiantou Pedro. 

A professora Milena Esmeraldo, 44, foi uma das que aproveitou este período, sem poder frequentar academia e natação, para adotar uma nova modalidade: o ciclismo. Hipertensa, viu no pedal uma forma de sair do sedentarismo. 

“A bicicleta desopila, espairece. Não tem aquela cobrança. Não estou em grupo, faço por lazer, por passeio”, explica. 

Com dois meses em cima de duas rodas, já sente a diferença. “Minha resistência está muito melhor. A respiração também. Me ajuda a combater o colesterol”, analisa. 

Diante dos bons resultados, ela diz ter convencido uma prima e mais duas amigas para fazer os roteiros. A cada dia um novo percurso. Mas, mesmo com a nova atividade, ela diz seguir as recomendações sanitárias. “Eu gosto de ir com poucas pessoas para evitar aglomeração". 

A também professora Kate Rodrigues, foi outra que adotou o ciclismo diante da impossibilidade de frequentar as academias. “Precisava de uma atividade prazerosa, que fosse ao ar livre. Comecei com poucos quilômetros, 10, 15. Hoje faço pedais com 40 quilômetros. Além de ser prazeroso, existem as belezas das paisagens naturais que normalmente passa despercebidas”, observa. 

Oportunidade 
Com este mercado em crescimento no Cariri, o casal Damarcio Nazário e Janisielly Alencar decidiu criar, há dois anos, uma empresa de aluguel de bicicletas. Inicialmente eram apenas três bikes, hoje, são sete e ainda não conseguem dar conta do mercado. 

“Com a pandemia, veio uma demanda muito alta. É um mercado ainda pouco explorado”, acredita Damarcio. 

As reservas são feitas de forma antecipada, geralmente por dois a três dias. Alguns alugam por mês. “Estamos vendo que não conseguimos dar conta de tudo”, completa o empresário, que também é personal trainer. O serviço pode ser por hora, diário ou pacotes semanais, quinzenais e mensais, incluindo os equipamentos de segurança. A hora custa R$10, enquanto a diária R$ 35, de segunda a quinta-feira, e R$ 50 nos finais de semana. Já o o aluguel semanal custa R$ 150, quinzenal R$ 220 e mensal R$ 280. O casal atende em Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha. 

Os dois planejam comprar outras bikes, tanto adultas como infantis para atender a alta demanda. “Nos primeiros meses, só conseguia alugar nos finais de semana. Hoje, são mais de 40 clientes cadastrados que alugam com frequência”, completa Damarcio. 

Cicloativista e microempresário, Ernesto Rocha tornou sua paixão um negócio. Desde maio trabalha produzindo e entregando pães caseiros, tudo em cima da bicicleta. A ideia era abrir uma cafeteria, mas com a pandemia, resolveu chegar até os clientes em duas rodas. Após apresentar o cardápio, agenda e entrega os produtos ma casa de cada um. “Eu só uso bicicleta. O carro sai raramente da garagem. Tem dia que rodo 70 quilômetros”, enumera. 

Dificuldades 
Com muitos anos de pedal, Ernesto sente uma carência para os ciclistas na região do Cariri. “É uma coisa generalizada no Brasil: a falta de ciclovias e ciclofaixas”, ressalta. A maior ciclovia é a que interliga Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, entre as CE-060 e CE-292. Ao todo, são cerca de 20 quilômetros. 

“Infelizmente foi projetada para bicicleta e depois aberta a pedestre. Em muitos locais não tem a largura para usar de via dupla e é compartilhada com pedestres, que fica muito complicado. No fim da tarde, há um conflito (de espaço) muito grande”, critica. 

Juazeiro do Norte ainda possui outra ciclovia com 8,56 quilômetros de extensão que fazem parte do Anel Viário, uma das mais utilizadas, mas que também divide espaço com pedestres. Já nas suas ruas, há apenas uma ciclofaixa de cerca de 3,2 quilômetros na Avenida Ailton Gomes. “Ela é uma coisa paliativa. Não tem a barreira que impede o veículo. Você está seguro entre aspas. E não tem ligação com outras não tem local para sair com segurança”, protesta Ernesto. 

O empresário acredita que as cidades precisam de é uma política de mobilidade que favoreça, principalmente, o pedestre. “A maior prioridade é sempre o pedestre. Se olhar a qualidade dos passeios públicos, são horríveis. E se afasta do centro, são piores. As pessoas andam nas ruas porque as calçadas são impraticáveis. Fazer o modal, pedestre, ciclista e o transporte público de qualidade. Nosso país há uma supervalorização do automóvel. A gente luta como formiguinha por uma maior qualidade de vida”, completa.                 (Diário do Nordeste)

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