Arroz, feijão e soja são alguns dos itens da cesta básica que continuarão com preços elevados, pelo menos, até o fim do ano. Entre os motivos estão a entressafra em que estamos, com redução da oferta e, especialmente, a prioridade que é dada à exportação, de modo que o mercado externo é quem dita os preços. Ou: o produtor aumenta o preço, já que há margem lá fora. 

O momento atual está favorável para os produtores de grãos, tanto quanto desfavorável para o consumidor interno, sobretudo aquele que depende da cesta que, como o nome já diz, é “básica”. 

O episódio da semana passada envolvendo a alta de preços do arroz, em que a Secretaria Nacional do Consumidor pediu esclarecimentos à cadeia produtiva, é só um exemplo de como a prioridade ao mercado externo pode afetar internamente: com a demanda externa comportando preço elevado (sujeito à variação cambial), o consumidor nacional se vê obrigado a aceitar uma tabela de valores que não condiz com a sua própria realidade. Situação normal de mercado, mas que tem efeito trágico quando o produto em questão são os itens básicos da alimentação do brasileiro. 

Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que, sem medidas reguladoras por parte do Governo, o cenário segue favorável para a alta dos preços dos alimentos. 

Medidas protecionistas 
O economista Reginaldo Aguiar, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), defende que se o Governo brasileiro estabelecesse cotas de exportação, como faz a União Europeia com o trigo em tempos de geada, por exemplo, o consumidor nacional não ficaria tão prejudicado pelo mercado externo. Em outras palavras, se o preço subir demais, limitar a exportação para proteger o mercado nacional. 

“Qualquer país decente estabelece cotas de exportação para não desabastecer o mercado interno”, disparou Reginaldo Aguiar, acrescentando que a lógica de negócios estaria suplantando a lógica social. 

“Uma coisa é reduzir poder de compra e trocar seu transporte particular, seu carro, pelo transporte público, a outra é não ter condição de substituir feijão e arroz. E o leite da criança, que está caro porque os insumos do gado são comprados a dólar, substitui por quê?”. Embora com particularidades, o Ceará vive o reflexo inflacionário do País. O setor de frutas e hortaliças encontra-se bem abastecido, pois estamos em plena safra de alguns itens, o que segura os preços. 

“Mas o setor da cesta básica, os grãos, principalmente, arroz, feijão e até a farinha, vão se manter em patamares elevados, até por conta da nossa dependência de compra, já que a produção não é nossa, é de fora do Nordeste”, explica Odálio Girão, analista de mercado da Ceasa. 

Ele avalia que a curva ascendente de preços pode inverter caminho com uma próxima safra de grãos, e que apresente excedente significativo. “Acredito que até o final do ano ainda vamos trabalhar com preços elevados”, lamenta, mas pondera: “na exportação, nosso produtor está vivendo um momento bom, pra recuperar esses quatro meses anteriores de prejuízos. Essa recuperação que está acontecendo agora ajuda a manter o equilíbrio das empresas no Brasil”. 

Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon), aponta que mesmo com a medida implementada de alíquota zero na importação do arroz, o período de entressafra que chega, com redução da oferta, pode manter o grão a preços elevados, seguindo a dependência externa. 

“Da mesma forma, outros produtos como feijão e soja. O preço alto deveu-se não só pelo crescimento de demanda dos nossos produtos lá fora, mas principalmente à variação do câmbio. Ele subiu de forma significativa e fez com que para o produtor brasileiro fosse mais interessante comercializar no mercado externo”. 

Coimbra avalia que uma diminuição do câmbio seria significativa, nos próximos meses, para a redução dos preços. O dólar fechou a última sexta-feira (11) a R$ 5,3328, alta de 0,26%. 

Estoques reguladores 
Quando o mercado interno é afetado pela forte demanda de exportações, que elevam o preço do produto, uma medida de segurança dos governos é garantir estoques para evitar o desabastecimento do mercado nacional. O Brasil armazena, mas estaria sofrendo menos com os preços de alimentos se houvesse uma política de formação desses estoques reguladores, na avaliação dos economistas Reginaldo Aguiar e Ricardo Coimbra. 

“Em anos anteriores, a gente tinha estoques reguladores, para na entressafra ter maior oferta desses produtos. Como isso não foi estruturado pelo governo atual, restam medidas mais caras a serem tomadas pelo Governo, que pode ser no sentido de reduzir mais impostos de importação ou até mesmo subsidiar o setor produtivo. Mas eu creio que como o governo tem uma visão mais liberal, tende a deixar que as relações de oferta e procura ocorram e o próprio mercado se regule”, explica Ricardo Coimbra. 

Depois do arroz, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sugere taxação zero para importação de milho e soja. Os próximos dias dirão se o assunto avança. 

Especialistas avaliam que os preços dos principais itens da cesta básica devem continuar elevados no Brasil. Variação cambial, período de entressafra e ausência de estoques reguladores eficientes seriam principais motivos.

(Fonte: Diário do Nordeste)

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