FOTO: Rodrigo Gadelha
Livros, gibis e suas histórias sempre foram conhecidos por dar asas à imaginação e foi assim que cresceu a cearense Sarita Bezerra, de 31 anos, cheia de sonhos e de esperança motivados pelas ricas narrativas. A professora de redação, em meio às dificuldades de lecionar por plataformas virtuais, ousou e conquistou o que, por um momento, achou que não fosse possível: ter a participação de um dos cartunistas mais importantes e mais premiado do Brasil, Mauricio de Sousa, em uma de suas aulas. 

O encontro virtual aconteceu na última quinta-feira (10), em uma chamada aberta aos estudantes do 5º ao 8º ano do colégio Nossa Senhora de Fátima, da rede privada de Barbalha. A gravação do vídeo está disponível no perfil do Instagram de Sarita e no YouTube. 

Sentindo a necessidade de inovar após trabalhar o gênero de Histórias em Quadrinhos em sala de aula, a professora de redação entrou em contato com o pai da Turma da Mônica para fazer o convite da participação. Fã do quadrinista, Sarita contou que não imaginava obter uma resposta.


A professora Sarita Bezerra realizou o sonho dela e dos alunos de conhecer o cartunista FOTO: Katheleen Ribeiro
“Passei um e-mail pro Mauricio e ele mesmo me respondeu, fiquei surpresa. Me disse que poderia fazer participar sim, sem nenhum custo. Vi nele a vontade que tem de incentivar a leitura nas crianças. Ele mesmo resolveu comigo todos os detalhes”, revela com admiração. 

A surpresa foi tanta que Sarita só acreditou que aquilo era realidade quando a chamada de vídeo aconteceu. “Em um primeiro momento, preferi não contar aos alunos, porque tive medo de não dar certo e eles ficarem frustrados. 

Quando vi o rosto do Mauricio na câmera, foi quando eu percebi que estava concretizando aquele sonho tanto pra mim quanto pros meus alunos”, relata. “Quando eu avisei que ele participaria da nossa aula, esses meninos ficaram muito eufóricos, aguardaram ansiosamente o dia. Deixei para contar dois dias antes da data marcada. Durante a videochamada, eles ficaram bem nervosos, mas o Mauricio foi muito simpático e amoroso com meus alunos. Respondeu a todas as perguntas e se mostrou muito disponível”, acrescenta. 

A espera pela confirmação de que o artista realmente participaria da aula foi de muita ansiedade para Sarita, embora ele tenha respondido ao e-mail no mesmo dia que recebeu. As mensagens trocadas com Mauricio são guardadas com carinho por ela, que passou por muitas noites de insônia pela expectativa, pois ele sempre enviava a resposta tarde da noite. “Quando eu via, não conseguia mais dormir sem acreditar”, conta. 

A participação de Mauricio se deu em formato de uma entrevista, na qual ele contou algumas curiosidades sobre o trabalho e a carreira, iniciada na década de 1950. As perguntas foram formuladas e feitas pelos próprios alunos. “Primeiro trabalhamos em sala de aula a biografia do Mauricio, então pedi que eles pensassem em perguntas caso pudessem entrevistá-lo sobre curiosidades da vida dele e do trabalho que não são facilmente encontradas. Selecionei algumas e mandei para a equipe dele”, explica a professora de redação. 

Conquista 
Os momentos compartilhados durante a videochamada vão ficar marcados nas trajetórias dos alunos e da professora Sarita, já que eles tiveram a oportunidade de falar diretamente com o desenhista. Aos 84 anos, Mauricio contou para os estudantes cearense sobre as dificuldades enfrentadas para seguir na carreira de desenhista e cartunista, bem como curiosidades sobre o trabalho como criador da famosa Turma da Mônica. 

“Para mim, enquanto fã, foi muito bacana descobrir, por exemplo, que o Horácio, o famoso dinossaurozinho verde, é desenhado somente por ele até hoje, pois ele tem uma relação de muita identificação com ele. Os outros personagens são produzidos em colaboração com a equipe da empresa dele”, explica Sarita. O cartunista revelou ainda, em primeira mão, na ocasião, que o personagem vai ganhar uma versão animada em 3D que já está em produção, mas ainda sem previsão de lançamento. 

No encontro, Mauricio também apresentou Bidu da vida real, em sua terceira versão. O cachorrinho azul inspirado na raça Schnauzer foi o primeiro personagem do cartunista e apareceu pela primeira vez em uma tirinha publicada, em 1959, no jornal Folha da Tarde. “A família dele sempre tem que ter um Bidu na vida deles”, conta Sarita.



Impacto 
Para a professora, o mais importante da iniciativa foi o impacto que o encontro causou nos alunos. “Eles ficaram muito motivados, cheios de vontade de produzir. Se descobriram capazes de também fazer o que querem e o que sonham, fiquei muito feliz em ter tido a oportunidade de proporcionar isso a eles”, pontua. 

O estudante Eduardo Henrique Andrade, de 11 anos, conta que, quando soube da notícia, ficou muito feliz e ansioso pois já acompanha o trabalho do cartunista há alguns anos. “No dia, fiquei nervoso, mas fiquei muito feliz, porque eu sempre quis ter um contato com ele. Foi um momento muito único e muito especial, nunca vou esquecer”, declara. 

Embora não tenha pretensão de seguir na profissão de artista, Eduardo diz ter o desenho como hobby e se inspira no trabalho de Mauricio. “Desde pequeno acompanho as histórias da Mônica e do Cebolinha. Hoje, me inspiro principalmente no trabalho da Turma da Mônica jovem, que é no estilo mangá”, afirma. 

Além disso, Sarita diz estar também mais motivada para criar novos projetos e que espera servir de inspiração para os colegas de profissão. “Às vezes, nós professores queremos ousar e temos medo, não temos apoio. Mas a gente tem que fazer isso por nós e por nossos alunos”, pondera a educadora. 

Apesar de todas as dificuldades impostas pelo ensino virtual, Sarita admite que esse encontro talvez nunca tivesse acontecido se não fosse nesse momento, mas reconhece a sorte. “Me sinto muito privilegiada, vejo várias pessoas comentando nas redes sociais dele, fazendo pedidos como esse. Acho que o fato de ele estar em casa, podendo checar o e-mail com mais calma foi um fator importante”. 

“Depois do encontro, os alunos ficaram muito motivados, cheios de vontade de produzir”, pontua Sarita Bezerra. 

Presencialmente, as aulas contam com produções coletivas, oficinas, além do ensino teórico. Contudo, impossibilitada de realizar essas ações, novas ideias foram surgindo. Para trabalhar a questão mais técnica do desenho, Sarita convidou professores de artes da escola, enquanto ela trabalhava a parte do enredo, da narrativa e da estrutura gramatical. 

“Queremos ousar e temos medo, não temos apoio. Mas temos que fazer isso por nós e por nossos alunos”. 

Agora, o plano é realizar a oficina para concretizar o que foi estudado sobre Histórias em Quadrinhos e aplicar os ensinamentos do famoso cartunista. “A ideia é trabalhar desde a criação de um personagem, pois o que fez Mauricio de Sousa ser o quadrinista que é hoje foi trabalhar cada personagem. As histórias iniciais sempre envolviam um deles e só depois ia surgindo a narrativa. Com a motivação e o conhecimento, tenho certeza que sairão histórias brilhantes”, conclui.

(Fonte: Diário do Nordeste)

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