Spia auxilia na redução de roubos de veículos, desde 2017.
Mas número voltou a subir em 2020. FOTO: Camila Lima
O aumento da violência no Ceará em 2020 se apresentou também no número de roubos de veículos, após três anos seguidos de queda no índice. Entre janeiro e agosto do ano corrente, foram 6.299 roubos de automóveis, o que significa um aumento de 83,8% em relação a igual período do ano passado, que teve 3.427 registros. 

Em contrapartida, o número de furtos de veículos diminuiu 3,4% no Estado, ao passar de 2.844 crimes nos oito primeiros meses do ano passado para 2.746, neste ano. E a taxa de recuperação de veículos roubados ou furtados cresceu 25,9%, ao sair de 4.947 casos em 2019 para 6.233, em 2020. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). 

O ex-titular da Secretaria, André Costa, concedeu entrevista ao Sistema Verdes Mares sobre o assunto horas antes de formalizar a saída da SSPDS, na última quinta-feira (3). Segundo ele, a maior preocupação da Pasta é o número de roubos de veículos, por ser um crime que contém violência. 

“Neste ano, enfrentamos algumas dificuldades. Em fevereiro, houve uma explosão do número de roubos. Inclusive dentro de março e abril. Curioso que foram meses de isolamento social (devido à pandemia de Covid-19), às vezes até com lockdown, quando a circulação de veículo chegou a reduzir 70% em algumas áreas de Fortaleza, mas ainda assim a gente teve uma elevação muito forte”, relata. 

Os meses de fevereiro, março e abril registraram os maiores números de roubos de veículos, com mais de 1 mil casos cada. André Costa apontou as possíveis motivações para o aumento dos crimes: 

“Em fevereiro, nós tivemos o motim dos policiais militares, que impactou bastante não só nesses índices. E logo depois, tivemos o início do primeiro decreto de isolamento social. Os meses de março e abril foram os mais críticos porque nós tivemos o maior volume de afastamento de policiais militares e civis, por conta da pandemia. Em abril, nós chegamos a ter 1.700 policiais militares afastados e quase 500 policiais civis”.

O motorista de aplicativo Fabrício Santos foi uma das 1.008 pessoas que tiveram o veículo roubado em abril deste ano, no Estado. Ele trabalhava com um carro alugado, por volta de 22h de 21 abril, quando recebeu um chamado para o bairro Granja Portugal, na Capital. 

“Peguei três caras. Na hora que eu cheguei na Avenida Perimetral, para entrar para o (bairro) Henrique Jorge, me mandaram entrar em uma rua. Me renderam, mandaram eu ir para detrás do carro, armados de faca e revólver. Perguntaram se o carro tinha rastreador, eu disse que não. No Henrique Jorge mesmo, eles me deixaram, perto de uma pracinha”, conta. 

Fabrício procurou uma base fixa da Polícia Militar para denunciar o caso e depois foi até uma delegacia da Polícia Civil, onde registrou Boletim de Ocorrência (B.O.). O veículo começou a ser monitorado pelo Sistema Policial Indicativo de Abordagem (Spia). Duas horas depois do crime, o carro foi encontrado todo quebrado, pela Guarda Municipal de Fortaleza (GMF), no bairro Bom Jardim. 

Apesar de o veículo ser recuperado, ficou o prejuízo para o motorista de aplicativo. Fabrício teve objetos pessoais roubados – dois aparelhos celulares e a carteira com dinheiro – e ainda foi obrigado a pagar R$ 5 mil para a locadora do veículo. “Fico apreensivo quando vejo três pessoas para pegar. E depois das 18h, não vou mais para alguns locais”, revela o motorista. 

Tecnologias 
O número de veículos roubados no Ceará era estável desde 2014, quando começou a cair em 2017 devido à instalação do Spia, desenvolvido pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em parceria com a SSPDS. Em 2019, o índice chegou ao menor patamar desde 2012. A tecnologia conta com mais de 1.500 sensores espalhados no Estado, com o objetivo de combater a mobilidade do crime. 

A SSPDS pretendia expandir o Sistema para além das divisas. “Nosso intuito era fazer a integração no Nordeste e depois no Brasil. Infelizmente, tivemos dificuldades de avançar nisso com o Governo Federal. Mas tivemos experiências exitosas, via PRF, que conseguiu pegar câmeras com as prefeituras de Campina Grande, na Paraíba, e numa cidade no Interior do Pará”, afirma André Costa. 

De acordo com o ex-secretário, o Estado criou também um programa de cadastro temporário de veículos roubados e furtados, com informações repassadas por uma ligação feita para o número 190, após o crime, e que já aciona o Spia. 

“O Ceará fez algo diferente do resto do País. Nos sistemas, para constar um veículo como roubado ou furtado, ele só vai entrar após a feitura do Boletim de Ocorrência na delegacia. Ainda que seja rápido, até que o cidadão vá à delegacia e o policial civil insira aquele veículo no sistema do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), é o tempo suficiente para a pessoa fugir ou praticar outros crimes com o veículo”, explica. 

Criminosos 
André Costa detalha que há vários perfis de criminosos que atuam com roubos e furtos de veículos: “A gente tem desde o pequeno criminoso, que mudou a sua logística. Antes da popularização do veículo automotor, ele saía da periferia a pé ou de bicicleta, praticava assaltos nas proximidades, tinha rotas de fuga e voltava para dentro da sua casa. Com a popularização, esse perfil mudou. Mesmo o pequeno assaltante, sai de casa, busca roubar um automóvel e passa a utilizar aquele veículo para praticar roubos na cidade”. 

“A gente tinha um policiamento muito difuso e ineficiente, a gente sempre estava passos atrás do criminoso. Com esse modelo de resposta de combate à mobilidade do crime, a gente está passos à frente do criminoso. Ele pode até conseguir fazer o roubo do veículo. Mas antes que ele cometa os próximos crimes, a gente faz a abordagem”. 

“Mas também têm as quadrilhas especializadas, para furto ou roubo. Normalmente, esses veículos vão ser ‘clonados’ ou desmanchados, em locais destinados para essa finalidade”, completa o ex-secretário. Na primeira opção, a ‘clonagem’, os automóveis têm as placas trocadas geralmente pela identificação de um similar, da mesma marca, modelo e cor. Enquanto na segunda, os criminosos retiram peças, como o som e o estepe, para vendê-las. 

Conforme André Costa, Fortaleza concentra as maiores médias de roubos e furtos de veículos, seguida de municípios da Região Metropolitana de Fortaleza. Na Capital, ele aponta duas regiões onde há maior dificuldade para diminuir esses crimes: na Grande Messejana e adjacência; e na Aldeota e bairros vizinhos, área nobre da cidade. 

Entre janeiro e agosto do ano corrente, foram 6.299 roubos de automóveis no Ceará, o que significa um aumento de 83,8% em relação a igual período de 2019, que teve 3.427 registros. Os dados são da SSPDS. 

(Fonte: Diário do Nordeste)

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