FOTO: Helene Santos

Por trás dos números em alta escala da Covid-19, o Ceará conseguiu reduzir, até setembro último, os casos de Influenza A (H1N1). Conforme a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), os nove primeiros meses deste ano somaram 19 diagnósticos, enquanto em igual período do ano passado, foram 105. Dessa forma, o intervalo contabiliza uma baixa de 81,9%. Especialistas justificam o recuo com base nos protocolos sanitários adotados para combater o novo coronavírus, que acabaram protegendo também contra a enfermidade sazonal. 

Os dados compilados pela Sesa mostram que o mês de março, quando o Ceará confirmou os três primeiros infectados pelo SARS-CoV-2, acumulou o maior número de casos de H1N1, com 11 pacientes em tratamento para a gripe. Já em maio, considerado o pico local da pandemia de Covid-19, apenas um entrou nas estatísticas. Desde então, nenhum outro caso foi anotado, isto é, o Estado está há quatro meses sem novos registros de H1N1. O balanço do mês de outubro ainda está sendo fechado. 

Já no ano passado, somente janeiro e setembro não tiveram notificações. Abril e maio, com 26 e 44 casos, respectivamente, foram os meses com maior acréscimo, seguido por junho (15). Este intervalo, aponta a Secretaria, é exatamente onde a doença se manifesta com maior intensidade em função da quadra chuvosa. 

Para a infectologista Mônica Façanha, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), a etiqueta respiratória como estratégia de prevenção à Covid-19 contribuiu para a retração do vírus influenza neste ano. O uso de máscara, obrigatório desde o mês de maio via decreto estadual, “reduz a transmissão”, além do isolamento social, que “vai ser útil enquanto estiver acontecendo. Ele não tem uma ação a longo prazo em termos de prevenção”. 

Contudo, a médica acredita que há subnotificação de casos. Isso porque, justifica, o diagnóstico de H1N1 pode ter sido confundido com o de Covid-19, já que as duas doenças possuem transmissão semelhante. “Os olhares estão todos para pesquisar Covid-19, então é possível que algum H1N1 tenha passado sem que tenha sido feito a pesquisa para o diagnóstico, pode ter sido interpretado como Covid-19 e ser H1N1”, pondera Mônica. 

Vacina 
A cobertura vacinal da H1N1 também influenciou na redução de casos da doença no Ceará, já que mais pessoas foram imunizadas, aponta Mônica Façanha. De acordo com a Sesa, 2.935.485 doses da vacina foram aplicadas neste ano, o que equivale a 96,98% de alcance. Em 2019, o número de doses chegou a 2.564.995, isto é, 94,94% dos grupos prioritários. 

Apesar de a dose não proteger contra a doença pandêmica – apenas para outros tipos do vírus influenza -, a Pasta federal antecipou a aplicação em todo o território brasileiro justificando que poderia ajudar profissionais de saúde a diagnosticarem a Covid-19 por eliminação. 

“A vacinação começou antes do período sazonal, porque a nossa sazonalidade maior vai de março a junho e nós iniciamos em março e, normalmente, a vacina só acontece no fim de abril. Quando a gente começava no fim de abril, os casos já estavam acontecendo e quando você tem presença de caso isso facilita que tenha uma maior circulação do vírus”, explica a coordenadora de imunização da Sesa, Carmem Osterne. 

No Ceará, destaca, três grupos atingiram 100% de cobertura vacinal para H1N1: idosos, indígenas e profissionais de saúde. O de crianças obteve 95%, que é a meta recomendada pelo Ministério da Saúde. 

Já o de gestantes e puérperas não conseguiu alcançar a meta, ficando entre 80% e 90%, menciona, “porque tinham mais medo de ir à unidade de saúde, se expor por conta da Covid-19”. 

Proteção 
Por precaução, a professora da educação infantil, Sonia Torres, conta que evitou procurar o posto de saúde antes da flexibilização dos serviços, quando Fortaleza ainda estava em isolamento social rígido. Após o retorno presencial à escola particular onde leciona, porém, resolveu ir atrás da imunização. 

“Todo ano eu tomo, mas por conta da pandemia, eu não fui logo. Fiquei com medo porque o pai da minha filha teve Covid-19 e eu não saía de casa para nada. Deixei para ir mesmo quando saí do ensino remoto e acabei levando outras três colegas de trabalho comigo”, relata Sonia, que reforçou ter usado máscara e proteção de acrílico enquanto esteve na unidade de saúde. 

A educadora julga ser “imprescindível” manter o calendário vacinal atualizado, tanto por um zelo pessoal, quanto para não contaminar as crianças com quem trabalha diretamente. “Além da gripe, eu tomo outras vacinas também. É importante demais estar com as vacinas em dia, ainda mais agora com o novo coronavírus, que a gente pode ficar mais debilitada com outras doenças”. 

Ainda segundo Carmem Osterne, da Sesa, o elevado número de pessoas vacinadas contra a gripe poderá ter novamente uma repercussão positiva nos índices em 2021. “Quanto mais vacinados, menor o risco de adoecerem. Quanto mais você vacina, mais pessoas ficam imunizadas e automaticamente o vírus circula menos”, atesta Carmem.

(Fonte: Diário do Nordeste)

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