FOTO: Helene Santos

Já são pouco mais de sete meses de pandemia de coronavírus no Ceará e mais de 269 mil casos confirmados da doença. Nesse tempo, a incidência da Covid-19 varia entre as faixas etárias, mas uma das tendências que se mantém é o aumento da proporção de pessoas jovens contaminadas. Análise feita pelo Sistema Verdes Mares, a partir dos registros do IntegraSUS, sobre pessoas doentes por grupos etários (a cada 10 anos), aponta que, se no começo da crise sanitária, em março, os jovens de 20 a 29 anos eram o quarto grupo populacional mais infectado, hoje, são o segundo. 

Pessoas entre 30 e 39 anos são, proporcionalmente, as que mais testaram positivo para a doença, desde o início, no Estado, e assim permanece. Já entre as de 20 até 29 anos, em março, a cada 100 confirmações, 13 eram de pessoas desse grupo. Agora, a cada 100 infectados, 17 estão nessa faixa.

Os dados analisados pelo SVM foram coletados no IntegraSUS, sistema da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), no dia 23 de outubro. A análise da proporção de contaminação por faixa etária considerou os registros de casos feitos até o dia 20 de cada mês, de março a outubro. No início da pandemia, a cada 100 contaminações, 24 eram de pessoas de 30 a 39 anos. Após esse grupo, as pessoas que mais testaram positivo para a doença eram, respectivamente, as de 40 até 49 anos e de 50 até 59 anos. Os jovens entre 20 e 29 anos, eram proporcionalmente, o quarto grupo que mais contraía Covid-19 à época. 

Em junho, quando houve o início da reabertura gradual das atividades econômicas no Estado, os jovens de 20 até 29 anos passaram a ser o terceiro grupo, com 15,8% dos infectados à época. Em setembro, a proporção de pessoas com a doença e pertencente a este grupo etário aumentou ainda mais. Desde então, os jovens de 20 até 29 anos passaram a ser o segundo grupo de maior incidência da Covid no Ceará. 

Além desses jovens, outro grupo etário também registrou aumento proporcional da infecção. Crianças e adolescentes de 10 até 19 anos, no início da pandemia, eram 2,66% dos infectados no Estado, oitavo grupo mais contaminado. Hoje, representam seis pacientes a cada 100 confirmações. Apesar do aumento, esse grupo, não é um dos de maior incidência da doença, sendo o sexto que mais se contamina. 

Estudante testou positivo após aulas práticas 
Um dos jovens que, mesmo atento às medidas de higiene e de distanciamento físico, testaram positivo para a Covid-19 foi o estudante Yan Botelho, 21 anos, no dia 4 de outubro. "Eu só saía de máscara, com álcool em gel, acredito que tenha me contaminado na semana anterior. Eu tive aulas práticas, mas com todos os cuidados, tive que sair de casa, cheguei a ver alguns amigos, mas ninguém mais adoeceu", lembra. Por quase uma semana persistiram febre, dor de cabeça, no corpo e na garganta, tosse seca e oscilação do olfato. 

A relevância dos cuidados para conter o avanço da doença está ainda mais evidente para Yan, que cursa Medicina na Universidade Federal do Ceará (UFC). "Se eu não tivesse me isolado, poderia ter contaminado minha família, meus amigos e colegas. Bastava um contaminado para passar para outras pessoas". 

Foram então duas semanas com restrições de contato até mesmo com a família, alimentação dentro do quarto, e uso de máscara ao transitar por espaços de convivência. "Quando eu estava doente, o meu maior prejuízo foi exatamente em relação a perder minhas aulas práticas. É muito complicado ficar trancado no quarto 24h por dia, não tem o que fazer, não tem uma válvula de escape, é péssimo para saúde mental porque você fica muito ansioso", pondera. 

Os fatores que podem ter provocado o aumento proporcional de casos entre os jovens, ao longo dos meses no Ceará, são diversos. Dentre eles, está a maior exposição da população ao risco de contaminação, redução de cuidados sanitários por acharem que os efeitos da doença são menos severos nessa idade e a representação populacional, já que no Ceará, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o maior número de habitantes tem entre 20 e 29 anos. Dos 9,1 milhões de residentes no Estado, 17,02% são deste grupo etário. 

Cuidados 
O médico infectologista Robério Leite reforça que esse grupo, de modo geral, é a "força de trabalho e precisou se expor mesmo no período de maior restrição". Além disso, pondera ele, por outro lado, "é um público que tem uma certa sensação de invulnerabilidade que começa na adolescência. Você está no auge do seu vigor físico, imunológico, adoece menos, então se sente mais tranquilo em relação a essa questão". Mas, o médico reforça, "embora não seja um grupo de risco principal, em qualquer faixa de idade, você pode ter a doença na sua forma mais grave". 

Outro aspecto, explica o médico, é que os jovens tendem a ter mais necessidade de agregação social, de encontros presenciais e isso geralmente está ligado aos "grandes eventos que são chamados de espalhadores da doença, como festas, lugares lotados", acrescenta Robério. 

O médico também diz que, independentemente da idade, o cumprimento das normas sanitárias deve ser permanente, pois a tendência agora é que a pandemia se intensifique em algumas comunidades locais, diminua e depois recrudesça. "Teremos que seguir, sem mudanças, um conjunto de medidas por um longo tempo". Ele reitera que o espectro mais severo da doença pode acontecer em qualquer faixa etária e reforça que os jovens têm menor risco, mas não são invulneráveis. "Tanto é que temos crianças, jovens e adultos que faleceram da Covid-19, infelizmente", ressalta. 

Internações 
Em relação às internações, os idosos, conforme já esperado pela ciência e observado em outras regiões e países, são no Ceará a população que majoritariamente demanda hospitalização em decorrência da Covid-19. 

Conforme dados do IntegraSUS, até o dia 20 de outubro o Estado teve 15.581 internações. Do total de hospitalizações, 64,76% são de pessoas com 60 anos ou mais. A demanda por internamento segue praticamente a distribuição dos grupos etários e cai à medida que a população é mais jovem. 

O presidente da Associação dos Hospitais do Estado do Ceará (Ahece), Luiz Aramicy Pinto, observa no monitoramento da rede formada por 10 hospitais privados uma variação na característica das internações. "No perfil hoje, por incrível que pareça, os idosos são menos porque eles estão mais acautelados e as pessoas, principalmente, da faixa de 20 até 50 anos estão circulando muito mais, participando de outros eventos e, por vezes, sem adotar as medidas", analisa o presidente da Ahece. 

Ontem, a rede privada atendia 126 pacientes em enfermarias e outros 30 em leitos de UTI, cenário diferente do observado em maio quando uma única unidade de saúde manteve cerca de 30 UTIs ativas, lembra Aramicy. 

"Nós tivemos um pico na curva muito sério, que toda a população tomou conhecimento, depois tivemos uma regressão muito grande e agora nós tivemos, nos últimos 10 dias, uma procura pontual. Realmente, no ambulatório, a porta de entrada dos hospitais, começou a aparecer mais pacientes com queixas e para fazer exames", destaca.

(Fonte: Diário do Nordeste)

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