FOTO: Cleo Velleda

Uma aluna do Centro Universitário Dr. Leão Sampaio (Unileão), teve texto publicado em projeto do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. A iniciativa, chamada de “A Palavra no Agora”, visa divulgar textos para estimular o uso da palavra para combater os efeitos da pandemia de Covid-19. 

A estudante do 4º semestre do curso de Psicologia, Lidiane Bernardo Gomes, é natural de Exu (PE), e teve texto aprovado no último mês de outubro para compor o projeto. Segundo o museu, a iniciativa surgiu da constatação dos múltiplos prejuízos causados pelo coronavírus, além do trauma pela perda de pessoas queridas, e a impossibilidade de realização dos rituais tradicionais de luto, por conta do isolamento social, que para muitos provoca uma dor ainda maior a familiares e amigos. 

No texto, foram levados em consideração temas como as perdas simbólicas, o convívio, as rotinas, o trabalho, o cotidiano e a concretude da existência. O museu então propôs que as pessoas escrevessem sobre a pessoa que se foi, ou sobre os próprios sentimentos, como maneira de lidar com as múltiplas perdas. Eis o texto de Lidiane

“Tudo acaba, o amor fica.” 
A necessidade de viver faz com que em alguns momentos nos sintamos fortes ou fracos demais. É como saber o que se deve fazer, mas o medo de enfrentar a si o paralisa. O olhar para dentro traz perturbações que nos colocam diante daquilo que não queremos enxergar, apesar de está bem ali diante de nossos olhos a realidade tal qual como ela é. Ficar com medo do futuro, da finitude da vida não é para provocar um estado de adoecimento, de anestesia, de perda de sentido de tudo, o futuro é incerto independente do nosso estado de espírito. Está bem, alegre, feliz não significa garantia da existência do amanhã, assim parece ser porque fomos educados a rejeitar as perdas, a ignorá-las. 

Deixamos de viver o presente antecipando dores de um luto seja ele por qual motivo for, não lidamos bem com perdas, não sabemos perder. Prendemo-nos aos outros e os prendemos a nós como objetos, como algo que possuímos. Então, por que nos momentos difíceis a dor parece ser mais presente, controladora do nosso íntimo? Será que precisamos apenas assumir o lugar no EU onde colocamos aquilo que emocionalmente nos abala? 

Queremos ser piloto da viagem sem destino, mas temos medo de chegar à estação que não desejamos. Queremos um amor sem dor, um riso sem choro, um abraço sem fim, um sim sem não, uma chegada sem partida, a completude do incompleto, a certeza do incerto, o tudo ter daquilo que não possui. Tudo bem sonhar, acreditar e esperar dias melhores, sabendo que cada momento tem seu marco estabelecido e nenhuma condição que nos encontramos nos permite fugir do sentido de viver e aceitar a finitude da vida sem deixar de viver por isso. O sentido de viver é viver mesmo sabendo que inexoravelmente tudo terá fim quando a morte chegar, no entanto, isso não deve sem um motivo para deixar de viver, pelo contrário, isso deve ser exatamente o que dará sentido ao viver. 

É preciso aceitar um olhar de si livre do enxergar do outro, para que a perda ou ausência desse outro não te esvaziei de sentido possibilitando que os lugares doloridos sejam preenchidos pelo amor que fora experimentado. Tudo acaba o amor fica. É preciso ser o que se é de fato e não porque alguém espera que sejamos, não porque queremos fazer para alguém, isso leva a desconstrução de si na ausência do outro pela falta daquele olhar que nos valoriza. Faça o exercício de pensar que vivemos antecipando a morte quando olhamos o relógio repetidas vezes, contamos os dias no calendário, estabelecemos prazos para tudo, inevitavelmente morremos um pouco todo dia. O segredo é não desperdiçar o presente, não lamentar o passado e não antecipar o futuro. 

Permitir se extinguir para se encontrar, mesmo diante do caos que seu coração possa lhe apresentar, deixar se guiar pela possibilidade de alcançar uma estrela cintilante para que assim posso ser dono ser aprisionar, senhor sem castigar, controlar sem reprimir. A próxima estação é desconhecida, porém depois que o trem parte ele tem um destino e não sabemos se chegará lá, mas ousamos embarcar nele. Dentro de si está tudo que pretende alcançar. Não se distancie daquilo que só você pode ver e só você pode ter: seu próprio EU. Cuide dele! É a única coisa que te pertence. 

Projeto
Com o objetivo de ajudar as pessoas a lidar com os sentimentos advindos da pandemia, o Museu da Língua Portuguesa lançou o projeto virtual “A Palavra no Agora”, de forma virtual, visando estimular o público a pensar e processar esse momento complexo a partir de exercícios de escrita. Os interessados podem conferir todas as publicações, que estão disponíveis gratuitamente no site noagora.museudalinguaportuguesa.org.br

Para estimular e inspirar o público, o site também disponibiliza trechos de obras literárias que falam sobre o sentimento de perda, além de resenhas de livros e filmes que de alguma maneira abordem o assunto. São áreas abertas para a contribuição de escritores, editoras e do público, que pode tomar a iniciativa de sugerir obras (filmes, livros, músicas) que possam apoiar e inspirar outras pessoas nesse momento. 

Museu da Língua Portuguesa
O Museu da Língua Portuguesa é uma iniciativa da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, concebido e realizado em parceria com a Fundação Roberto Marinho. Tem como patrocinador máster a EDP Brasil, como patrocinadores o Grupo Globo, Grupo Itaú Unibanco e Sabesp e apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e do Governo Federal, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. 

Um dos primeiros museus do mundo totalmente dedicado a um idioma, o Museu está em reconstrução após incêndio sofrido em 2015, e até hoje celebra a língua como elemento fundador e fundamental da nossa cultura. Por meio de experiências interativas, conteúdo audiovisual e ambientes imersivos, o visitante é conduzido a um mergulho na história e na diversidade do nosso idioma.

(Com informações da Unileão, Museu da Língua Portuguesa e Site Badalo)

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