FOTO: José Cruz

Vem das cidades pequenas do sertão cearense o maior número proporcional de mulheres eleitas no último dia 15 para ocupar cadeiras nas câmaras municipais. A estatística contradiz a impressão inicial de que os núcleos urbanos menos desenvolvidos seriam resistentes à eleição de candidaturas femininas. Já nos médios e grandes centros, é reduzida a escolha de vereadoras. Os dados são do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). 

A cidade de Baixio, no Centro-Sul cearense, com apenas 4.773 eleitores ocupa, proporcionalmente, o primeiro lugar no Ceará em eleger vereadoras. São nove vagas e seis delas (66,6%) serão ocupadas por mulheres a partir de 1º de janeiro de 2021. 

Em segundo lugar aparecem igualmente Antonina do Norte (5.598 eleitores), no Cariri cearense, e Chaval (8.879 eleitores), no extremo norte do Estado. As duas cidades têm nove vagas no legislativo e elegeram cinco vereadoras cada, o que corresponde a 55,5%. 

Pindoretama, que fica no Litoral Leste cearense, tem 15.350 eleitores e dispõe de 11 vagas na Câmara Municipal. Nas eleições passadas, elegeu seis mulheres (54,5%). 

O município de Senador Sá, na região Norte do Estado, faz parte do rol de cidades que, em relação ao número de vagas no legislativo, elegeram maior número de mulheres. Neste ano, foram quatro de um total de nove, ou seja, 44,4%. 

Outra cidade que desperta curiosidade é a conhecida ‘Terra do Vaqueiro’, Morada Nova, no Sertão Central, que elegeu seis vereadoras em um total de 15 vagas (40%). O município é de porte médio com 45.336 eleitores. 

Em comparação com o pleito de 2016, o número de vereadoras eleitas em 2020 é muito próximo, ou seja, 348 neste ano e 350 na eleição anterior. 

Já um recorte nas maiores cidades do interior do Estado mostra reduzida participação do público feminino nos legislativos municipais. Juazeiro do Norte, no Cariri cearense, com 143.931 eleitores e 21 vagas, elegeu apenas três mulheres (14,2%). 

Sobral, polo da região Norte, com 121.470 eleitores e 21 vagas na Câmara Municipal também só elegeu três mulheres. Crato, no Sul do Ceará, com 73.360 eleitores e 19 cadeiras no legislativo local, elegeu apenas duas vereadoras (10,5%). 

No Centro-Sul cearense, Iguatu tem 56.894 eleitores e 17 vagas na Câmara, elegeu apenas uma vereadora, a primeira-dama, Eliane Braz, que foi a mais votada. 

Um total de 14 cidades não elegeram nenhuma mulher para o legislativo municipal: Barro, Beberibe, Capistrano, Catarina, Ibicuitinga, Iracema, Milhã, Ocará, Orós, Russas, Tamboril, Umirim, Penaforte e Piquet Carneiro. 

A assistente social e ex-vereadora, pelo PC do B, Cida Albuquerque, mas que neste ano não foi eleita, observa que há muita desigualdade e que “as mulheres não costumam votar em mulheres” e lamentou a prática da política tradicional mediante “favores, compra de votos e uso da máquina administrativa”. 

Para a socióloga Patrícia Lima, as mulheres ainda têm dificuldades de ocupar cargos de poder e serem eleitas. Ela observa que “muitas candidaturas são apenas para ocupar cotas partidárias”. A presidente da Associação das Mulheres Iguatuenses (AMI), Francisca Saraiva, critica “as tomadas de decisões políticas sem a participação das mulheres” e defende que “elas devem fazer, sim, parte da vida pública”. 

Em Morada Nova, mãe e filha foram eleitas vereadoras. A atual vice-prefeita, Jane Martins, foi escolhida juntamente com a mãe, professora e líder sindical, Bia Martins, além de outras quatro. “Precisamos incentivar, cada vez mais, a participação feminina na política", pontuou Bia Martins. 

Prefeitas
Em 2016, o Ceará, que tem 184 municípios, elegeu 25 prefeitas (13,5%). Neste ano houve aumento, foram 30 (16,3%). 

Em 15 de novembro passado, as cidades que elegeram prefeitas foram Acaraú, Apuiares, Barreira, Beberibe, Brejo Santo, Camocim, Canindé, Caridade, Catunda, Graça, Granja, Guaíba, Guaramiranga, Hidrolândia, Ibaretama, Icó, Irauçuba, Itapajé, Jati, Madalena, Massapê, Nova Russas, Ocara, Solonópole, Tauá, Tururu, Paraipaba, Paramoti, Pires Ferreira e Quiterianópolis.

(Diário do Nordeste)

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