Uma pesquisa do Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa (IDOR) e do Hospital São Rafael, em Salvador, detectou um caso de reinfecção do novo coronavírus no Brasil com a mutação encontrada na África do Sul. A paciente é uma mulher de 45 anos, moradora de Salvador e sem registro de comorbidades. 

A descoberta já foi comunicada às autoridades. A reportagem procurou a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), que informou que ainda não foi notificada da pesquisa. 

A paciente está sendo acompanhada pelos pesquisadores. O primeiro episódio da Covid-19 na mulher ocorreu em 20 de maio de 2020, e o segundo em 26 de outubro. Segundo o IDOR, na reinfecção ela teve sintomas mais severos. 

Os dois diagnósticos foram confirmados a partir de testes RT-PCR, que são considerados referência porque detectam a infecção a partir de material coletado pela garganta e pelo nariz do paciente e identificam se há contaminação no momento do exame. 

Quatro semanas após a segunda confirmação, a paciente passou por um teste de IGg, que é um exame sorológico que comprova se há a presença de anticorpos, gerados após a contaminação. 

Mutação 
A mutação encontrada na África do Sul é a E484K. A descoberta da pesquisa do IDOR foi publicada em versão "preprint", que é uma pré-publicação, e aguarda revisão da revista científica The Lancet Infectious Diseases, uma das mais prestigiadas do mundo. 

O pesquisador do IDOR e doutor Bruno Solano explica que esse caso de reinfecção foi confirmado por sequenciamento genético do vírus. 

“Trata-se do primeiro caso de reinfecção por SARS-CoV-2 no estado da Bahia, confirmado por sequenciamento. Foi observada na sequência genética do vírus presente no segundo episódio a mutação E484K, que é uma mutação identificada originalmente na África do Sul", disse. 

Essa mutação faz parte de um grupo de variantes da Covid-19 que foram associadas ao aumento da infecciosidade. Segundo Solano, essa mutação causa preocupação porque pode dificultar a ação de anticorpos do coronavírus. 

"Tem causado muita preocupação no meio médico, pois ela pode dificultar a ação de anticorpos contra o vírus. Esta mutação foi recentemente identificada no Rio de Janeiro, mas é a primeira vez, em todo o mundo, em que é associada a uma reinfecção por SARS-CoV-2”, explicou. 

Em dezembro, houve o registro de uma mutação semelhante identificada no Rio de Janeiro, mas essa é foi a primeira vez que ela é associada à Covid-19. 

Identificação 
A identificação foi feita partir do isolamento dos vírus em laboratório. Com isso, os pesquisadores fizeram a análise genética das variantes do coronavírus do primeiro e segundo episódios de infecção para compará-los entre si. 

Além disso, nessa investigação os cientistas também associaram a descoberta com outras sequências genéticas de vírus isolados no Brasil e no mundo. 

Foi a partir dessas análises que os pesquisadores concluíram que a paciente apresentou, em um intervalo de 147 dias, dois episódios de Covid-19, tendo cada um sido provocado por vírus de linhagens diferentes. 

O grupo de pesquisa do IDOR segue investigando outros casos suspeitos de reinfecção, para monitorar a presença desta e de outras eventuais variantes genéticas, que podem estar circulando no Brasil.

(Fonte: G1 BA)

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