Foto: Thiago Gadelha

O agravamento da Covid-19 no organismo, muitas vezes, demanda internação em unidades mais complexas de saúde. O ideal é que o atendimento fosse o mais rápido e próximo possível, mas apenas 23 das 184 cidades cearenses (12,5%) dispõem de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para dar assistência a pacientes graves com a doença, de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).

No mês de fevereiro, eram 25, conforme um estudo elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), baseado em informações do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Aracoiaba, Horizonte e Pedra Branca constavam no Cadastro, mas não aparecem na lista da Sesa nem nos indicadores da plataforma IntegraSUS.

Confira a lista atualizada abaixo:

Aquiraz
Barbalha
Brejo Santo
Canindé
Caucaia
Crateús
Crato
Eusébio
Fortaleza
Icó
Iguatu
Itapipoca
Juazeiro do Norte
Limoeiro do Norte
Maracanaú
Maranguape
Quixadá
Quixeramobim
Redenção
São Gonçalo do Amarante
Sobral
Tauá
Tianguá

Em nota, a Sesa explicou que, para a instalação de UTIs, avalia municípios que têm hospitais polos, localizados em cidades acima de 50 mil habitantes. Eles podem receber 10 leitos de UTI, pelo menos.

“Há outros critérios de escolha para montagem de leitos no Interior, como as visitas da equipe técnica da Sesa aos hospital, para conferir se a unidade tem estrutura mínima”, afirma.

A pandemia acelerou a abertura de equipamentos no Estado, prevista no plano de regionalização da Secretaria, já que a Pasta lembra que, até 2019, apenas quatro cidades contavam com leitos de UTI: Fortaleza, Sobral, Barbalha e Juazeiro do Norte.

SOBRECARGA E COLAPSO
A coordenação do estudo da Fiocruz explica que, no caso das UTIs, vários municípios compõem a mesma rede e utilizam a mesma estrutura de saúde, as chamadas “regiões de saúde”. No Ceará, atualmente, há cinco delas: Fortaleza, Sobral, Sertão Central, Litoral Leste/Jaguaribe e Cariri.

Os pesquisadores apontam que a sobrecarga gerada por vários municípios em um número restrito deles pode colapsar a rede de saúde.

Para ter um panorama do impacto de pacientes transferidos entre regiões de saúde, o Diário do Nordeste avaliou 47.823 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) hospitalizados no Ceará, incluindo Covid-19, de janeiro de 2020 ao dia 5 de abril de 2021. 

Os dados são do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), do Ministério da Saúde.

Foram analisadas cinco cidades do Estado: Fortaleza, Sobral, Quixeramobim e Juazeiro do Norte, que abrigam hospitais regionais da Sesa, e Limoeiro do Norte, onde há mais um em construção. Essas unidades são responsáveis por atender a casos de alta complexidade na rede pública estadual. Contudo, os dados não correspondem apenas a tais hospitais.

A maior discrepância entre demanda e atendimento é observada em Quixeramobim, no Sertão Central. Lá, 80% dos pacientes internados com síndromes gripais graves não residiam na cidade, e 33,7% nem mesmo moravam na mesma região de saúde. 

Já as menores diferenças foram registradas em Juazeiro do Norte e Sobral, onde apenas 0,85% e 1,63% dos pacientes acolhidos, respectivamente, não residiam na área geográfica correspondente.

Fortaleza atendeu 78,5% dos pacientes da própria Capital, mas 6,8% dos pacientes não vieram de sua mesma região.

Em números absolutos, foram mais de 1,9 mil pessoas transferidas das outras quatro áreas do Ceará - o correspondente a quase todas as internações realizadas em Juazeiro do Norte, no mesmo período.

Além disso, a Capital acolheu 105 pacientes residentes de 44 cidades de outros 16 Estados: Amazonas, São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Alagoas, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe, Bahia, Rondônia, Pará, Roraima, Amapá, Minas Gerais, Pernambuco e Paraná, além do Distrito Federal.

COMPLEXIDADE DOS CASOS
Até março de 2021, segundo a Fiocruz, 119 municípios cearenses atenderam a pacientes que demandavam alguma hospitalização por Covid-19. No entanto, somente 41 realizaram atendimento em Unidades de Cuidado Intermediário (UCI) ou UTIs, evidenciando que poucos municípios são responsáveis por tratar casos mais graves.

A Secretaria da Saúde garantiu que os critérios adotados para regulação de leitos e transferências entre as regiões de saúde são:

quadro clínico do paciente;
nível de criticidade;
se o paciente tem indicação de leito de enfermaria ou UTI;
se naquela região existe leito de UTI, o paciente vai para um leito de UTI mais próximo da cidade de origem. Se todos os leitos de UTI daquela região estiverem ocupados, o paciente vai para o hospital mais próximo de outra região de saúde que tem leito de UTI.

Na última quarta-feira (15), a rede pública estadual atingiu 4.946 leitos exclusivos para tratar Covid-19, sendo 3.651 de enfermaria e 1.295 de UTI. O número supera em quase 2 mil o número de leitos abertos na primeira onda da pandemia, em 2020.

"Diferente do ano passado, tivemos epidemias simultâneas nas regiões de saúde e isso levou a uma pressão assistencial muito grande por leitos. Foi uma abertura muito grande e rápida que teve de ser feita em todo o Estado”
MAGDA ALMEIDA

Secretária-executiva de Vigilância e Regulação
Apesar do incremento de leitos, 1.013 pacientes aguardam por leitos no Ceará, atualmente, de acordo com a plataforma IntegraSUS. Do total, 396 esperam em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e 617 em hospitais.

Segundo Magda Almeida, em muitos casos, essas unidades de saúde não possuem o nível de complexidade adequado para cada caso, por isso a necessidade das transferências.

MEDIDAS COMPARTILHADAS
O estudo da Fiocruz alerta que as regiões de saúde nem sempre funcionam da forma como estão "desenhadas". Apesar de não haver escoamento de pacientes para outros Estados vizinhos, no Ceará, há uma migração de pacientes entre regiões, sobretudo do Sertão Central para a região de Fortaleza.

“Os gestores locais devem considerar essas redes de atenção, seja seus municípios importadores ou exportadores de casos graves que necessitam internação”, explica.

A conclusão do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) é que os municípios devem seguir as suas macrorregiões de saúde para evitar futuros colapsos.

“Nenhum município é completamente independente e as medidas isoladas podem causar ainda mais desorganização no sistema de saúde”, afirma.

Por isso, sugere que as mesmas macrorregiões tomem medidas compartilhadas para aumento da restrição ou relaxamento das medidas de distanciamento social.

Se houver pressão nas divisas, a decisão compartilhada deveria ocorrer entre Estados com apoio do Governo Federal.

Magda Almeida, da Sesa, lembra que o isolamento social rígido, por exemplo, é medida do Governo que precisa de adesão da população para funcionar.

“Temos visto uma redução de ocupação de leitos um pouco mais lenta. As pessoas têm que circular, mas com medidas de distanciamento e uso obrigatório de máscara”, recomenda. 

Fonte: Diário do Nordeste

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