Wlisses Cândido mora no distrito de Santarém, zona rural, de Orós, na região Centro-Sul cearense. Foto: Wandenberg Belém

No início do século passado, o escritor Euclides da Cunha elaborou a frase que ‘o sertanejo é, antes de tudo, um forte’. Pode-se ampliar para outras características da gente que habita o semiárido: a determinação e a criatividade.

Um exemplo vem do distrito de Santarém, zona rural, de Orós, na região Centro-Sul cearense. Wlisses Cândido, 21 anos, um jovem agricultor apaixonado por música, toca quatro instrumentos: violino, saxofone, violão e guitarra.

O saxofone foi feito pelo jovem músico a partir de pedaços de canos de PVC. O instrumento é a sua grande paixão. O jovem recorda que a paixão e o gosto pela música começaram em 2014, “quando eu comecei a ver muitos músicos tocando”.

Wlisses Cândido nasceu e vive na terra de origem do músico e compositor Raimundo Fagner, o distrito de Santarém. O sobrenome também é o mesmo do cantor, indicando a possibilidade de uma mesma origem familiar.

Há sete anos, desde que ganhou um violino de uma igreja em que congrega na comunidade, Wlisses Cândido tem se dedicado cada vez mais. É autodidata no processo de aprendizagem de música.

Música no sertão

Nesta época do ano, de chuva no sertão, da paisagem verde, de uma brisa suave pela manhã cedinho ou no fim de tarde, o som do violino vai se espalhando aos poucos e ocupa parte do espaço campestre juntamente com o cantar dos passarinhos, ao pôr do sol.

Em meio a essa paisagem sertaneja do interior cearense, no terreiro de casa, Wlisses toca o instrumento. Apesar de estar faltando uma corda, ele consegue tirar as notas com facilidade e executa várias melodias.

O rapaz ainda trabalha na roça com o pai, Wilton Roseno Cândido, no plantio de fruteiras – banana e coco – e de grãos de sequeiro (milho e feijão). Mesmo quando está cuidando do roçado, na pausa para descansar do trabalho pesado, puxando a enxada, o jovem músico e agricultor ameniza o cansaço tocando o violino sob a sombra de um juazeiro ou de outras árvores nativas.

“Meu sonho é ser um músico profissional”

A afinidade com o instrumento começou pela sonoridade que proporciona, revelou. “Aprendi sozinho”, diz. “Meu sonho é ser um músico profissional”. Por enquanto, a música é um hobby na vida do jovem que ajuda a amadurecer a fé dos fiéis nos cultos celebrados na comunidade.

Para o jovem agricultor e músico aprendiz, o instrumento mais difícil de aprender os acordes “foi a guitarra, mas graças à noção do violão, consegui dominar. No começo, foi bem complicado tirar os sons e estudar as músicas, mas foi dando certo com persistência”.

E qual o método de aprendizagem de Wlisses Cândido? Ele explica: “Eu ouço e identifico as notas. No início é complicado, mas com o tempo e prática a gente vai aprendendo e leio algumas partituras”.

Para o jovem, que tem gosto variado, “a música é uma arte maravilhosa e gosto de gospel, clássica, rock, MPB”. Se a música é de qualidade, eu gosto. Pode ser qualquer gênero”.

Apoio da família

Mesmo diante de tantos desafios e dificuldades financeiras, a família sempre tem apoiado o rapaz. Aivam Leandro, agricultora, mãe de Wlisses, frisa que “o filho é uma joia preciosa, bom rapaz, dedicado e estudioso, que nos dá orgulho e grande alegria, mas ao mesmo tempo vem aquela tristeza pelas dificuldades em conseguir os seus próprios instrumentos”.

O artista que só toca na igreja, por conta da pandemia está em casa, onde tem uma plateia bem reduzida, mas muito querida e de quem recebe incentivo e carinho.

Fonte: Diário do Nordeste

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