Todas as lojas de Antonina permanecem fechadas. Só abrem os serviços essenciais Foto: Antonio Rodrigues

A segunda onda da pandemia do novo coronavírus chegou de forma avassaladora. O vírus segue dizimando e, em apenas três meses de 2021, os números já são superiores aos de 2020. No entanto, algumas cidades cearenses têm conseguido apresentar, até agora, um cenário menos crítico.

Antonina do Norte, na região do Cariri, tem o menor número de casos da doença, com 150 confirmações de infecções causadas pelo novo coronavírus e, Aiuaba, nos Inhamuns, figura com a segunda menor incidência (1.741,5), atrás apenas de Pedra Branca (1.213,6).  

Mas, afinal, quais fatores explicam esse relativo sucesso no controle da doença? O Diário do Nordeste visitou os dois municípios e identificou uma atmosfera pacata, típica das pequenas cidades interioranas. No entanto, para além disso, gestores fazem questão de ressaltar o rigor na fiscalização e nas medidas sanitárias adotadas nos últimos dois meses, que, segundo eles, são os grandes responsáveis pela obtenção de números abaixo da média.

MUDANÇA DE POSTURA
Aiuaba e Antonina começaram o ano tal qual as outras cidades do Estado: com casos e mortes por decorrência da Covid-19 em alta. A partir do fim de janeiro, a média móvel de novos casos começou a subir em Aiuaba, chegando a 4,57 em 13 de março, o maior índice desde então. O aumento ligou o sinal de alerta e a Secretaria da Saúde do Município decidiu impor medidas ainda mais restritivas que as vigentes por meio do decreto estadual.

"No início de março implantamos um lockdown rígido. Durante dez dias nada foi aberto, nem as atividades essenciais. Após esse período permitimos a abertura do que era essencial. O toque de recolher a partir de 20h segue, já há quase um mês. Acredito que essas medidas foram fundamentais."
LINDALVA ANDRADE
Secretária da Saúde de Aiuaba

Essas ações surtiram efeito. A partir do dia 17 de março os índices entraram em queda. Há 12 dias a média móvel está abaixo de 0,50. A população, segundo a gestora, contribuiu e tem parcela importante neste êxito. "Cerca de 80% dos moradores respeitaram todas as determinações", pontua Lindalva.

ENGAJAMENTO
O auditor fiscal aposentado Normando Braga, 77, reconhece o engajamento da população. Ele conta que não há aglomeração no centro e, "os poucos estabelecimentos que estão abertos, cumprem todas as medidas sanitárias". Essa postura, conforme avalia, tem sido o principal responsável por frear a transmissão na cidade, que conta com pouco mais de 17 mil habitantes.

Apesar dos bons indicadores, Normando adverte à necessidade de permanência do estado de vigilância. "A fiscalização não pode descuidar. Em alguns pontos acho que poderia até ser intensificada", acrescenta. A agricultora Inocência Alves, compartilha da mesma opinião. Com olhar mais rígido, ela diz que "ainda há gente que não usa máscara" e considera que essa prática deve ser coibida. 

Para o vendedor autônomo Honório de Sousa, o medo da contaminação fez com que a população tivesse maior adesão ao isolamento, medida que, segundo ele, é "necessária". A coordenadora da Vigilância Epidemiológica e Imunização de Aiuaba, Tauhane Apolinário Sampaio, destaca que esse apoio da população evitou uma explosão de casos.

Ela lembra que por ser uma cidade pequena, Aiuaba não tem estrutura hospitalar para atender um grande número de infecções. "Por isso, desde o início a gente vem desenvolvendo várias ações, como as barreiras sanitárias que foram feitas no começo da pandemia, a fiscalização mais ativa e o monitoramento de casos para evitar que o infectado transmita o vírus", detalha.

O risco para contágio da doença que era "altíssimo", em fevereiro, conforme dados da Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado, hoje é "moderado". 

CIDADE DESERTA 
A movimentação nas ruas da pequena cidade de Antonina do Norte - a sétima menos populosa do Estado, com cerca de 7.400 mil habitantes - nunca foi agitada. O clima pacato é predominante no Município, inclusive, nas áreas centrais. No entanto, neste ano, o cenário nas ruas ganhou contornos ainda mais desérticos.

Quem anda pelas ruas encontra pouca movimentação e raras lojas abertas. A reportagem do Diário do Nordeste não identificou nenhuma loja aberta durante a terça-feira (6). O panorama é reflexo da vigência do isolamento social rígido que tem sido cumprido quase que à risca em Antonina do Norte. Esse respeito às medidas sanitárias espelha o baixo número de casos de infecção. São 150. 

Um desses infectados foi o mecânico Luciano Alves. No início de fevereiro ele começou a sentir febre e falta de paladar. "Quando o corpo começou a esmorecer, me dei conta que era Covid e o exame deu positivo. Tive medo de transmitir a doença para meu pai, que é diabético", relata. O temor, felizmente, não se concretizou. Seus familiares não foram infectados e Luciano se recuperou.

As lições da doença hoje são impressas em seu dia a dia. Luciano confessa que redobrou os cuidados e passou a aconselhar amigos e parentes a adotarem a mesma postura preventiva. "Aqui é uma cidade pequena, então a gente vai conversando para que todos colaborem. Na lotérica, onde costuma formar mais aglomeração, a situação já está bem melhor", comemora.

Essa consciência coletiva conferiu uma sensação de segurança à população. O mototaxista Francisco Gomes da Silva conta que após o aumento de casos no início do ano, "o clima hoje é de mais tranquilidade". Esse aumento, no entanto, em números absolutos não é tão agudo. Ao longo de todo este ano, a média móvel de novos casos ficou abaixo de 2. Nesta terça, dia 6, ela está zerada.

AÇÃO PREVENTIVA
A coordenadora da Vigilância Epidemiológica do Município, Marilene Alves Pereira, explica que embora o clima da cidade seja de "tranquilidade", as ações seguem sendo realizadas, sobretudo no que diz respeito à prevenção e fiscalização.

"Equipes estão atentas aos pontos com maior risco de aglomeração, como na lotérica. Sempre que há alguma denúncia, a guarda municipal vai até o local para resolver. Também estamos fazendo com frequência a desinfecção de locais e realizando testes. O objetivo é manter nossos índices abaixo da média."
MARILENE ALVES
Coordenadora epidemiológica

Fonte: Diário do Nordeste

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