Foto: Camila Lima

A ansiedade pela imunização em massa contra a Covid pode tornar esse número incompreensível, mas 15.793 cearenses ainda não retornaram aos postos de vacinação para tomar a 2ª dose da Coronavac. Os dados são do Ministério da Saúde (MS), tabulados pelo Diário do Nordeste.

Entre os dias 18 de janeiro, primeiro dia de vacinação no Ceará, e 13 de março deste ano, 232.106 pessoas tomaram a 1ª dose da Coronavac. Portanto, esse mesmo quantitativo deveria ter tomado a 2ª dose até o último sábado, 10 de abril, considerando o intervalo máximo de 28 dias entre as doses do imunizante. 

Mas até o dia 10 deste mês, data mais atual disponível no banco de dados do MS, apenas 216.313 cearenses retornaram aos postos para garantir o reforço – mais de 15,7 mil aquém do esperado, uma taxa de abandono de 8,5%. Apesar de alto, o número é o 6º menor do Brasil, 3º mais baixo do Nordeste.

Estados brasileiros com população maior e que, por consequência, já aplicaram mais doses podem ter proporcionalmente maiores taxas de abandono. Além disso, foram encontrados erros no preenchimento das datas de aplicação em diversas unidades federativas, incluindo o Ceará.

Para o levantamento, o Diário do Nordeste considerou somente a Coronavac, produzida pela Sinovac em parceria com o Butantan, devido ao prazo de 28 dias entre as doses. A aplicação do reforço nos cearenses que tomaram a vacina da AstraZeneca/Oxford só terá início na próxima semana.

Os motivos para o atraso na dose vão desde esquecimento até a morte do paciente, como aponta Magda Almeida, secretária executiva de Vigilância e Regulação da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).

"No último mês, vimos que muitas pessoas faltam à segunda dose porque contraíram Covid ou estão com sintomas gripais, o que são contraindicações para a vacina."
MAGDA ALMEIDA
secretária executiva de Vigilância e Regulação / Sesa

Outro fator, segundo a gestora, “são os eventos adversos: quem teve eventos moderados ou graves após a primeira dose não pode tomar a segunda”. Há também os cearenses que faleceram no intervalo de 28 dias, seja por Covid, seja por outras causas.

Em 17 de março, conversamos com Helvia Lima, 42, sobre a espera do pai dela, José Ayres de Lima, 81, por um leito de UTI Covid. Após dias internado em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Fortaleza, o aposentado faleceu, encerrando a espera pela vaga e também pela segunda dose da vacina que tomaria.

SEM SEGUNDA DOSE, SEM FIM DA PANDEMIA
A aplicação do reforço da vacina contra a Covid é a única forma de garantir a imunidade: só a primeira não protege, como alerta Magda. “A orientação da Sesa é que os municípios realizem a busca ativa dessas pessoas”, frisa.

O imunologista Edson Teixeira, professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará (UFC), também revela preocupação quanto à “confiança das pessoas de que estão imunizadas só com a primeira dose”.

Ele salienta, ainda, que os pacientes que, por quaisquer razões, não compareceram ao posto de vacinação na data marcada devem, sim, buscar a complementação do esquema vacinal.

"Se atrasou, não há prejuízo à pessoa, só atrasa a chegada do Ceará à imunidade de rebanho. Pode ser que muitos pensem que porque perderam o prazo não podem mais tomar, e desistem de ir. Mas a qualquer tempo que tomar a 2ª dose, você atinge a mesma imunidade."
EDSON TEIXEIRA
imunologista

O imunologista aponta que a desinformação sobre a necessidade de tomar as duas doses é um fator determinante para aumentar o número de ausentes. “Muitas vezes a informação não chega clara, e gera o conhecimento incorreto de que ao tomar a primeira dose já se atingiu o nível de proteção necessário”, lamenta.

Edson, assim como Magda, aponta a busca ativa como solução importante do problema. “Existe a capilaridade do Programa de Saúde da Família, então é possível mapear essas pessoas a partir do endereço e através dos agentes comunitários de saúde. É muito importante que, sobretudo os idosos, atinjam a porcentagem ideal”, finaliza.

Fonte: Diário do Nordeste

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