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Desde o início da pandemia até a última quarta-feira (23), o Ceará contabilizou 846 casos e 71 mortes de gestantes e puérperas por Covid-19. Com isso, o Estado se tornou o primeiro do Nordeste em número de diagnósticos positivos e óbitos em decorrência da doença, segundo dados disponibilizados pelo Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 (OOBr Covid-19). 

Apesar da indesejada liderança, o painel dinâmico aponta que o Ceará somou, em 2020 e em 2021, 746 casos finalizados, ou seja, com desfecho de cura ou óbito. Desse total, 9,52% (71) correspondem a mortes pelo coronavírus no Estado. Proporcionalmente, o percentual de óbitos fica bem abaixo daqueles vistos, por exemplo, em Sergipe (30,61%), Maranhão (26,85%) e Rio Grande do Norte (22,73%). 

A porcentagem de casos admitidos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), relativos aos casos finalizados no Ceará, é de 17,73%. Nesse quesito, o Estado fica atrás apenas da Paraíba (14,98%) e de Pernambuco (17,27%). Maranhão (61,29%) e Alagoas (59,15%), por sua vez, apresentam os índices mais altos de admissão de casos finalizados em UTIs. 

Em âmbito nacional, o Ceará aparece em 6º lugar - mesma posição que o Amazonas - com mais óbitos maternos por Covid em toda a pandemia, ficando atrás somente de São Paulo (266), Rio de Janeiro (166), Minas Gerais (123), Goiás (80) e Paraná (79).

BAIXA ADESÃO À VACINAÇÃO ELEVA RISCOS, AFIRMA MÉDICA 
Na avaliação da ginecologista e obstetra Nathalia Posso, a morte de 9% das gestantes e puérperas infectadas pelo coronavírus no Ceará é um dado “alarmante”. E se deve, sobretudo, à baixa adesão das gestantes à vacinação, devido a questões como a desinformação e o temor a supostos efeitos adversos das vacinas.  

“Existiram notícias falando sobre efeitos colaterais da vacina, que algumas não foram verídicas. [Tem] ainda uma certa insegurança por parte da população em relação à vacinação de gestantes porque não foram testadas em gestantes”, justifica. 

Grávida de 8 meses, a médica obstetra já foi vacinada com a primeira dose e aguarda receber a segunda, prevista para o início do mês de julho. “É muito mais arriscado contrair o coronavírus durante a gestação do que receber a vacina”, diz, alertando para a maior vulnerabilidade das gestantes aos efeitos da doença. 

A Covid-19 é uma doença que quando acomete as gestantes tende a ter um desfecho mais desfavorável do que em mulheres que não estão gestantes. Temos maior necessidade de suporte ventilatório, complicações com a própria gravidez, que podem levar à pressão alta, como a pré-eclâmpsia, e podem levar inclusive ao óbito materno ou fetal”
NATHALIA POSSO
Ginecologista e obstetra

Apesar de existir imunidade por algum tempo após a primeira infecção pelo Sars-CoV-2, Nathalia lembra que as gestantes não podem descartar a possibilidade de que uma nova variante provoque efeitos mais graves, em caso de reinfecção.

"Então, não é garantia de imunidade. Inclusive, quem já tomou a vacina, deve continuar tomando todos os cuidados porque o ideal dessa doença é não contrair. Nós temos que seguir os protocolos que já existem: usar máscara o tempo inteiro, evitar aglomerações, não descuidar de usar o álcool em gel. E eu sempre aconselho às minhas pacientes, que tenham essa opção, que fiquem em home office”.

Até terça-feira (22), a plataforma IntegraSUS, alimentada pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), anotou 27 óbitos de gestantes e 28 mortes de puérperas acumulados desde o início da pandemia no Ceará.

O Vacinômetro da Sesa também indica que 30.397 gestantes e puérperas, com e sem comorbidades, foram vacinadas com primeiras doses (D1) das vacinas contra a Covid no Estado. Desse total, são 6.492 gestantes e puérperas com comorbidades e 23.905, sem comorbidades. Ainda não houve aplicação de segundas doses (D2) para esse público.

GRÁVIDAS MORREM MAIS NO BRASIL E NO CEARÁ EM 2021  
Desde o início da pandemia, foram registrados 14.484 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid-19 em gestantes e puérperas no Brasil, aponta o Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19. O número representa 1% de todos os casos somados no Brasil. 

Em 2020, 453 gestantes e puérperas morreram em decorrência da doença no País. Neste ano, já há registro de 1.006 óbitos. Em menos de seis meses, portanto, houve mais que o dobro de todas as mortes acumuladas no ano passado. 

No ano passado, o Ceará contabilizou 28 mortes de mulheres grávidas e puérperas. Em menos de seis meses, o número saltou para 43, o que representa um aumento de 53,57%.

Fonte: Diário do Nordeste

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