A campanha de imunização contra a Covid-19 no Cariri revela uma espécie de “turismo pela vacina”. Mais de 50 mil caririenses foram vacinados contra a covid-19 em um município diferente do qual residem, sejam cidades na região ou fora dela. No total, 53.253 pessoas do Cariri percorreram uma média de 602 km para serem imunizadas em outros lugares, incluindo como destino os estados da Paraíba, Pernambuco, Piauí e São Paulo. No caminho inverso, as 29 cidades do Cariri aplicaram 22.348 primeiras doses em pessoas que não residem em seus territórios, inclusive moradores de Paraíba, Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro. Os dados foram coletados pelo Jornal do Cariri no painel de vacinação do Laboratório de Estatística e Ciência dos Dados (LED), da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), a partir de registros abertos no Sistema de Informações do Plano Nacional de Imunização.

Há casos em que pessoas se vacinaram em cidades de outros estados, com as quais fazem limites, como Jati, cujo território é limítrofe com São José do Belmonte (PB), Salgueiro e Verdejante (PE); Crato, que faz divisa com Exu (PE); Barro, com Cajazeiras (PB); e Campos Sales, com Fronteiras (PI). Também existe certo “turismo doméstico” pela vacina. Exemplo disso é que, do total de 7.833 doses aplicadas em Juazeiro do Norte em pessoas de outras cidades, 23% moram em Crato e 22% em Barbalha; das 1.073 pessoas que vieram de outros lugares para se vacinar em Crato, 34% residem em Juazeiro do Norte e 11% em Barbalha. Nesta última cidade, das 1.444 pessoas recebidas, 43% eram de Juazeiro do Norte e 11% de Crato.

Ainda de acordo com o painel de vacinação, há registros da presença real de turistas que se vacinaram no Cariri, visto que Caririaçu imunizou pessoas de Nova Serrana (MG), Granjeiro vacinou moradores de Santos (SP), e Tarrafas residentes em Angra dos Reis (RJ). Moradores de 23 municípios do Cariri saíram da região para se vacinar em Fortaleza, enquanto pessoas da capital cearenses se vacinaram em quatro municípios caririenses: Aurora, Juazeiro do Norte, Lavras da Mangabeira e Várzea Alegre. Secretarias de Saúde ampliam a fiscalização para evitar fraudes, enquanto o Ministério Público do Ceará orienta as gestões municipais.

Todos os 29 municípios do Cariri registram casos de vacinados “exportados”, ou seja, que receberam pessoas de outras cidades para imunização. O triângulo Crajubar é o que contabiliza a maior quantidade: 12.397 pessoas de outras cidades foram vacinadas em Crato e, para isso, percorreram uma distância média de 368 km. Na sequência estão Juazeiro do Norte, com 11.147 pessoas e média de 541 km, e Barbalha, com 5.570 pessoas e distância média de 341 km. A maior distância, segundo a  ferramenta do LED/UFAL, foi percorrida para imunização em Altaneira, que aplicou dose em 245 pessoas de fora: 1.084 km, distância maior do que ida e retorno de Altaneira para Fortaleza. Na sequência estão Potengi (977 km) e Tarrafas (963 km). A mesma ferramenta apresenta que mais de 302 mil cearenses se imunizaram em outras cidades.

Caso complexo

Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria de Saúde do Ceará explicou ser responsável pela distribuição dos imunizantes no território cearense, enquanto cabe aos municípios a aplicação das doses e a fiscalização sobre o preenchimento dos pré-requisitos de cada pessoa para imunização. Já a secretária de Saúde de Barbalha, Sayonara Cidade, tomou medida mais incisiva, ao informar que “a partir das próximas ações para este fim, somente serão vacinados aqueles cujos nomes constem na lista gerada pelo sistema Saúde Digital”. A iniciativa é tomada após a detecção de fraudes, “quando alguns cidadãos apresentaram prints com indícios de colagens de QR Code para tal fim”, como detalha a secretária.

O promotor de Justiça Eneas Romero, coordenador do Centro de Apoio Operacional da Saúde (Caosaúde), do Ministério Público do Ceará (MPCE), pondera a existência de casos em que as pessoas possuem mais de um domicílio e podem escolher entre um e outro endereço. De todo modo, a plataforma Saúde Digital permite a escolha de apenas um local para aplicação da dose. Segundo ele, inexistem denúncias sobre vacinação fora do domicílio. As queixas são de pessoas que desrespeitam a fila de imunização, declarando ser profissional da saúde ou terem comorbidades, como exemplos.

“O que deve ser feito em relação a pessoas que não são do município é a verificação no momento da vacinação. Os responsáveis pela triagem devem checar dois documentos: o que comprove se a pessoa está na idade que deve ser vacinada e, também, o comprovante de domicílio. Tendo esses documentos, a pessoa tem direito de ser vacinada naquele local. Se ela, eventualmente, falsificar um documento, pode ser um crime de falsidade para a pessoa que falsamente diz que ela reside naquele município”, recomenda o promotor Eneas Romero.

Fonte: Jornal do Cariri

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