13/07/2021

A história da psiquiatria no Brasil é marcada por episódios de desumanidade, em que, nas décadas passadas, pacientes com transtornos mentais eram vítimas de maus tratos e submetidos a técnicas violentas. Com o passar dos anos, porém, mudanças foram implantadas e conquistas alcançadas. Exemplo disso é a Lei 10.216, aprovada em 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde em mental. No Cariri, os equipamentos já existentes ganharão um novo aliado: um hospital psiquiátrico, que deve iniciar funcionamento no começo do segundo semestre de 2022.

O médico psiquiatra Thiago Macedo relata que foi através da Lei nº 10.216 que houve uma reformulação da assistência, com políticas de fechamento dos manicômios e atendimentos direcionados para Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e ambulatórios. “O tratamento para ser considerado adequado está centrado no paciente, com equipe multidisciplinar capacitada, ambiente seguro, confortável, com medicações indicadas por protocolos bem estabelecidos e visando não somente a alta, mas a estabilidade do paciente após a alta”, conta Thiago, ao destacar que o novo modelo, além de acolher o paciente e a família com o sofrimento de ambos, também procura compreender e tratar o quadro agudo da forma mais breve e eficaz possível, tendo em vista a liberdade e a autonomia na retomada da vida.


Desta forma, o psiquiatra explica que o conceito do novo hospital psiquiátrico que será instalado no Cariri é diferente daquele do passado. O equipamento terá investimento de R$ 6 milhões e estará localizado na Rua Balduíno Bezerra, no bairro de Fátima (antigo Barro Branco), em Crato. Inicialmente o empreendimento vai gerar em torno de 40 empregos diretos, além dos indiretos. As equipes contarão com variedade de profissionais necessários para esse tipo de tratamento, como psicólogos, educadores físicos, terapeutas ocupacionais e nutricionistas. O equipamento terá 30 leitos, com potencial de expansão, além de atendimentos ambulatoriais diários. A proposta é que os ambientes sejam acolhedores, minimizando a experiência traumática e estigmatizante do internamento.

O projeto prevê espaços destinados às atividades terapêuticas, de reabilitação e de convivência para os pacientes e familiares. O ambulatório terá três consultórios médicos, sala de observação e sala de eletroconvulsoterapia (ECT). O nome desta técnica, inicialmente, chega a “assustar” e pode remeter àquelas que já existiram no passado. Contudo, Thiago Macedo explica que, hoje, o procedimento é feito de outra forma, com respaldo científico, sendo o recurso considerado um dos mais eficazes e seguros para o tratamento de transtornos mentais graves.

De acordo com o psiquiatra, o procedimento é realizado na presença do psiquiatra e do anestesista, com autorização prévia do paciente ou do familiar responsável. Realizados sob o efeito de anestesia, relaxante muscular, pré-oxigenação e monitorização em tempo integral, os estímulos elétricos da ECT são aplicados em pontos específicos do crânio, induzindo o paciente a uma convulsão atenuada e controlada. “A crise convulsiva da ECT apresenta propriedades terapêuticas complexas que envolvem a regulação e liberação de neurotransmissores, fatores de proteção e regeneração neuronal, regulação do metabolismo, do fluxo sanguíneo e dos hormônios”, explica Thiago.

No hospital psiquiátrico, todos os transtornos mentais serão atendidos ambulatorialmente, ficando o internamento voltado aos casos mais graves. Inicialmente, o serviço será voltado a atendimentos privados e por convênio com planos de saúde, mas, futuramente, convênios com o sistema público também poderão ser realizados. “Alguns pacientes precisam de internamento pela gravidade, pela exposição social que um quadro agudo pode ocasionar, assim como o risco à integridade física que também é comum nesse momento da doença. Incentivar artes como música, pintura, teatro, além de yoga, musculação e outras atividades físicas serão parte desse serviço com proposta moderna”, conta o psiquiatra, ao lembrar que a família também participará do tratamento.

Com informações do Jornal do Cariri

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